domingo, 7 de setembro de 2025

ESPIRITISMO E A RESPONSABILIDADE
DAS PUBLICAÇÕES MEDIÚNICAS
- A Era do Espírito -

Introdução

A mediunidade é um dos pilares da Doutrina Espírita, conforme delineado por Allan Kardec, mas seu exercício exige seriedade, discernimento e fidelidade aos princípios evangélico doutrinários. Desde os tempos da Revista Espírita (1858-1869), Kardec advertia sobre os perigos do entusiasmo exagerado, da leviandade e da exploração dos fenômenos espirituais. Nos dias atuais, a proliferação de publicações mediúnicas — muitas vezes sem a devida base moral e doutrinária — reacende a necessidade de reflexão sobre o verdadeiro papel do Espiritismo.

Este artigo busca analisar os desvios presentes em parte da produção mediúnica contemporânea e propor, à luz da Codificação, caminhos de retorno à essência da Doutrina: a revivescência do Evangelho de Jesus como roteiro de vida e educação do espírito imortal.

A Questão da Qualidade das Obras Mediúnicas

O crescimento editorial das últimas décadas, embora revele interesse do público, nem sempre corresponde a um avanço qualitativo. Observam-se livros que:

  • atacam sistematicamente dirigentes e instituições espíritas, em prejuízo do ideal de unificação;
  • descrevem de modo mórbido regiões espirituais inferiores, exaltando o poder das trevas sem apontar soluções;
  • propagam mensagens desestimulantes, que desvalorizam o estudo e a renovação íntima;
  • exploram investigações estéreis sobre reencarnações passadas, contrariando as advertências de Kardec em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo V (“O Esquecimento do Passado”).

Essas publicações, em vez de esclarecer, geram confusão, medo e descrédito, desviando o Espiritismo de sua missão educativa e consoladora.

O Perigo das “Revelações Fantasiosas”

Kardec sempre defendeu a análise criteriosa das comunicações espirituais, alertando contra os “Espíritos pseudosábios” (O Livro dos Médiuns, cap. XXIV). No entanto, multiplicam-se obras que apresentam narrativas grotescas ou doutrinas fantasiosas, como a hipótese de resgates coletivos por “naves planetárias”. Tais ideias, além de carecerem de base científica, ferem o bom senso e expõem a Doutrina ao ridículo.

Na Revista Espírita (dezembro de 1861), Kardec já censurava os exageros e as mistificações mediúnicas, lembrando que a missão do Espiritismo não é satisfazer a curiosidade, mas iluminar a razão e formar consciências.

A Missão Moral do Espiritismo

A grande lacuna das obras superficiais está na ausência de foco sobre as Leis Morais, terceira parte de O Livro dos Espíritos. Nesse conjunto de princípios, que poderia ser chamado de verdadeira “Sociologia Espiritual”, encontram-se os temas mais urgentes para a humanidade: lei de justiça, de amor e caridade, de sociedade, de família, de reprodução, de trabalho, de igualdade.

Kardec e os Espíritos da Codificação ofereceram vasto manancial de ensinamentos que ainda carece de aprofundamento e aplicação prática. Emmanuel, André Luiz e outros benfeitores espirituais que se afinam com a Codificação não se afastaram dessa diretriz: educação moral, evangelização, responsabilidade familiar e social.

A Família e a Educação do Espírito

O esquecimento das orientações quanto à infância revela grave descuido. No item 383 de O Livro dos Espíritos, os benfeitores espirituais afirmam que a fase infantil é a mais propícia à educação moral do Espírito, porque nele ainda prevalece a maleabilidade. Daí a importância de uma ação evangelizadora precoce, que prepare a alma para os desafios da vida.

No entanto, muitos médiuns e autores se perdem em descrições mórbidas do além-túmulo, quando poderiam dedicar-se a fomentar o estudo da vida em família, da responsabilidade nos lares e da orientação dos recém-encarnados. Essa seria a verdadeira contribuição para um mundo melhor e para o Movimento Espírita.

O Verdadeiro Sucesso do Centro Espírita

Kardec lembrava que o valor do Espiritismo está em sua força moral e transformadora, não em números ou em aparências exteriores. O mesmo vale para as instituições espíritas: seu êxito não deve ser medido pela quantidade de passes ou de bens materiais distribuídos, mas pela capacidade de encaminhar almas — encarnadas e desencarnadas — na direção do Bem e da vivência do Evangelho.

Conclusão

A proliferação de publicações mediúnicas sem fundamento moral e racional ameaça a seriedade do Espiritismo. Para que a Doutrina permaneça fiel à sua missão, é indispensável retomar os critérios da Codificação: estudo metódico, discernimento crítico e fidelidade ao Evangelho de Jesus.

A Doutrina Espírita não se destina a satisfazer curiosidades nem a gerar sensacionalismo, mas a formar homens e mulheres novos, capazes de viver em fraternidade e contribuir para a regeneração da humanidade.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 1861.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1864.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).
  • XAVIER, Francisco Cândido. Os Mensageiros. Pelo espírito André Luiz. Federação Espírita Brasileira, 1944.
  • XAVIER, Francisco Cândido. A Caminho da Luz. Pelo espírito Emmanuel. Federação Espírita Brasileira, 1939.
  • PASSINI, José. “Best Sellers Mediúnicos”. Artigo.

 

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