Introdução
Desde
os primeiros anos da Codificação, Allan Kardec advertiu que o Espiritismo não
veio para destruir crenças, mas para esclarecer e restaurar, em sua pureza, a
essência moral do Evangelho de Jesus. Se, por um lado, o movimento espírita
desperta a curiosidade por meio de fenômenos mediúnicos, por outro, sua
verdadeira missão vai muito além da exterioridade dos fatos. Trata-se de uma doutrina
de consequências racionais, científicas e morais, destinada a transformar a
consciência humana e preparar a humanidade para um novo patamar de progresso.
A
questão central, portanto, não está apenas em conhecer ou admirar os fenômenos,
mas em assimilar os princípios espiritistas e cristãos na vida cotidiana,
sobretudo no seio familiar, base da formação moral da sociedade.
Espiritismo: Ciência, Filosofia e Moral
O
Espiritismo, conforme delineado por Kardec em O Livro dos Espíritos
(1857) e consolidado em suas obras posteriores, apresenta-se como ciência de
observação dos fenômenos espirituais, filosofia de consequências morais e
religião no sentido ético do termo, sem dogmas ou rituais exteriores.
É
nesse caráter tríplice que se reconhece sua missão transformadora:
- Como ciência, suscita o estudo
e a análise dos fatos mediúnicos, merecendo a atenção de nomes respeitados
da ciência, como Camille Flammarion, Charles Richet e Cesare Lombroso.
- Como filosofia, convida à
reflexão sobre a imortalidade da alma, a justiça divina e o destino do ser
humano.
- Como moral, lembra ao homem
sua ligação indissolúvel com o Criador e a necessidade de vivenciar o
Evangelho de Jesus em espírito e verdade.
A Missão Moral do Espiritismo
Na Revista
Espírita, Kardec frequentemente alertava contra os desvios de interpretação
que reduziam o Espiritismo a mera curiosidade ou espetáculo. O objetivo maior
da Doutrina é o de regenerar os costumes e restaurar a fé raciocinada.
Emmanuel,
guia espiritual que se dirigiu a Chico Xavier, reforça essa perspectiva ao
recomendar a criação de “núcleos
verdadeiramente cristãos”, onde a moral do Cristo seja praticada, e não
apenas estudada. Ele destaca a necessidade de escolas do espírito — iniciadas
no lar — para formar consciências preparadas para os desafios de um mundo em
transformação.
Essa
advertência ecoa a visão de Kardec em O Evangelho segundo o Espiritismo
(1864), no qual a lei de justiça, amor e caridade é apresentada como fundamento
da vida espiritual e social.
A Família como Núcleo de Regeneração
Grande
parte da degeneração social, como lembrado no texto-base, está ligada ao
enfraquecimento da vida moral no seio familiar. O lar é a primeira escola do
espírito; nele se moldam hábitos, valores e sentimentos que repercutem na
coletividade.
É no
ambiente doméstico que se deve iniciar a vivência do Evangelho, cultivando o
respeito, a disciplina, o diálogo e a solidariedade. Emmanuel ressalta que “urge a criação de escolas cristãs nos
lares”, compreendendo que a transformação da sociedade somente se dará pela
renovação moral de cada indivíduo, refletida nas relações familiares.
A Transformação Íntima como Caminho
Aceitar
o Espiritismo não significa apenas conhecer seus princípios, mas vivê-los. O
desafio maior não é o de o homem aceitar o Espiritismo, mas de o Espiritismo
aceitar o homem — isto é, de o indivíduo estar disposto a transformar-se
interiormente, abandonando vícios, egoísmo e interesses materiais que o afastam
da lei de amor.
Kardec,
em O Céu e o Inferno (1865), apresenta inúmeros testemunhos espirituais
que confirmam a importância da transformação íntima como condição de felicidade
futura. Emmanuel, em sintonia com a Codificação, insiste que a renovação moral
começa pelo coração, irradiando-se para a família e, consequentemente, para a
sociedade.
Conclusão
O
Espiritismo é movimento de renovação racional e moral. Não basta admirá-lo ou
frequentá-lo; é preciso incorporá-lo na vida, no lar e nas escolhas diárias.
Sua missão, como advertiu Kardec, é preparar a humanidade para uma era de
regeneração, em que o amor substitua o egoísmo e a verdade supere as ilusões do
mundo.
Assim,
cada esforço de transformação íntima e cada gesto de educação moral no lar são
contribuições efetivas para a edificação de um mundo melhor, em consonância com
a lei divina e os ensinamentos do Cristo.
Referências
- KARDEC, Allan. O
Livro dos Espíritos. 1857.
- KARDEC, Allan. O
Evangelho segundo o Espiritismo. 1864.
- KARDEC, Allan. O
Céu e o Inferno. 1865.
- KARDEC, Allan. Revista
Espírita (1858-1869).
- VARGAS, Lauro.
“Advertências”. Revista Internacional do Espiritismo, dez. 1994.
- XAVIER, Francisco
Cândido. Caminho, Verdade e Vida. Pelo espírito Emmanuel. Federação
Espírita Brasileira, 1948.
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