“Saber
é o supremo bem, e todos os males provêm da ignorância.” —
Léon Denis, No Invisível
A célebre frase de Léon Denis, um dos grandes
continuadores do pensamento espírita, nos convida à reflexão profunda: todos os
males da humanidade encontram raiz na ignorância. E é justamente pela ausência
de conhecimento espiritual, moral e social que vemos se repetirem, ao longo dos
séculos, erros de natureza individual e coletiva — inclusive dentro das
instituições religiosas.
Ao relembrar nomes como Leopoldo Machado e Newton
de Barros, somos levados a refletir sobre o compromisso dos pioneiros do
movimento espírita no Brasil. Eram homens que não apenas estudavam as obras
fundamentais do Espiritismo, mas que também buscavam aplicar seus princípios na
sociedade, no ensino e na vivência cotidiana. Resgatá-los do esquecimento é um
ato de gratidão e um alerta contra o risco de nos distanciarmos do ideal
espírita genuíno.
A Casa
Espírita: Solo de Luz ou Palanque Eleitoral?
Vivemos tempos delicados, onde questões morais e
éticas são frequentemente absorvidas por discursos políticos ou polarizados por
ideologias. É preciso vigilância para que a Casa Espírita não se transforme
em um comitê de campanha ou em espaço de propaganda partidária. A Doutrina
Espírita é neutra em relação a partidos e candidaturas, mas isso não significa
alienação.
O Espiritismo propõe uma transformação do
indivíduo, e essa transformação alcança o mundo. O espírita é um agente de
mudança e não pode se omitir diante dos desafios coletivos. Participar da
vida social é parte de sua missão como espírito encarnado. Como nos ensina Allan
Kardec, a verdadeira caridade inclui também a coragem moral de defender o
bem, ainda que em oposição aos interesses materiais ou ideológicos.
Voto
Consciente: Uma Escolha Moral
A responsabilidade do voto é uma extensão da nossa
consciência. Muitos se afastam da política alegando que “nada muda”, esquecendo-se
de que o futuro coletivo é a soma das escolhas individuais. Como nos lembra a
reflexão do professor Newton de Barros, "o rumo que o país tomar
será o reflexo do político que você escolheu". Assim, o voto não é apenas
um direito, mas um dever moral.
No entanto, é preciso avaliar mais do que palavras:
observar condutas, compromissos, coerência e, sobretudo, valores éticos.
Um exemplo é Zaqueu, da narrativa evangélica: um homem que se arrepende,
reconhece seus erros e se dispõe a reparar os danos causados. Um candidato
ideal não é o perfeito, mas aquele que demonstra consciência, responsabilidade
e desprendimento do poder e do ter.
Espiritismo,
Política e Materialismo
O alerta do professor Newton sobre a decadência das
religiões que se associam ao poder temporal permanece atual. A espiritualidade
genuína não se curva aos interesses do mundo, tampouco se vende à ambição pelo
domínio político. Quando a religião deixa de ser força espiritualizante para
tornar-se instrumento de poder, perde sua essência.
Essa análise se aplica não apenas às religiões
tradicionais, mas também ao movimento espírita. O Espiritismo deve manter-se
fiel à sua proposta de iluminar consciências, nunca de instrumentalizar
estruturas para interesses terrenos. E quando políticos, religiosos ou grupos
influentes defendem práticas contrárias aos valores do Espírito imortal — como
o aborto sob justificativas materialistas —, é dever do espírita manter-se
firme em seus princípios.
A Vida e
o Espírito: Reflexão sobre o Aborto
O Espiritismo reconhece a vida como um dom
divino, iniciado na concepção, e vê o aborto voluntário como uma transgressão
das Leis Morais, salvo nos casos excepcionais em que a vida da gestante
está em risco. A banalização da vida intrauterina é fruto da visão
materialista, que enxerga o corpo como o todo do ser humano, ignorando a
realidade do Espírito.
Recordar os ensinamentos da Doutrina Espírita sobre
a imortalidade da alma, a reencarnação e o progresso moral
é fundamental para resistirmos aos argumentos que visam legitimar a supressão
da vida por conveniência. A defesa da vida, desde o seu princípio, é um dever
que nasce da compreensão espiritual da existência.
Conclusão:
O Compromisso do Espírita com o Saber e a Coerência
A Doutrina Espírita nos convida a estudar,
refletir, agir e, sobretudo, a não sermos coniventes com os erros de ontem.
Como alertava Newton de Barros, quando a fé perde sua espiritualidade e se
mescla ao poder temporal, desvia-se de sua missão.
O espírita consciente atua na sociedade com
responsabilidade, mas jamais transforma sua religião em plataforma política.
A Casa Espírita é espaço de acolhimento, estudo, serviço e consolo — não de
ideologias ou disputas. Participar da vida política é um dever, sim — mas com ética,
discernimento e valores elevados, sempre com base na fé raciocinada e no
Evangelho do Cristo.
Lembremos, pois, que “fora da caridade não há
salvação” — e caridade é também o esforço de iluminar consciências,
defendendo a vida, a justiça e a verdade com coragem, mas sem fanatismo. Saber
é o bem supremo — e o conhecimento verdadeiro nos liberta da ignorância e
nos conduz ao amor que edifica.
Denis, Léon. No Invisível. 7ª ed. Rio de Janeiro: FEB, p. 341.
Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XV, item 5: "Fora da caridade não há salvação".
Formiga, Luiz Carlos D. Aborto, Políticos, Religiosos e Materialistas.
Leopoldo Machado. O Consolador – Personalidades.
“Seria eu, por acaso, um Espírito?”
Versão em português
Versão em inglês
Versão em espanhol
Formiga, L.C. Eleição? Aborto.
Evangelho de Lucas 19:8 — Referência a Zaqueu: "Dou aos pobres a metade dos meus bens..."
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