terça-feira, 29 de julho de 2025

CONHECIMENTO, CONSCIÊNCIA E RESPONSABILIDADE: UMA REFLEXÃO ESPÍRITA SOBRE POLÍTICA, ABORTO E O PAPEL DO ESPÍRITA NA SOCIEDADE
- A Era do Espírito –
 

“Saber é o supremo bem, e todos os males provêm da ignorância.”Léon Denis, No Invisível

A célebre frase de Léon Denis, um dos grandes continuadores do pensamento espírita, nos convida à reflexão profunda: todos os males da humanidade encontram raiz na ignorância. E é justamente pela ausência de conhecimento espiritual, moral e social que vemos se repetirem, ao longo dos séculos, erros de natureza individual e coletiva — inclusive dentro das instituições religiosas.

Ao relembrar nomes como Leopoldo Machado e Newton de Barros, somos levados a refletir sobre o compromisso dos pioneiros do movimento espírita no Brasil. Eram homens que não apenas estudavam as obras fundamentais do Espiritismo, mas que também buscavam aplicar seus princípios na sociedade, no ensino e na vivência cotidiana. Resgatá-los do esquecimento é um ato de gratidão e um alerta contra o risco de nos distanciarmos do ideal espírita genuíno.

A Casa Espírita: Solo de Luz ou Palanque Eleitoral?

Vivemos tempos delicados, onde questões morais e éticas são frequentemente absorvidas por discursos políticos ou polarizados por ideologias. É preciso vigilância para que a Casa Espírita não se transforme em um comitê de campanha ou em espaço de propaganda partidária. A Doutrina Espírita é neutra em relação a partidos e candidaturas, mas isso não significa alienação.

O Espiritismo propõe uma transformação do indivíduo, e essa transformação alcança o mundo. O espírita é um agente de mudança e não pode se omitir diante dos desafios coletivos. Participar da vida social é parte de sua missão como espírito encarnado. Como nos ensina Allan Kardec, a verdadeira caridade inclui também a coragem moral de defender o bem, ainda que em oposição aos interesses materiais ou ideológicos.

Voto Consciente: Uma Escolha Moral

A responsabilidade do voto é uma extensão da nossa consciência. Muitos se afastam da política alegando que “nada muda”, esquecendo-se de que o futuro coletivo é a soma das escolhas individuais. Como nos lembra a reflexão do professor Newton de Barros, "o rumo que o país tomar será o reflexo do político que você escolheu". Assim, o voto não é apenas um direito, mas um dever moral.

No entanto, é preciso avaliar mais do que palavras: observar condutas, compromissos, coerência e, sobretudo, valores éticos. Um exemplo é Zaqueu, da narrativa evangélica: um homem que se arrepende, reconhece seus erros e se dispõe a reparar os danos causados. Um candidato ideal não é o perfeito, mas aquele que demonstra consciência, responsabilidade e desprendimento do poder e do ter.

Espiritismo, Política e Materialismo

O alerta do professor Newton sobre a decadência das religiões que se associam ao poder temporal permanece atual. A espiritualidade genuína não se curva aos interesses do mundo, tampouco se vende à ambição pelo domínio político. Quando a religião deixa de ser força espiritualizante para tornar-se instrumento de poder, perde sua essência.

Essa análise se aplica não apenas às religiões tradicionais, mas também ao movimento espírita. O Espiritismo deve manter-se fiel à sua proposta de iluminar consciências, nunca de instrumentalizar estruturas para interesses terrenos. E quando políticos, religiosos ou grupos influentes defendem práticas contrárias aos valores do Espírito imortal — como o aborto sob justificativas materialistas —, é dever do espírita manter-se firme em seus princípios.

A Vida e o Espírito: Reflexão sobre o Aborto

O Espiritismo reconhece a vida como um dom divino, iniciado na concepção, e vê o aborto voluntário como uma transgressão das Leis Morais, salvo nos casos excepcionais em que a vida da gestante está em risco. A banalização da vida intrauterina é fruto da visão materialista, que enxerga o corpo como o todo do ser humano, ignorando a realidade do Espírito.

Recordar os ensinamentos da Doutrina Espírita sobre a imortalidade da alma, a reencarnação e o progresso moral é fundamental para resistirmos aos argumentos que visam legitimar a supressão da vida por conveniência. A defesa da vida, desde o seu princípio, é um dever que nasce da compreensão espiritual da existência.

Conclusão: O Compromisso do Espírita com o Saber e a Coerência

A Doutrina Espírita nos convida a estudar, refletir, agir e, sobretudo, a não sermos coniventes com os erros de ontem. Como alertava Newton de Barros, quando a fé perde sua espiritualidade e se mescla ao poder temporal, desvia-se de sua missão.

O espírita consciente atua na sociedade com responsabilidade, mas jamais transforma sua religião em plataforma política. A Casa Espírita é espaço de acolhimento, estudo, serviço e consolo — não de ideologias ou disputas. Participar da vida política é um dever, sim — mas com ética, discernimento e valores elevados, sempre com base na fé raciocinada e no Evangelho do Cristo.

Lembremos, pois, que “fora da caridade não há salvação” — e caridade é também o esforço de iluminar consciências, defendendo a vida, a justiça e a verdade com coragem, mas sem fanatismo. Saber é o bem supremo — e o conhecimento verdadeiro nos liberta da ignorância e nos conduz ao amor que edifica.

Referências:
Denis, Léon. No Invisível. 7ª ed. Rio de Janeiro: FEB, p. 341.
Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XV, item 5: "Fora da caridade não há salvação".
Formiga, Luiz Carlos D. Aborto, Políticos, Religiosos e Materialistas.
Leopoldo Machado. O Consolador – Personalidades.
“Seria eu, por acaso, um Espírito?”
Versão em português
Versão em inglês
Versão em espanhol
Formiga, L.C. Eleição? Aborto.
Evangelho de Lucas 19:8 — Referência a Zaqueu: "Dou aos pobres a metade dos meus bens..."

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