segunda-feira, 15 de setembro de 2025

POLARIZAÇÃO POLÍTICA E EXTREMISMOS
À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA
- A Era do Espírito -

Introdução

Vivemos um momento histórico marcado por forte polarização política. Em diferentes países, inclusive no Brasil, o debate público tem se reduzido a uma disputa entre esquerda e direita, frequentemente carregada de extremismos, violência e ataques pessoais. De ambos os lados, há casos de mortes, agressões físicas e verbais, além da disseminação de narrativas distorcidas utilizadas como propaganda partidária.

A questão não é apenas política, mas profundamente moral. A intolerância e o fanatismo revelam a dificuldade humana em compreender o outro e em lidar com as diferenças de opinião. Nesse contexto, a Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, oferece elementos preciosos para interpretar o momento atual e apontar caminhos de pacificação social, sem alinhar-se a ideologias partidárias, mas fundamentando-se na ética universal e no progresso espiritual.

A ilusão das narrativas e a verdade dos fatos

Kardec alerta em O Livro dos Médiuns que os Espíritos imperfeitos exploram as paixões humanas, fomentando enganos e ilusões. Analogamente, as narrativas políticas, quando manipuladas, afastam as pessoas da verdade, estimulando a cegueira ideológica. A Revista Espírita de dezembro de 1868 ressalta que “a mentira, repetida com habilidade, torna-se instrumento de dominação”, mostrando que a manipulação da opinião pública não é fenômeno novo, mas persiste em diferentes épocas.

O Espiritismo nos convida à análise racional e à busca dos fatos, sem nos deixarmos conduzir por paixões cegas. O método espírita, baseado na universalidade e na concordância dos ensinos dos Espíritos, mostra que a verdade não é fruto de imposição, mas da convergência de evidências.

O fanatismo como entrave ao progresso moral

Na Revista Espírita de março de 1860, Kardec observa que o fanatismo religioso e político é uma das maiores causas de divisão e violência na humanidade. Para ele, o fanático acredita servir a um ideal elevado, mas na verdade serve a si mesmo e às suas paixões. Essa análise continua atual: quando a defesa de uma ideologia, seja de esquerda ou de direita, transforma-se em justificativa para ódio e violência, perde-se o sentido de justiça e de fraternidade.

O Evangelho segundo o Espiritismo (cap. XXIV) alerta contra a tentação de confundir a causa de Deus com causas humanas. O mesmo se aplica à política: não se pode tomar um partido como se fosse o portador exclusivo da verdade ou do bem. A verdadeira missão do Espírito encarnado é exercitar a razão e o amor, não perpetuar a violência.

A responsabilidade individual diante da coletividade

Na obra A Gênese (cap. XVIII), Kardec afirma que as crises sociais fazem parte do progresso da humanidade, funcionando como meios de renovação. Contudo, cada indivíduo é chamado a participar dessa transformação de forma responsável. A polarização atual demonstra que muitos ainda cedem ao egoísmo e ao orgulho, recusando-se ao diálogo e à construção de consensos.

A Doutrina Espírita nos ensina, em O Livro dos Espíritos (questões 132 a 133), que estamos na Terra para aprender e progredir. Isso implica utilizar o livre-arbítrio para promover a justiça e a paz, não para ampliar divisões. O Espírito que se deixa dominar pelo ódio político compromete não apenas a harmonia social, mas também seu próprio futuro espiritual, uma vez que a lei de causa e efeito responde às nossas ações e intenções.

O papel da tolerância e da fraternidade

O Espiritismo não se alia a partidos, mas defende valores universais. Como Kardec escreve em O que é o Espiritismo, a Doutrina respeita a liberdade de consciência e não se impõe. Esse princípio é essencial para superar os extremismos: somente pelo respeito às diferenças é possível avançar para uma convivência pacífica.

No contexto atual, pesquisas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e de universidades brasileiras mostram o aumento de crimes motivados por ódio político e polarização. Esses dados evidenciam a urgência de uma ética que vá além das ideologias e una os indivíduos pelo reconhecimento de sua condição comum de Espíritos imortais em aprendizado.

Conclusão

O momento atual de polarização política deve ser compreendido como uma oportunidade de crescimento moral coletivo. A Doutrina Espírita nos lembra que os extremismos, sejam de esquerda ou de direita, são expressões do orgulho e do egoísmo ainda enraizados na humanidade. O verdadeiro progresso não virá de narrativas manipuladas, mas do exercício da razão, da fraternidade e da tolerância.

Como escreveu Kardec na Revista Espírita de abril de 1861: “O Espiritismo não é a obra de um partido, mas da humanidade inteira; não vem servir a paixões transitórias, mas preparar o reino da fraternidade universal.”

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 1861.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1864.
  • KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 1865.
  • KARDEC, Allan. A Gênese. 1868.
  • KARDEC, Allan. O que é o Espiritismo. 1859.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).
  • IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Relatórios sobre violência e polarização política no Brasil, 2022-2024.
  • Dados de pesquisas acadêmicas em ciência política e sociologia publicados em periódicos nacionais e internacionais (2021-2024).

 

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