Introdução
Na
medicina contemporânea, a expressão “Medicina Baseada em Evidências” se refere
à aplicação rigorosa do método científico em diagnósticos, tratamentos e
práticas de saúde. Nessa abordagem, procedimentos tradicionais ou populares só
são validados após passarem por criteriosa verificação experimental.
No
entanto, nem todos os campos do conhecimento permitem repetir fenômenos de maneira
controlada e previsível. Nas ciências sociais, por exemplo, a multiplicidade de
variáveis humanas dificulta a padronização de experiências. O mesmo ocorre na
Astronomia ou Meteorologia, em que fenômenos não podem ser reproduzidos sob
demanda.
O Espiritismo,
codificado por Allan Kardec, surge em um campo semelhante: a investigação de
fenômenos que envolvem a consciência e a sobrevivência da alma. Embora não se
enquadrem no mesmo tipo de experimentação laboratorial das ciências físicas,
esses fenômenos podem ser estudados com método, raciocínio crítico e repetição
de observações — a base do chamado método espírita.
1. Ciência, hipótese e método no Espiritismo
Kardec,
em O Evangelho Segundo o Espiritismo, afirma que “a fé só é inabalável quando pode encarar a razão face a face, em todas
as épocas da humanidade”. O Espiritismo, portanto, não se apoia apenas na
aceitação cega, mas na análise e na comparação de fatos.
Tal
como em qualquer área científica, parte-se de hipóteses para explicar fenômenos
observados. Entre elas, pode estar aquela que muitos chamariam de “hipótese do
absurdo”: a alma é imortal e o espírito sobrevive à morte física, mantendo
identidade, memória e capacidade de comunicação.
Essa
hipótese, aparentemente improvável à primeira vista, é examinada por Kardec com
o mesmo rigor aplicado a qualquer fenômeno natural: observa-se, coleta-se
testemunhos, analisa-se a coerência das comunicações, compara-se com outros
casos e com princípios já estabelecidos.
2. A experiência pessoal: um caso de possível
comunicação espiritual
Um
caso relatado por Luiz Carlos Formiga exemplifica esse processo investigativo.
Ao receber convite para falar sobre aborto em um programa de TV, sentiu-se
incomodado devido a experiências pessoais dolorosas.
Em
casa, surgiu-lhe no pensamento uma frase clara: “Está com medo?” — voz que reconheceu como a de Marcondinho, um
amigo já falecido e marcado por deformidades causadas pela hanseníase.
A
“inspiração” sugeria que, no programa, fosse dito: “Hanseníase tem cura.” Coincidência ou não, durante a transmissão
houve espaço para incluir essa mensagem, conectando-a a dados científicos sobre
a doença.
Antes
do programa, outro elemento se somou: o médium vidente Dr. Reynaldo Leite, que
não conhecia o narrador, descreveu espontaneamente a aparição de um espírito
com deformidades, que depois se transfigurou em luz — descrição compatível com
a imagem de Marcondinho.
3. Análise segundo o método espírita
O método
espírita, como proposto por Kardec, sugere alguns passos para avaliar casos
como esse:
- Observação do fato
- Há um evento
inicial: percepção mental de uma voz conhecida.
- Confirmação
externa: descrição do espírito por um terceiro que desconhecia a
história.
- Eliminação de
causas ordinárias
- Autossugestão ou
memória? Possível, mas o médium vidente reforça a hipótese de
comunicação.
- Coincidência?
Estatisticamente possível, mas menos provável quando há acertos precisos.
- Comparação com
casos análogos
- A literatura
espírita contém inúmeros registros semelhantes (O Livro dos Médiuns,
cap. VI e VII).
- Formulação da
hipótese mais plausível
- Espírito
desencarnado comunicando-se de modo indireto (inspiração mental) e direto
(vidência mediúnica).
4. O aspecto moral e a utilidade da comunicação
Kardec
enfatiza que a utilidade moral é um dos critérios para avaliar a autenticidade
de uma comunicação. Aqui, a mensagem teve caráter altruísta e educativo
— divulgar que a hanseníase tem cura, combatendo preconceito e incentivando o
tratamento.
Essa
finalidade é compatível com a ação dos bons espíritos, que, segundo O
Evangelho segundo o Espiritismo (cap. XXVII), “nos assistem para o bem”.
5. Reflexão final
Assim
como a medicina baseada em evidências busca validar práticas pelo crivo da
experiência, o Espiritismo convida à análise racional e metódica dos fenômenos
espirituais.
A
chamada “hipótese do absurdo” — a sobrevivência da alma e sua capacidade de
comunicação —, quando submetida ao método espírita, deixa de ser absurda e se
torna a explicação mais coerente para uma série de fatos observados.
O
convite que fica ao leitor é o mesmo que Kardec fez em 1859: observar,
comparar, raciocinar — e manter a mente aberta, sem excluir hipóteses antes de
examiná-las.
Referências
- KARDEC, Allan. O
Livro dos Médiuns. 2ª parte, cap. III a VII.
- KARDEC, Allan. O
Evangelho segundo o Espiritismo, Capítulo XIX, item 7.
- KARDEC, Allan. A
Gênese. Cap. I e XV.
- KARDEC, Allan. O
Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. XXVII.
- FORMIGA, Luiz
Carlos. “Absurdas Hipóteses”. espirito.org.br.
- LEITE, Reynaldo.
Relatos sobre percepção mediúnica (caso Marcondinho).
- EMMANUEL. A
Caminho da Luz. FEB.
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