A
história real de um menino de sete anos, silencioso à sombra do irmão
gravemente enfermo, nos convida a refletir, com profundo respeito, sobre as
dores silenciosas que às vezes passam despercebidas, até mesmo aos olhos mais
atentos. Inspirada por um relato da Dra. Elisabeth Kübler-Ross, renomada médica
que lidava com pacientes terminais, esta narrativa revela não apenas a angústia
de uma família diante da doença, mas também o drama oculto do "filho
saudável" — aquele que, por não estar em situação crítica, passa a se
sentir invisível.
O Sofrimento Invisível e a Justiça do Amor
Segundo
a Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, todos os Espíritos são filhos
de Deus, criados simples e ignorantes, com igual destinação à perfeição (cf. O
Livro dos Espíritos, questões 115 e 132). Assim, não há alma que valha mais
do que outra, nem encarnação mais digna de amor que a outra. No contexto
familiar, essa verdade se manifesta na forma de justiça, equilíbrio e amor
incondicional.
A dor
dos pais que assistem a um filho doente é compreensível e natural. Mas, ao
direcionarem toda sua atenção e afeto a esse filho, podem inadvertidamente
causar sofrimento ao outro. O irmão saudável, vendo-se esquecido, sente-se
menos amado — e o amor, para a criança, é o alimento essencial da alma.
Na
história citada, o menino, sentindo-se preterido, passou a desejar adoecer,
como se a doença fosse o único caminho para ser notado. Essa distorção, embora
infantil, é profundamente séria. Segundo o Espiritismo, as emoções têm forte
influência sobre o corpo físico, e a mente pode contribuir para o surgimento de
doenças psicossomáticas (A Gênese, cap. XIV, item 31). A ausência de
amor pode gerar desequilíbrios profundos, tanto no Espírito quanto no
organismo.
O Espírito da Criança e Suas Necessidades
Emocionais
O
Espírito reencarnado numa criança já traz consigo experiências e tendências de
vidas passadas. No entanto, ao renascer, encontra-se em fase de adaptação,
sensível às influências do ambiente em que vive. É durante esse período que se moldam
emoções, valores e percepções sobre si mesmo e sobre os outros.
Ao se
sentir rejeitado ou ignorado, o Espírito infantil pode gravar em si marcas que
o acompanharão ao longo da vida. Podem surgir sentimentos de inferioridade,
raiva, ciúmes, ou culpa — sementes de futuros conflitos íntimos, que o Espírito
terá de resolver no tempo.
Kardec
nos orienta sobre a importância da educação moral desde os primeiros anos de
vida (O Livro dos Espíritos, questão 385). E educar, neste caso, não é
apenas ensinar regras, mas garantir às crianças a certeza de que são amadas,
valiosas e amparadas — não por serem “melhores”, “mais doentes” ou “mais
inteligentes”, mas simplesmente por serem filhos de Deus e merecedores de amor.
O Amor Incondicional: Caminho para a Cura Moral
A
lição que essa história nos traz é clara: todas as crianças precisam se sentir
amadas. O amor não pode ser condicionado a comportamentos, doenças ou
conquistas. O verdadeiro amor — aquele que edifica e cura — é constante, firme,
silencioso e presente. É a expressão mais pura da Lei de Justiça, Amor e
Caridade (cf. O Livro dos Espíritos, questão 886).
É
também um chamado à vigilância de pais, cuidadores e educadores, para que
estejam atentos aos silêncios, aos olhares tristes, aos pedidos não expressos.
Muitas vezes, a alma mais doente não está no leito, mas à janela.
A Prevenção do Sofrimento Futuro
Crianças
que crescem acreditando que precisam sofrer para serem valorizadas poderão
carregar isso para a vida adulta. Poderão adoecer emocionalmente ou até
fisicamente, como forma de atrair atenção. Poderão tornar-se adultos inseguros,
carentes ou manipuladores — não por maldade, mas por não terem aprendido o que
é amor verdadeiro.
O
Espiritismo, com sua visão integral do ser, nos ensina que o amor é o maior
remédio da alma. Quando distribuímos esse amor de forma justa e fraterna,
promovemos não apenas o equilíbrio do lar, mas a evolução dos Espíritos que
dele fazem parte.
Conclusão
A vida
em família é uma oportunidade sagrada de aprendizado e crescimento mútuo. Cada
filho é um Espírito em jornada, com suas dores, necessidades e missão. Cuidar
de um não pode significar esquecer o outro.
Amemos com equilíbrio. Valorizemos todos. Façamos com que cada criança cresça com a certeza de que não precisa adoecer para ser importante, nem competir por afeto. Ensinar que o amor é incondicional é um dos maiores legados que podemos deixar — um verdadeiro antídoto contra futuras dores emocionais.
Referências:KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Questões 115, 132, 385, 886.
KARDEC, Allan. A Gênese. Cap. XIV, item 31.
KÜBLER-ROSS, Elisabeth. O Túnel e a Luz, cap. "O casulo e a borboleta". Ed. Verus.
Federação Espírita do Paraná. Momento Espírita. Disponível em:
momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=3171&stat=0
Nenhum comentário:
Postar um comentário