quinta-feira, 24 de julho de 2025

ZÉ ARIGÓ E A MEDIUNIDADE DE CURA
À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA
- A Era do Espírito –

1. Quem foi Zé Arigó e o que fazia?

José Pedro de Freitas, mais conhecido como Zé Arigó, foi um dos médiuns mais notáveis do Brasil, especialmente nas décadas de 1950 e 1960. Natural de Congonhas do Campo (MG), ficou conhecido por realizar supostas cirurgias espirituais em transe mediúnico, sob a alegada incorporação do Espírito de um médico alemão, identificado como Dr. Fritz.

Sem instrumentos sofisticados ou técnicas da medicina convencional, Arigó atendia centenas de pessoas por dia em condições modestas, utilizando objetos simples, como canivetes ou bisturis, muitas vezes sem anestesia ou assepsia. Seu trabalho despertou tanto admiração quanto controvérsias — mas, acima de tudo, deixou marcas profundas na história do Espiritismo no Brasil.

2. A Mediunidade de Cura na Doutrina Espírita

Segundo O Livro dos Médiuns (capítulos XIV e XXXII), a mediunidade de cura é uma das muitas formas de manifestação mediúnica. Ela pode se manifestar de diversas maneiras:

  • Pela imposição das mãos, com transmissão de fluidos benéficos;
  • Por passes magnéticos ou espirituais;
  • Pela inspiração ou incorporação de Espíritos benfeitores, que realizam ou orientam os procedimentos de cura por meio do médium.

A Doutrina Espírita explica que essas curas ocorrem por mecanismos fluídicos naturais, e não milagrosos. Tudo obedece às leis da natureza, ainda que não plenamente conhecidas pela ciência humana.

"A cura pode ser obtida pela transmissão de um fluido salutar ao doente. O fluido cura substituindo um fluido doente ou expulsando esse fluido doente. Esse é o princípio dos passes e da cura magnética."
(O Livro dos Médiuns, cap. XIV)

3. Sobre o Espírito “Dr. Fritz”

A Doutrina Espírita ensina que os Espíritos devem ser julgados pelo teor moral e intelectual de suas comunicações, e não pelo nome que adotam. Allan Kardec adverte que muitos Espíritos mistificadores ou pseudo-sábios utilizam nomes famosos para causar impacto e enganar.

No caso do Dr. Fritz, algumas questões se destacam:

  • Não há comprovação histórica consistente de sua identidade como médico alemão;
  • Seus métodos chocavam por utilizar instrumentos rudimentares e não higienizados;
  • Após o desencarne de Arigó, outros médiuns também passaram a alegar incorporar o mesmo Espírito, embora com estilos e posturas muito diferentes — o que sugere uma falange espiritual coletiva, e não uma individualidade única.

Mais importante do que o nome é o fruto da ação mediúnica: o bem praticado, o consolo oferecido e o respeito às Leis Divinas.

4. Os Riscos e os Cuidados com Fenômenos Extraordinários

A Doutrina Espírita não se baseia no sensacionalismo. Ao contrário, Kardec orienta sempre o uso da razão, do bom senso e do critério moral ao analisar fenômenos extraordinários, como curas imediatas ou manifestações físicas.

"É preciso julgar os Espíritos pela linguagem que empregam e pelas ações que aconselham. Os bons jamais ordenam ou impõem; eles aconselham, e sempre para o bem."
(O Livro dos Médiuns, item 267)

Portanto, mesmo que um fenômeno pareça impressionante, ele deve ser examinado à luz da lógica, da moral evangélica e das leis naturais.

5. A Mediunidade como Missão e Provação

A mediunidade, especialmente a de cura, não é um privilégio, mas uma responsabilidade. Ela pode ser uma missão de auxílio, mas também uma provação severa, exigindo vigilância, estudo, humildade e caridade constantes.

Zé Arigó, mesmo com suas limitações humanas, parece ter cumprido sua tarefa com sinceridade e desejo de ajudar os necessitados. Se agiu com boa intenção e dedicou-se ao bem, segundo a lei de causa e efeito, receberá os méritos devidos.

Por outro lado, a mediunidade sem preparo, sem conhecimento ou voltada para a vaidade e o orgulho, pode gerar consequências dolorosas tanto para o médium quanto para aqueles que dele se aproximam.

6. Conclusão: Um Fenômeno à Luz da Razão e da Caridade

Zé Arigó é uma figura singular na espiritualidade brasileira. Sua atuação mediúnica, ainda cercada de mistérios, precisa ser compreendida com equilíbrio, sem idolatria e sem desprezo, mas com o discernimento que Kardec tanto recomendou.

A Doutrina Espírita ensina que os fenômenos espirituais não devem ser vistos como mágicos ou sobrenaturais. Eles são manifestações da vida espiritual, regidas por leis naturais, e seu verdadeiro valor está no amor ao próximo, na prática do bem e no progresso moral.

Que a vida e a obra de Zé Arigó nos inspirem a servir com humildade, a estudar com seriedade e a manter sempre acesa a luz da fé raciocinada.

Referências Doutrinárias

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos – questões 1, 27, 55, 159, 459, 625.
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns – Segunda Parte, cap. XIV (Médiuns Curadores) e cap. XXXI (Dissertações Espíritas).
KARDEC, Allan. A Gênese – cap. XIV: Os Fluidos.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo – cap. VI (O Cristo Consolador) e XIII (Não saiba a tua mão esquerda o que dá a tua mão direita).
KARDEC, Allan. Revista Espírita – diversos relatos sobre médiuns curadores.
XAVIER, Francisco Cândido. Nos Domínios da Mediunidade – pelo Espírito André Luiz.
XAVIER, Francisco Cândido. Missionários da Luz – idem.
SITES: Wikipédia; Museu da Imagem e Memória de Congonhas; Centro Espírita Amor e Caridade Santarritense.

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