1. Quem foi Zé Arigó e o que
fazia?
José Pedro de Freitas, mais conhecido como Zé
Arigó, foi um dos médiuns mais notáveis do Brasil, especialmente nas
décadas de 1950 e 1960. Natural de Congonhas do Campo (MG), ficou conhecido por
realizar supostas cirurgias espirituais em transe mediúnico, sob a
alegada incorporação do Espírito de um médico alemão, identificado como
Dr. Fritz.
Sem instrumentos sofisticados ou técnicas da
medicina convencional, Arigó atendia centenas de pessoas por dia em condições
modestas, utilizando objetos simples, como canivetes ou bisturis, muitas vezes
sem anestesia ou assepsia. Seu trabalho despertou tanto admiração quanto
controvérsias — mas, acima de tudo, deixou marcas profundas na história do
Espiritismo no Brasil.
2. A Mediunidade de Cura na
Doutrina Espírita
Segundo O Livro dos Médiuns (capítulos XIV e
XXXII), a mediunidade de cura é uma das muitas formas de manifestação
mediúnica. Ela pode se manifestar de diversas maneiras:
- Pela imposição das mãos, com transmissão de fluidos
benéficos;
- Por passes magnéticos ou espirituais;
- Pela inspiração ou incorporação de Espíritos benfeitores,
que realizam ou orientam os procedimentos de cura por meio do médium.
A Doutrina Espírita explica que essas curas ocorrem
por mecanismos fluídicos naturais, e não milagrosos. Tudo obedece às
leis da natureza, ainda que não plenamente conhecidas pela ciência humana.
"A cura pode ser obtida pela transmissão de um
fluido salutar ao doente. O fluido cura substituindo um fluido doente ou
expulsando esse fluido doente. Esse é o princípio dos passes e da cura
magnética."
(O Livro dos Médiuns, cap. XIV)
3. Sobre o Espírito “Dr. Fritz”
A Doutrina Espírita ensina que os Espíritos
devem ser julgados pelo teor moral e intelectual de suas comunicações, e
não pelo nome que adotam. Allan Kardec adverte que muitos Espíritos
mistificadores ou pseudo-sábios utilizam nomes famosos para causar impacto
e enganar.
No caso do Dr. Fritz, algumas questões se destacam:
- Não há comprovação histórica consistente de sua identidade como
médico alemão;
- Seus métodos chocavam por utilizar instrumentos rudimentares e não
higienizados;
- Após o desencarne de Arigó, outros médiuns também passaram a alegar
incorporar o mesmo Espírito, embora com estilos e posturas muito
diferentes — o que sugere uma falange espiritual coletiva, e não
uma individualidade única.
Mais importante do que o nome é o fruto da ação
mediúnica: o bem praticado, o consolo oferecido e o respeito às Leis
Divinas.
4. Os Riscos e os Cuidados com
Fenômenos Extraordinários
A Doutrina Espírita não se baseia no
sensacionalismo. Ao contrário, Kardec orienta sempre o uso da razão, do bom
senso e do critério moral ao analisar fenômenos extraordinários, como curas
imediatas ou manifestações físicas.
"É preciso julgar os Espíritos pela linguagem
que empregam e pelas ações que aconselham. Os bons jamais ordenam ou impõem;
eles aconselham, e sempre para o bem."
(O Livro dos Médiuns, item 267)
Portanto, mesmo que um fenômeno pareça
impressionante, ele deve ser examinado à luz da lógica, da moral evangélica e
das leis naturais.
5. A Mediunidade como Missão e
Provação
A mediunidade, especialmente a de cura, não é um
privilégio, mas uma responsabilidade. Ela pode ser uma missão de auxílio,
mas também uma provação severa, exigindo vigilância, estudo, humildade e
caridade constantes.
Zé Arigó, mesmo com suas limitações humanas, parece
ter cumprido sua tarefa com sinceridade e desejo de ajudar os necessitados. Se
agiu com boa intenção e dedicou-se ao bem, segundo a lei de causa e efeito,
receberá os méritos devidos.
Por outro lado, a mediunidade sem preparo, sem
conhecimento ou voltada para a vaidade e o orgulho, pode gerar consequências
dolorosas tanto para o médium quanto para aqueles que dele se aproximam.
6. Conclusão: Um Fenômeno à Luz
da Razão e da Caridade
Zé Arigó é uma figura singular na espiritualidade
brasileira. Sua atuação mediúnica, ainda cercada de mistérios, precisa ser
compreendida com equilíbrio, sem idolatria e sem desprezo, mas com o discernimento
que Kardec tanto recomendou.
A Doutrina Espírita ensina que os fenômenos
espirituais não devem ser vistos como mágicos ou sobrenaturais. Eles são
manifestações da vida espiritual, regidas por leis naturais, e seu
verdadeiro valor está no amor ao próximo, na prática do bem e no progresso
moral.
Que a vida e a obra de Zé Arigó nos inspirem a servir com humildade, a estudar com seriedade e a manter sempre acesa a luz da fé raciocinada.
Referências Doutrinárias
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos – questões 1, 27, 55, 159, 459, 625.KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns – Segunda Parte, cap. XIV (Médiuns Curadores) e cap. XXXI (Dissertações Espíritas).
KARDEC, Allan. A Gênese – cap. XIV: Os Fluidos.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo – cap. VI (O Cristo Consolador) e XIII (Não saiba a tua mão esquerda o que dá a tua mão direita).
KARDEC, Allan. Revista Espírita – diversos relatos sobre médiuns curadores.
XAVIER, Francisco Cândido. Nos Domínios da Mediunidade – pelo Espírito André Luiz.
XAVIER, Francisco Cândido. Missionários da Luz – idem.
SITES: Wikipédia; Museu da Imagem e Memória de Congonhas; Centro Espírita Amor e Caridade Santarritense.
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