Uma leitura que entrelaça narrativa e
metáfora, transformando o ensinamento espírita em uma parábola viva, ideal para
palestras e estudos que tocam a razão e o coração.
Introdução
No princípio, quando o homem ainda mal compreendia
a si mesmo, o céu lhe parecia um mistério distante e a morte, um abismo
insondável. As estrelas brilhavam como sentinelas silenciosas, e a vida terrena
era tida como um único ato de um drama cujo roteiro se desconhecia.
Então, veio o Consolador prometido. Pela voz serena
e firme de Allan Kardec, o Espiritismo surgiu como luz que não fere, mas
revela; como chama que aquece e ilumina. Embora não se defina formalmente como
uma parábola, o seu conjunto de ensinamentos pode ser lido como uma grande
parábola cósmica, um relato vivo e eterno da jornada da alma.
Assim como Jesus, que falava por imagens para que
os simples e os sábios encontrassem sentido, a Doutrina Espírita apresenta, com
clareza e profundidade, a história universal de todos nós — filhos do mesmo
Pai, viajantes do mesmo infinito.
1.
Revelação de Verdades Universais por Analogias
Era uma vez… não um homem, nem um povo, mas todos
nós, Espíritos em aprendizado. No princípio, vagávamos em busca de luz,
tateando entre erros e acertos. Deus, o Autor Supremo, enviou mensageiros, e o
Cristo, Mestre por excelência, narrou parábolas para despertar a consciência.
O Espiritismo, em sua missão, prossegue essa
narrativa, mas agora abrindo as cortinas do invisível. Revela que não somos
personagens efêmeros num palco terreno, mas atores eternos de uma peça que
atravessa mundos e séculos. Assim como o semeador que espalha a semente sobre
vários solos, nós espalhamos ações, e o tempo nos devolve a colheita, conforme
a qualidade de nossa semeadura.
2. Uma
Visão Holística da Existência
Na parábola cósmica, a Terra é apenas uma das
muitas estações de viagem. Cada encarnação é como um capítulo, com cenários
diferentes e novos papéis. Às vezes, somos reis; noutras, servos; ora curamos,
ora somos curados.
O roteiro divino é vasto e inclui mundos mais
adiantados, onde o bem floresce sem espinhos, e mundos mais rudes, onde ainda
se aprende a lição da fraternidade. Assim, a vida se revela como um livro em
muitos volumes, e cada Espírito escreve suas páginas com o tinteiro de suas
escolhas e a pena de seu livre-arbítrio.
3. O
Enredo da Evolução Espiritual
Toda boa história tem um protagonista que parte de
um estado de simplicidade e enfrenta desafios até alcançar maturidade. No
enredo espiritual, esse protagonista é o Espírito imortal.
Segundo O Livro dos Espíritos, fomos criados
simples e ignorantes, mas com a capacidade de aprender. A cada existência,
somos chamados a superar provas, vencer más inclinações e praticar o amor. Os
erros, quando reconhecidos, não são fins trágicos, mas reviravoltas que nos
oferecem novos caminhos.
Assim, de vida em vida, o herói da parábola — que
somos todos nós — vai se aproximando da plenitude, compreendendo que a
verdadeira vitória não está no domínio sobre os outros, mas sobre si mesmo.
4. A Lei
de Causa e Efeito como Mecanismo Narrativo
Nenhuma parábola é completa sem mostrar que cada
ato tem consequência. No drama cósmico, essa função pertence à Lei de Causa e
Efeito. Ela é a ligação entre capítulos, a coerência do enredo, a justiça que
não falha.
Se numa página ferimos, em outra seremos convidados
a reparar; se numa linha espalhamos luz, mais adiante colheremos flores de paz.
Nada se perde, nada é esquecido: tudo se transforma em aprendizado. A dor não é
castigo, mas capítulo necessário para que a alma compreenda o valor da
harmonia.
Exemplos
Simbólicos na Jornada Espírita
- Do escuro à luz: como um viajante que sai de
um vale sombrio e encontra o sol no horizonte, o Espírito deixa a
ignorância e abraça a sabedoria.
- Céu e inferno como estados de consciência: não como lugares fixos, mas como paisagens interiores moldadas por
nossas atitudes.
- Mensagens dos Espíritos: como cartas enviadas por
amigos que já chegaram adiante, orientando o viajante sobre perigos e
atalhos do caminho.
Conclusão
Quando lemos a Doutrina Espírita como uma parábola
cósmica, percebemos que não somos meros espectadores do universo: somos
autores, coautores e protagonistas de nossa própria história.
O roteiro é grandioso, e o final, feliz para todos —
pois Deus, sendo Pai justo e amoroso, destinou a todos nós a mesma herança: a
perfeição relativa, a paz e o amor universais.
Que, ao compreender essa metáfora, despertemos para
o papel que nos cabe hoje: semear o bem, cultivar a paciência, e escrever
páginas que, um dia, possamos reler com o coração tranquilo.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB – Federação
Espírita Brasileira.
- KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. FEB.
- KARDEC, Allan. A Gênese. FEB.
- KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. FEB.
- BÍBLIA SAGRADA. João 14:2.
Nenhum comentário:
Postar um comentário