domingo, 17 de agosto de 2025

O CORPO FÍSICO: UM TESOURO DIVINO
A SERVIÇO DO ESPÍRITO
ESTUDO DOUTRINÁRIO À LUZ DA CODIFICAÇÃO ESPÍRITA
– A Era do Espírito –

Introdução

A humanidade, em todos os tempos, alimenta a ânsia pela posse de riquezas materiais. A busca desenfreada por fortuna — seja em jogos de azar, loterias, investimentos arriscados ou na exaustiva competição social — revela o anseio profundo de possuir um “tesouro” capaz de assegurar felicidade e poder. Contudo, o Criador, em sua infinita bondade, já concedeu a cada ser humano um patrimônio incomparavelmente superior a qualquer ouro ou pedras preciosas: o corpo físico.

Mais do que um organismo biológico, ele é o instrumento sagrado que permite ao Espírito manifestar-se no mundo, experimentar provas, reparar faltas e progredir intelecto-moralmente. Compreender sua natureza, respeitar seus limites e utilizá-lo com responsabilidade é um dever espiritual, que a Doutrina Espírita esclarece de maneira profunda e racional.

O corpo como instrumento do Espírito

Em O Livro dos Espíritos (questões 134 a 146), Allan Kardec apresenta a distinção entre alma, Espírito e corpo, destacando que o Espírito, para agir sobre a matéria, necessita de um envoltório: o perispírito, que por sua vez liga-se ao corpo físico. Esta união temporária tem finalidade educativa, pois, encarnado, o Espírito encontra os meios de desenvolver suas faculdades, enfrentar as vicissitudes e conquistar virtudes.

A Revista Espírita (dezembro de 1863) lembra que o corpo não é um fim em si, mas um instrumento de progresso. Comparado a um traje, pode se desgastar e se romper, mas conserva sempre a dignidade de servir ao Espírito, sendo “oficina e templo” onde este lapida suas imperfeições.

A ciência médica nos mostra a complexidade desse “traje especial”: trilhões de células organizadas, sistemas autorreguladores e mecanismos de defesa e reparação. O cérebro, com seus bilhões de neurônios, coordena funções vitais e integra as experiências da alma encarnada. Tais maravilhas demonstram que o corpo não é obra do acaso, mas resultado da ação inteligente das Leis Divinas.

A responsabilidade do Espírito com seus corpos de manifestação

O estudo “O Espírito em evolução e a responsabilidade com seus corpos de manifestação” (A Era do Espírito) aprofunda a compreensão de que o ser espiritual não dispõe apenas do corpo físico. Para viver e se expressar em diferentes planos da vida, o Espírito se serve do perispírito e, em estados mais sutis, de outros corpos perispirituais adaptados às condições do meio em que se encontra.

Essa pluralidade de corpos amplia a responsabilidade do Espírito em sua jornada evolutiva:

  • Com o corpo físico, deve zelar pela saúde, pela alimentação equilibrada, pelo repouso e pelo uso digno dos órgãos dos sentidos, evitando abusos e desgastes.
  • Com o perispírito, deve cuidar da qualidade dos pensamentos e sentimentos, pois tudo o que a alma produz em termos morais ou emocionais nele se imprime, refletindo no equilíbrio ou no desajuste futuro.
  • Como princípio inteligente em marcha para a espiritualidade plena, deve orientar sua vida para a elevação moral, preparando-se para planos mais elevados de existência, onde corpos cada vez mais sutis exigirão maior pureza de vibrações.

Kardec, em A Gênese (cap. XIV), ressalta que o pensamento é força criadora que atua diretamente sobre os fluidos, influenciando não apenas o corpo físico, mas também o perispírito. Assim, os vícios, os excessos e as paixões desordenadas impregnam o ser de fluidos deletérios, enquanto a prática do bem, a elevação moral e a disciplina íntima o vitalizam e fortalecem.

O corpo como templo e prova de amor ao Criador

Se o corpo é um instrumento concedido pela Providência Divina, cabe ao Espírito utilizá-lo com respeito e gratidão. Isso implica:

  • Evitar abusos e vícios, que o degradam e precipitam doenças;
  • Fugir da vulgarização e da exploração do corpo, lembrando que ele é morada transitória da alma imortal;
  • Praticar exercícios, cultivar hábitos saudáveis e pensamentos nobres, prolongando sua utilidade;
  • Aceitar com resignação as enfermidades inevitáveis, muitas vezes ligadas a provas ou expiações necessárias ao progresso espiritual.

Na Revista Espírita (outubro de 1866), Kardec observa que mesmo as imperfeições orgânicas podem ser recursos educativos, ensinando paciência, humildade e solidariedade. Assim, cada existência corporal é uma oportunidade ímpar de crescimento, jamais um castigo cego.

Conclusão

O verdadeiro tesouro não está nas riquezas perecíveis do mundo, mas no corpo físico — dádiva sublime que nos faculta viver, aprender e servir. Amar o corpo não significa cultuá-lo como fim, mas respeitá-lo como meio, templo e ferramenta de progresso.

Um dia, quando deixarmos este invólucro na Terra, reconheceremos que, graças a ele, conquistamos experiências preciosas para a eternidade. Que saibamos, portanto, cuidar desse patrimônio divino com sabedoria, gratidão e responsabilidade, para que se cumpra em nós a lei de amor que governa o Universo.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos.
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns.
  • KARDEC, Allan. A Gênese.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858–1869).
  • FRANCO, Divaldo P. (psicografia). Sendas Luminosas, Espírito Joanna de Ângelis. LEAL.
  • MOLLO, M. L. O Espírito em evolução e a responsabilidade com seus corpos de manifestação. Blog A Era do Espírito.
  • Obras complementares da literatura espírita.

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