Introdução
A humanidade, em todos os tempos, alimenta a ânsia
pela posse de riquezas materiais. A busca desenfreada por fortuna — seja em
jogos de azar, loterias, investimentos arriscados ou na exaustiva competição
social — revela o anseio profundo de possuir um “tesouro” capaz de assegurar
felicidade e poder. Contudo, o Criador, em sua infinita bondade, já concedeu a
cada ser humano um patrimônio incomparavelmente superior a qualquer ouro ou
pedras preciosas: o corpo físico.
Mais do que um organismo biológico, ele é o
instrumento sagrado que permite ao Espírito manifestar-se no mundo,
experimentar provas, reparar faltas e progredir intelecto-moralmente.
Compreender sua natureza, respeitar seus limites e utilizá-lo com
responsabilidade é um dever espiritual, que a Doutrina Espírita esclarece de
maneira profunda e racional.
O corpo
como instrumento do Espírito
Em O Livro dos Espíritos (questões 134 a
146), Allan Kardec apresenta a distinção entre alma, Espírito e corpo,
destacando que o Espírito, para agir sobre a matéria, necessita de um
envoltório: o perispírito, que por sua vez liga-se ao corpo físico. Esta união
temporária tem finalidade educativa, pois, encarnado, o Espírito encontra os
meios de desenvolver suas faculdades, enfrentar as vicissitudes e conquistar
virtudes.
A Revista Espírita (dezembro de 1863) lembra
que o corpo não é um fim em si, mas um instrumento de progresso.
Comparado a um traje, pode se desgastar e se romper, mas conserva sempre a
dignidade de servir ao Espírito, sendo “oficina e templo” onde este lapida suas
imperfeições.
A ciência médica nos mostra a complexidade desse
“traje especial”: trilhões de células organizadas, sistemas autorreguladores e
mecanismos de defesa e reparação. O cérebro, com seus bilhões de neurônios,
coordena funções vitais e integra as experiências da alma encarnada. Tais
maravilhas demonstram que o corpo não é obra do acaso, mas resultado da ação
inteligente das Leis Divinas.
A
responsabilidade do Espírito com seus corpos de manifestação
O estudo “O Espírito em evolução e a
responsabilidade com seus corpos de manifestação” (A Era do Espírito)
aprofunda a compreensão de que o ser espiritual não dispõe apenas do corpo
físico. Para viver e se expressar em diferentes planos da vida, o Espírito se
serve do perispírito e, em estados mais sutis, de outros corpos perispirituais
adaptados às condições do meio em que se encontra.
Essa pluralidade de corpos amplia a
responsabilidade do Espírito em sua jornada evolutiva:
- Com o corpo físico, deve zelar pela saúde,
pela alimentação equilibrada, pelo repouso e pelo uso digno dos órgãos dos
sentidos, evitando abusos e desgastes.
- Com o perispírito, deve cuidar da qualidade
dos pensamentos e sentimentos, pois tudo o que a alma produz em termos
morais ou emocionais nele se imprime, refletindo no equilíbrio ou no
desajuste futuro.
- Como princípio inteligente em marcha para a espiritualidade plena, deve orientar sua vida para a elevação moral, preparando-se para
planos mais elevados de existência, onde corpos cada vez mais sutis
exigirão maior pureza de vibrações.
Kardec, em A Gênese (cap. XIV), ressalta que
o pensamento é força criadora que atua diretamente sobre os fluidos,
influenciando não apenas o corpo físico, mas também o perispírito. Assim, os
vícios, os excessos e as paixões desordenadas impregnam o ser de fluidos
deletérios, enquanto a prática do bem, a elevação moral e a disciplina íntima o
vitalizam e fortalecem.
O corpo
como templo e prova de amor ao Criador
Se o corpo é um instrumento concedido pela
Providência Divina, cabe ao Espírito utilizá-lo com respeito e gratidão. Isso
implica:
- Evitar abusos e vícios, que o degradam e precipitam doenças;
- Fugir da vulgarização e da exploração do corpo, lembrando que ele é
morada transitória da alma imortal;
- Praticar exercícios, cultivar hábitos saudáveis e pensamentos
nobres, prolongando sua utilidade;
- Aceitar com resignação as enfermidades inevitáveis, muitas vezes
ligadas a provas ou expiações necessárias ao progresso espiritual.
Na Revista Espírita (outubro de 1866),
Kardec observa que mesmo as imperfeições orgânicas podem ser recursos
educativos, ensinando paciência, humildade e solidariedade. Assim, cada
existência corporal é uma oportunidade ímpar de crescimento, jamais um castigo
cego.
Conclusão
O verdadeiro tesouro não está nas riquezas
perecíveis do mundo, mas no corpo físico — dádiva sublime que nos faculta
viver, aprender e servir. Amar o corpo não significa cultuá-lo como fim, mas
respeitá-lo como meio, templo e ferramenta de progresso.
Um dia, quando deixarmos este invólucro na Terra,
reconheceremos que, graças a ele, conquistamos experiências preciosas para a
eternidade. Que saibamos, portanto, cuidar desse patrimônio divino com
sabedoria, gratidão e responsabilidade, para que se cumpra em nós a lei de amor
que governa o Universo.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos.
- KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns.
- KARDEC, Allan. A Gênese.
- KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858–1869).
- FRANCO, Divaldo P. (psicografia). Sendas Luminosas, Espírito
Joanna de Ângelis. LEAL.
- MOLLO, M. L. O Espírito em evolução e a responsabilidade com
seus corpos de manifestação. Blog A Era do Espírito.
- Obras complementares da literatura espírita.
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