domingo, 17 de agosto de 2025

O ESPÍRITO EM EVOLUÇÃO E A RESPONSABILIDADE
COM SEUS CORPOS DE MANIFESTAÇÃO
- A Era do Espírito –

Introdução

Na Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, encontramos uma visão integral do ser humano, que vai além da simples concepção materialista da vida. O espírito (LE, q. 23), ao percorrer sua trajetória de progresso intelectual e moral, utiliza diferentes instrumentos para se manifestar e para realizar o aprendizado que lhe cabe no universo. Dentre esses instrumentos, destacam-se o perispírito, corpo semimaterial que serve de elo entre o Espírito e a matéria, e o corpo físico, temporário e adaptado às necessidades biológicas do planeta Terra.

Compreender a importância e a função desses corpos de manifestação é reconhecer também a responsabilidade que o Espírito em evolução assume para com eles, seja em sua formação, conservação e uso, seja no respeito às Leis Naturais que regem a vida.

O Espírito e o Princípio Inteligente em Evolução

Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, ensina que o espírito (LE, q. 23) é criado simples e ignorante, e progride gradualmente pelas experiências adquiridas. Nos estágios iniciais, o que denominamos princípio inteligente manifesta-se nos reinos inferiores da criação, preparando-se para a autoconsciência.

Quando atinge a fase humana, o Espírito passa a ter plena responsabilidade moral por seus atos. Nesse ponto, a encarnação e o uso do corpo físico não são mais apenas fenômenos naturais, mas provas ou expiações, isto é, experiências pedagógicas que visam ao progresso.

O Perispírito: Corpo Espiritual de Manifestação

O perispírito é definido, em O Livro dos Médiuns e em diversas passagens da Revista Espírita, como o envoltório semimaterial do Espírito, formado a partir do fluido cósmico universal. Ele cumpre funções fundamentais:

  • No mundo espiritual: serve como forma de manifestação, permitindo que o Espírito se comunique, interaja e atue nas esferas extrafísicas.
  • Na encarnação: atua como princípio organizador do corpo físico, estabelecendo a ligação vital entre Espírito (LE, q. 76) e matéria. O corpo carnal se forma obedecendo às leis da hereditariedade e da biologia, mas é o Espírito, por meio do perispírito, que imprime sobre ele suas necessidades evolutivas e morais (cf. A Gênese, cap. XI, item 18).

Sobre a questão da memória, é importante observar: a lembrança e a consciência pertencem ao espírito (LE, q. 23), ser inteligente e pensante. O perispírito, por sua vez, é apenas veículo de transmissão das impressões. Se fosse nele a sede da memória, esta se perderia a cada mudança de envoltório fluídico quando o Espírito migra de um mundo a outro, o que contraria a observação (cf. A Gênese, cap. XIV, item 9).

Portanto, o perispírito não guarda por si mesmo os registros das experiências vividas, mas reflete e transmite ao Espírito as marcas dessas experiências, funcionando como instrumento de manifestação sensorial e fluídica.

Assim, cuidar do perispírito significa cultivar pensamentos elevados, sentimentos nobres e práticas edificantes, pois estas harmonizam sua estrutura e asseguram melhores condições para a encarnação presente e futura.

O Corpo Físico: Instrumento Biológico e Educativo

O corpo físico é o veículo que possibilita ao Espírito (LE, q.76) agir diretamente no mundo material. Sua função vai além da sobrevivência biológica:

  • Biologicamente, assegura a adaptação do Espírito ao meio terrestre, permitindo a interação com os elementos da natureza.
  • Moralmente, funciona como escola, oferecendo situações de prova, expiação ou missão.

A Revista Espírita (fevereiro de 1867) destaca que o corpo físico não deve ser visto como prisão, mas como instrumento educativo. Por isso, é dever do Espírito cuidar dele, sem, contudo, cair nos extremos do materialismo ou do desprezo.

O abuso do corpo pela sensualidade, vícios ou negligência causa não apenas doenças físicas, mas também impressões negativas no perispírito, que podem repercutir em futuras encarnações.

Responsabilidade e Cuidado

O Espírito em evolução, consciente de sua imortalidade e dos instrumentos que lhe são concedidos, assume deveres claros:

  1. Respeitar o corpo físico, preservando-o pelo equilíbrio nos hábitos e pela higiene moral.
  2. Zelar pelo perispírito, mantendo pensamentos elevados, sentimentos de fraternidade e a busca constante do bem.
  3. Reconhecer a função educativa da encarnação, compreendendo que dores e dificuldades são oportunidades de progresso e libertação.

Emmanuel, em O Consolador, explica que “o corpo é a ferramenta do Espírito”, e que somente pelo uso correto dessa ferramenta o ser pode plasmar os valores de sua evolução eterna.

Conclusão

Na Doutrina Espírita, o Espírito não é apenas um viajante no tempo; é um aprendiz diante das leis divinas. Os corpos de manifestação — perispírito e corpo físico — são recursos preciosos colocados à sua disposição para que avance no caminho do aperfeiçoamento.

Cuidar desses corpos é, portanto, um ato de responsabilidade espiritual. Significa compreender que o uso que deles fazemos repercute não apenas na existência atual, mas em todo o curso da evolução imortal.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 1861.
  • KARDEC, Allan. A Gênese. 1868.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita. 1858-1869.
  • KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 1890.
  • XAVIER, Francisco Cândido (pelo Espírito Emmanuel). O Consolador. FEB.
  • XAVIER, Francisco Cândido (pelo Espírito André Luiz). Evolução em Dois Mundos. FEB.
  • MOLLO, Elio. O Perispírito: definição, origem, natureza, propriedades, funções e questões doutrinárias à luz da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec. Blog A Era do Espírito, 2014.

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