terça-feira, 30 de setembro de 2025

AS RESPOSTAS DE DEUS E OS PEDIDOS INCONSCIENTES
- A Era do Espírito -

Introdução

A promessa de Jesus — “Tudo o que pedirdes orando, crede que o recebereis” (Mc 11:24) — é, ao mesmo tempo, fonte de esperança e de questionamentos. Se a fé remove montanhas, por que tantas vezes nossas súplicas parecem não ser atendidas? A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, esclarece essa questão ao demonstrar que Deus responde sempre, mas nem sempre como imaginamos.

O Espírito humano, em sua limitação, costuma pedir o que deseja, e não necessariamente o que lhe convém. Além disso, a cada dia, consciente ou inconscientemente, sem perceber, semeamos pensamentos e emoções que funcionam como verdadeiras preces — atraindo respostas da vida e da Lei Divina. Entender esse processo é essencial para transformar nossa relação com a oração e com as experiências que vivemos.

A oração e a sabedoria divina

Allan Kardec explica, em O Evangelho Segundo o Espiritismo (cap. XXVII, itens 5 e 7), que seria ilógico acreditar que Deus atende a todos os pedidos humanos sem discernimento. Tal atitude equivaleria a um pai inconsequente, que satisfaz caprichos nocivos dos filhos. A Providência, ao contrário, concede o que é útil ao progresso do Espírito: coragem, resignação, paciência e, sobretudo, as ideias e meios necessários para superar as dificuldades.

Assim, a prece sincera não é um passe de mágica, mas uma alavanca que nos desperta para soluções e oportunidades. Deus “assiste aos que se ajudam a si mesmos”, conforme ensina a máxima: “Ajuda-te e o céu te ajudará”.

Os pedidos inconscientes

Um ponto muitas vezes esquecido é que, além das súplicas explícitas, cada ser humano formula pedidos silenciosos, oriundos de seus pensamentos e emoções. A vida mental constante, impregnada de pessimismo, medo ou rancor, funciona como oração negativa. Como ensina o Manual de Cura da Corrente de Oração Unidade, “muitas pessoas recebem respostas a pedidos que não se lembram de haver feito”.

A Lei de Causa e Efeito, confirmada pela Doutrina Espírita e pela própria lógica universal, atua inexoravelmente: pensamentos e sentimentos são sementes que atraem frutos correspondentes. Se o homem semeia ódio, colherá perturbação; se cultiva harmonia, encontrará paz. Nesse sentido, Jó já advertia: “O que eu temia me veio” (Jó 3:25).

A pedagogia divina na resposta às preces

Deus não pune, mas permite que colhamos o resultado de nossas escolhas interiores para que aprendamos. Muitas doenças, desarmonias e frustrações não são castigos, mas consequências de pensamentos e atitudes que insistimos em alimentar. A sabedoria divina transforma até mesmo o sofrimento em recurso educativo, como o cirurgião que realiza uma operação dolorosa, mas necessária à cura.

A oração sincera, portanto, deve estar alinhada ao ensinamento de Jesus: “Pai, faça-se a Tua vontade, não a minha”. Quando o coração se abre a essa entrega, a resposta divina não falha: pode vir como consolo imediato, como inspiração de solução ou até mesmo como silêncio — que ensina paciência e fé.

Vigilância dos pensamentos: o sentido prático do “pedi e obtereis”

O ensinamento de Jesus, ampliado pelo Espiritismo, mostra que “pedir” não é apenas pronunciar palavras, mas vigiar e orientar pensamentos. São eles que moldam nossa sintonia com as forças espirituais.

Nesse aspecto, São Paulo resume o caminho: “Tudo o que é verdadeiro, justo, puro, amável... seja isso que ocupe os vossos pensamentos” (Fp 4:8). Quando direcionamos a mente ao bem, ao serviço e à gratidão, os pedidos conscientes e inconscientes se alinham com a Lei Divina, e a vida começa a responder em sintonia com o progresso espiritual.

Conclusão

“Pedi e obtereis” não é promessa de satisfação imediata dos desejos humanos, mas garantia de que o Universo responde a todas as vibrações que emitimos. Sejamos, então, vigilantes com nossos pedidos inconscientes e responsáveis com as preces que elevamos a Deus.

A resposta divina se manifesta sempre, seja no amparo invisível, na força para suportar provas ou na inspiração para agir. Cabe a nós aprender a pedir melhor, sentir melhor e pensar melhor. Assim, transformamos a oração em instrumento de crescimento e alinhamento com a vontade sábia e amorosa do Pai.

Referências

  • BÍBLIA SAGRADA. Marcos 11:24; Mateus 7:7-8; Mateus 12:36-37; Jó 3:25; Isaías 55:10-11; Filipenses 4:8-9; 1 Tessalonicenses 5:17-18.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. XXV e XXVII.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).
  • XAVIER, Francisco Cândido. Pelo Espírito Emmanuel. Pão Nosso. Diversas lições sobre oração.
  • Corrente de Oração Unidade. Manual de Cura.
  • Relatórios de saúde mental e espiritualidade — Organização Mundial da Saúde (OMS), 2024.

 

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