Introdução
A
promessa de Jesus — “Tudo o que pedirdes
orando, crede que o recebereis” (Mc 11:24) — é, ao mesmo tempo, fonte de
esperança e de questionamentos. Se a fé remove montanhas, por que tantas vezes
nossas súplicas parecem não ser atendidas? A Doutrina Espírita, codificada por
Allan Kardec, esclarece essa questão ao demonstrar que Deus responde sempre,
mas nem sempre como imaginamos.
O
Espírito humano, em sua limitação, costuma pedir o que deseja, e não
necessariamente o que lhe convém. Além disso, a cada dia, consciente ou
inconscientemente, sem perceber, semeamos pensamentos e emoções que funcionam
como verdadeiras preces — atraindo respostas da vida e da Lei Divina. Entender
esse processo é essencial para transformar nossa relação com a oração e com as
experiências que vivemos.
A oração e a sabedoria divina
Allan
Kardec explica, em O Evangelho Segundo o Espiritismo (cap. XXVII, itens
5 e 7), que seria ilógico acreditar que Deus atende a todos os pedidos humanos
sem discernimento. Tal atitude equivaleria a um pai inconsequente, que satisfaz
caprichos nocivos dos filhos. A Providência, ao contrário, concede o que é útil
ao progresso do Espírito: coragem, resignação, paciência e, sobretudo, as
ideias e meios necessários para superar as dificuldades.
Assim,
a prece sincera não é um passe de mágica, mas uma alavanca que nos desperta
para soluções e oportunidades. Deus “assiste
aos que se ajudam a si mesmos”, conforme ensina a máxima: “Ajuda-te e o céu te ajudará”.
Os pedidos inconscientes
Um
ponto muitas vezes esquecido é que, além das súplicas explícitas, cada ser
humano formula pedidos silenciosos, oriundos de seus pensamentos e emoções. A
vida mental constante, impregnada de pessimismo, medo ou rancor, funciona como
oração negativa. Como ensina o Manual de Cura da Corrente de Oração
Unidade, “muitas pessoas recebem
respostas a pedidos que não se lembram de haver feito”.
A Lei
de Causa e Efeito, confirmada pela Doutrina Espírita e pela própria lógica
universal, atua inexoravelmente: pensamentos e sentimentos são sementes que
atraem frutos correspondentes. Se o homem semeia ódio, colherá perturbação; se
cultiva harmonia, encontrará paz. Nesse sentido, Jó já advertia: “O que eu temia me veio” (Jó 3:25).
A pedagogia divina na resposta às preces
Deus
não pune, mas permite que colhamos o resultado de nossas escolhas interiores
para que aprendamos. Muitas doenças, desarmonias e frustrações não são
castigos, mas consequências de pensamentos e atitudes que insistimos em
alimentar. A sabedoria divina transforma até mesmo o sofrimento em recurso
educativo, como o cirurgião que realiza uma operação dolorosa, mas necessária à
cura.
A
oração sincera, portanto, deve estar alinhada ao ensinamento de Jesus: “Pai, faça-se a Tua vontade, não a minha”.
Quando o coração se abre a essa entrega, a resposta divina não falha: pode vir
como consolo imediato, como inspiração de solução ou até mesmo como silêncio —
que ensina paciência e fé.
Vigilância dos pensamentos: o sentido prático do
“pedi e obtereis”
O
ensinamento de Jesus, ampliado pelo Espiritismo, mostra que “pedir” não é
apenas pronunciar palavras, mas vigiar e orientar pensamentos. São eles que
moldam nossa sintonia com as forças espirituais.
Nesse
aspecto, São Paulo resume o caminho: “Tudo
o que é verdadeiro, justo, puro, amável... seja isso que ocupe os vossos
pensamentos” (Fp 4:8). Quando direcionamos a mente ao bem, ao serviço e à
gratidão, os pedidos conscientes e inconscientes se alinham com a Lei Divina, e
a vida começa a responder em sintonia com o progresso espiritual.
Conclusão
“Pedi e obtereis” não é promessa de
satisfação imediata dos desejos humanos, mas garantia de que o Universo
responde a todas as vibrações que emitimos. Sejamos, então, vigilantes com
nossos pedidos inconscientes e responsáveis com as preces que elevamos a Deus.
A
resposta divina se manifesta sempre, seja no amparo invisível, na força para
suportar provas ou na inspiração para agir. Cabe a nós aprender a pedir melhor,
sentir melhor e pensar melhor. Assim, transformamos a oração em instrumento de
crescimento e alinhamento com a vontade sábia e amorosa do Pai.
Referências
- BÍBLIA SAGRADA.
Marcos 11:24; Mateus 7:7-8; Mateus 12:36-37; Jó 3:25; Isaías 55:10-11;
Filipenses 4:8-9; 1 Tessalonicenses 5:17-18.
- KARDEC, Allan. O
Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. XXV e XXVII.
- KARDEC, Allan. Revista
Espírita (1858-1869).
- XAVIER, Francisco
Cândido. Pelo Espírito Emmanuel. Pão Nosso. Diversas lições sobre
oração.
- Corrente de Oração
Unidade. Manual de Cura.
- Relatórios de saúde
mental e espiritualidade — Organização Mundial da Saúde (OMS), 2024.
Nenhum comentário:
Postar um comentário