domingo, 5 de outubro de 2025

A ANSIEDADE E O PROCESSO EVOLUTIVO DO ESPÍRITO
UMA LEITURA À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA
- A Era do Espírito –

Introdução

Vivemos um tempo em que a ansiedade se tornou um dos maiores desafios da humanidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país com o maior número de pessoas ansiosas do planeta, atingindo cerca de 9,3% da população. Esse dado não deve ser interpretado apenas sob o ponto de vista biológico ou psicológico.

Para a Doutrina Espírita, a ansiedade é também expressão de desequilíbrios mais profundos, que remontam ao desenvolvimento espiritual do ser e à sua caminhada evolutiva.

Este artigo propõe uma análise espiritual e psicológica da ansiedade, considerando-a não apenas um fenômeno mental, mas uma repercussão das experiências do Espírito em sua longa trajetória de aprendizado. Ao confrontar as raízes espirituais da ansiedade com as perspectivas da ciência moderna e os ensinamentos de Allan Kardec, compreendemos que esse estado emocional é, em última instância, um convite à transformação interior e à reconciliação com a própria consciência.

1. A gênese espiritual da ansiedade

De acordo com O Livro dos Espíritos, o Espírito, ao passar pelas etapas do princípio inteligente, acumula experiências nos diferentes reinos da natureza, gravando em si os reflexos da luta pela sobrevivência. Ao adentrar o reino hominal, carrega registros instintivos que, se não trabalhados pela razão e pelo sentimento, podem manifestar-se sob formas desordenadas de medo, insegurança e ansiedade.

Essa herança espiritual compõe o substrato inconsciente de nossas emoções, onde os conflitos não resolvidos de existências anteriores aguardam reequilíbrio. Assim, a ansiedade pode ser compreendida como o resultado da resistência do Espírito em se harmonizar com as leis divinas e aceitar o fluxo natural da vida. É, em essência, a expressão da luta entre o instinto que teme e a consciência que convida à confiança.

2. A ansiedade na atualidade: um fenômeno multidimensional

A psicologia e a psiquiatria modernas definem a ansiedade como uma resposta natural do organismo a situações de ameaça, podendo tornar-se patológica quando desproporcional ou persistente. A neurociência identifica alterações químicas em neurotransmissores como a serotonina e a dopamina, enquanto fatores sociais — como o excesso de estímulos digitais, a competitividade e a instabilidade econômica — intensificam esse quadro.

No entanto, do ponto de vista espírita, esses fatores são apenas manifestações externas de uma desarmonia mais profunda. A Revista Espírita (1858–1869) apresenta diversos relatos de Espíritos que continuam a experimentar estados de ansiedade após a desencarnação, o que indica que a raiz desse desequilíbrio é espiritual e moral, não apenas orgânica.

Kardec explica que “as causas das enfermidades da alma precedem as do corpo”, pois os desequilíbrios do perispírito — o intermediário entre o Espírito e a matéria — refletem-se no organismo físico. Assim, compreender a ansiedade requer enxergá-la como resultado da interação entre corpo, mente e Espírito, sendo o aspecto moral o fundamento de sua origem e também o ponto de partida de sua cura.

3. O tratamento integral: ciência, autoconhecimento e fé raciocinada

O Espiritismo não nega o valor dos tratamentos médicos e psicológicos. Ao contrário, reconhece que a medicina e a psicologia são instrumentos divinos de amparo ao ser em sofrimento. O uso responsável de medicamentos e o acompanhamento terapêutico são meios válidos e necessários à estabilização emocional.

Contudo, a cura verdadeira exige vontade de reencontrar-se, isto é, o despertar da consciência para o autodomínio e a renovação moral. O Evangelho Segundo o Espiritismo (cap. V) ensina que “as causas do sofrimento residem na alma” e que apenas o amor, o trabalho útil e a fé ativa podem restaurar o equilíbrio duradouro.

A prática da prece, a meditação, a caridade e o estudo das leis espirituais são recursos terapêuticos da alma. Eles auxiliam o Espírito a substituir a ansiedade pela serenidade, o medo pela confiança e o impulso desordenado pela ação consciente. Assim, a fé raciocinada — conforme define Kardec — é o antídoto mais eficaz contra o desespero, pois “sustenta o homem na adversidade e lhe dá paciência e resignação”.

4. Ansiedade e evolução moral

A ansiedade, quando observada com lucidez, revela-se um indicador do estágio evolutivo do Espírito. Enquanto o ser ainda se debate entre o egoísmo e a solidariedade, o apego e a renúncia, o controle e a entrega, experimenta o conflito interior que gera tensão e desequilíbrio.

Porém, à medida que o Espírito desperta para o amor — força organizadora do universo —, a ansiedade perde seu caráter destrutivo e transforma-se em anseio construtivo. Passa a ser impulso de progresso, desejo de realizar o bem e ânsia de servir.

Em termos espirituais, a ansiedade evolui do medo para a esperança e da inquietação para a confiança na Lei Divina. O ser, ao compreender que tudo na vida obedece a um propósito educativo, aprende a viver com serenidade e fé ativa, cooperando conscientemente com sua própria evolução.

Conclusão

A ansiedade, sob a ótica espírita, é um fenômeno complexo que envolve corpo, mente e Espírito. Sua origem está nas resistências íntimas do ser em aceitar o ritmo da evolução, e sua cura verdadeira depende da integração entre ciência e espiritualidade.

Como ensina Allan Kardec, “a calma e a resignação, hauridas da maneira de encarar a vida terrestre e da fé no futuro, dão ao Espírito equilíbrio e saúde moral”. Aprender a confiar nas leis de Deus e a agir com consciência e amor é o caminho seguro para converter a ansiedade em serenidade e o sofrimento em aprendizado.

Referências

  • BIGHETTI, Leda Marques. Ansiedade.
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1864.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858–1869).
  • Organização Mundial da Saúde (OMS). Relatórios sobre Saúde Mental e Transtornos de Ansiedade. 2024.
  • XAVIER, Francisco Cândido (pelo Espírito Emmanuel). Pensamento e Vida. Federação Espírita Brasileira.
  • MIRANDA, Manoel Philomeno de (psicografia de Divaldo P. Franco). Nos Bastidores da Obsessão.

 

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