quinta-feira, 9 de outubro de 2025

A CIÊNCIA E A DOUTRINA ESPÍRITA
 ENTRE O INFINITO DO COSMOS E O UNIVERSO INTERIOR
- A Era do Espírito -

Introdução

Vivemos uma era de descobertas científicas sem precedentes. As tecnologias de observação astronômica, a engenharia genética, a biologia molecular e a física quântica ampliam, a cada década, a compreensão humana sobre o universo e sobre si mesmo. No entanto, à medida que a ciência avança, também cresce a necessidade de integrar esse conhecimento ao entendimento espiritual da existência — um ponto central da Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, que propõe uma harmonia entre fé e razão, natureza e transcendência.

Em meados do século XIX, Kardec já afirmava que “fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da humanidade” (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIX). Hoje, com telescópios captando bilhões de galáxias e laboratórios desvendando o código genético da vida, essa afirmação mostra-se ainda mais atual.

1. O cosmos e as “muitas moradas”

As mais recentes observações astronômicas, como as realizadas por projetos de mapeamento cósmico na Austrália, revelaram imagens com milhões de galáxias — cada uma contendo centenas de bilhões de estrelas. Estimativas atuais sugerem que o universo observável pode conter algo em torno de 200 bilhões de galáxias, totalizando cerca de 200 sextilhões de estrelas.

Esses números são vertiginosos e reforçam o que Jesus já havia ensinado há dois milênios: “Na casa de meu Pai há muitas moradas” (Jo 14:2). A Doutrina Espírita, desde O Livro dos Espíritos (questões 55 a 58), reconhece que todos os mundos são habitados e que neles vivem Espíritos em diferentes graus de progresso moral e intelectual.

Para Kardec, a pluralidade dos mundos habitados não é uma hipótese mística, mas uma consequência lógica da grandeza divina. Assim, cada estrela e cada planeta representam etapas de aprendizado e evolução — uma pedagogia cósmica em que a vida se manifesta sob infinitas formas.

2. A ciência da vida e o tempo das reencarnações

A biologia moderna tem avançado no estudo dos genes que influenciam o envelhecimento. Pesquisas recentes identificam que a manipulação de certos componentes do DNA pode prolongar a expectativa de vida de organismos simples, e potencialmente dos humanos no futuro.

Entretanto, sob a ótica espírita, a existência corpórea é apenas um capítulo do progresso espiritual. O Livro dos Espíritos ensina que a duração da vida é determinada pelas Leis Naturais, que se ajustam ao propósito evolutivo de cada Espírito. A reencarnação, mecanismo divino de justiça e aprendizado, permite que cada ser renasça tantas vezes quanto necessário, segundo o mérito e a necessidade de progresso moral.

Assim, o prolongamento biológico da vida — ainda que seja conquista legítima da ciência — só terá real valor quando acompanhado do crescimento espiritual, pois “viver mais” não significa necessariamente “viver melhor”.

3. O orgulho e a ilusão da grandeza

Descobertas como a do Sauroposeidon, o maior dinossauro conhecido, recordam a tendência humana ao culto do “maior” e do “melhor”. Essa mentalidade, projetada também nas relações sociais, espirituais e até religiosas, expressa o velho vício do orgulho, apontado por Kardec como a raiz de muitos males da humanidade (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VII).

A Doutrina Espírita convida à humildade como virtude essencial do progresso. Ser grande, no sentido moral, é ser útil, benevolente e solidário. A comparação e a vaidade apenas alimentam a ilusão de separatividade, enquanto a verdadeira evolução está em reconhecer a grandeza de Deus em todas as criaturas.

4. O engano das aparências e a ilusão do prazer

A ciência demonstra que até sensações simples, como o gosto por bebidas gaseificadas, podem resultar de processos químicos que iludem o cérebro, confundindo dor e prazer. Essa constatação lembra o alerta evangélico sobre o “prazer enganoso”, que seduz mas corrói.

No campo moral, o Espiritismo ensina que muitos prazeres sociais — como a maledicência, o orgulho ou a busca de status — funcionam da mesma forma: causam excitação momentânea, mas enfraquecem o Espírito. Em A Gênese, Kardec explica que o mal não é uma força em si, mas o resultado do uso desequilibrado das faculdades humanas. Assim, cabe ao homem espiritualizar seus instintos e transformar o prazer em instrumento de progresso, e não de escravidão.

5. O bem nascido do mal e a lei de causa e efeito

Pesquisas recentes da Universidade de Yale demonstraram que certas bactérias podem combater tumores cancerígenos. Essa descoberta ilustra um princípio universal da Lei de Causa e Efeito: de um mal aparente pode nascer um bem real.

No plano moral, o mesmo se aplica às nossas dificuldades. Os sofrimentos, quando compreendidos e enfrentados com fé, transformam-se em recursos de aprendizado e regeneração. Emmanuel, em A Caminho da Luz, explica que as crises humanas são “o cadinho purificador das almas”, preparando a Terra para novas eras de harmonia.

6. Ciência, superstição e razão espírita

O caso das supostas “maldições dos faraós”, hoje explicadas pela radioatividade, mostra como a ignorância alimenta o medo e o misticismo. A Doutrina Espírita combate essas crenças infundadas, ensinando que Deus governa o universo por leis naturais, e não por milagres arbitrários.

Kardec, na Revista Espírita, advertia que o Espiritismo não é inimigo da ciência, mas sua continuação em direção ao invisível. A razão deve sempre acompanhar a fé, e a fé deve iluminar a razão. Essa harmonia é o verdadeiro caminho da sabedoria espiritual.

Conclusão

A ciência revela a grandiosidade da Criação; o Espiritismo, o propósito moral que a sustenta. Enquanto telescópios sondam o infinito e laboratórios decifram o código da vida, cabe ao ser humano voltar o olhar também para o universo interior — onde reside a centelha divina que o conduz ao progresso.

O Espiritismo, fiel ao método racional e à lei de amor, mostra que fé e ciência não se opõem: completam-se. A compreensão do cosmos só é plena quando unimos a razão que observa ao coração que ama — pois, como ensinou Jesus, “a vida abundante” é a que vibra em harmonia com as leis do Pai.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. São Paulo: FEESP, 1972.
  • KARDEC, Allan. A Gênese. São Paulo: IDE, 2010.
  • Revista Espírita (1858–1869), Allan Kardec.
  • XAVIER, Francisco Cândido (pelo Espírito Emmanuel). A Caminho da Luz. Rio de Janeiro: FEB, 1939.
  • FERREIRA, Rodrigues. A Ciência e a Doutrina Espírita. Jornal Consciência Espírita, São José do Rio Preto e Mirassol – SP.

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