Introdução
Vivemos
uma era de descobertas científicas sem precedentes. As tecnologias de
observação astronômica, a engenharia genética, a biologia molecular e a física
quântica ampliam, a cada década, a compreensão humana sobre o universo e sobre
si mesmo. No entanto, à medida que a ciência avança, também cresce a
necessidade de integrar esse conhecimento ao entendimento espiritual da
existência — um ponto central da Doutrina Espírita, codificada por Allan
Kardec, que propõe uma harmonia entre fé e razão, natureza e transcendência.
Em
meados do século XIX, Kardec já afirmava que “fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão face a face,
em todas as épocas da humanidade” (O Evangelho segundo o Espiritismo,
cap. XIX). Hoje, com telescópios captando bilhões de galáxias e laboratórios
desvendando o código genético da vida, essa afirmação mostra-se ainda mais
atual.
1. O cosmos e as “muitas moradas”
As
mais recentes observações astronômicas, como as realizadas por projetos de
mapeamento cósmico na Austrália, revelaram imagens com milhões de galáxias —
cada uma contendo centenas de bilhões de estrelas. Estimativas atuais sugerem
que o universo observável pode conter algo em torno de 200 bilhões de
galáxias, totalizando cerca de 200 sextilhões de estrelas.
Esses
números são vertiginosos e reforçam o que Jesus já havia ensinado há dois
milênios: “Na casa de meu Pai há muitas
moradas” (Jo 14:2). A Doutrina Espírita, desde O Livro dos Espíritos
(questões 55 a 58), reconhece que todos os mundos são habitados e que neles
vivem Espíritos em diferentes graus de progresso moral e intelectual.
Para
Kardec, a pluralidade dos mundos habitados não é uma hipótese mística, mas uma
consequência lógica da grandeza divina. Assim, cada estrela e cada planeta
representam etapas de aprendizado e evolução — uma pedagogia cósmica em que a
vida se manifesta sob infinitas formas.
2. A ciência da vida e o tempo das reencarnações
A
biologia moderna tem avançado no estudo dos genes que influenciam o
envelhecimento. Pesquisas recentes identificam que a manipulação de certos
componentes do DNA pode prolongar a expectativa de vida de organismos simples,
e potencialmente dos humanos no futuro.
Entretanto,
sob a ótica espírita, a existência corpórea é apenas um capítulo do progresso
espiritual. O Livro dos Espíritos ensina que a duração da vida é
determinada pelas Leis Naturais, que se ajustam ao propósito evolutivo
de cada Espírito. A reencarnação, mecanismo divino de justiça e aprendizado,
permite que cada ser renasça tantas vezes quanto necessário, segundo o mérito e
a necessidade de progresso moral.
Assim,
o prolongamento biológico da vida — ainda que seja conquista legítima da
ciência — só terá real valor quando acompanhado do crescimento espiritual, pois
“viver mais” não significa necessariamente “viver melhor”.
3. O orgulho e a ilusão da grandeza
Descobertas
como a do Sauroposeidon, o maior dinossauro conhecido, recordam a
tendência humana ao culto do “maior” e do “melhor”. Essa mentalidade, projetada
também nas relações sociais, espirituais e até religiosas, expressa o velho
vício do orgulho, apontado por Kardec como a raiz de muitos males da humanidade
(O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VII).
A
Doutrina Espírita convida à humildade como virtude essencial do progresso. Ser
grande, no sentido moral, é ser útil, benevolente e solidário. A comparação e a
vaidade apenas alimentam a ilusão de separatividade, enquanto a verdadeira
evolução está em reconhecer a grandeza de Deus em todas as criaturas.
4. O engano das aparências e a ilusão do prazer
A
ciência demonstra que até sensações simples, como o gosto por bebidas
gaseificadas, podem resultar de processos químicos que iludem o cérebro,
confundindo dor e prazer. Essa constatação lembra o alerta evangélico sobre o
“prazer enganoso”, que seduz mas corrói.
No
campo moral, o Espiritismo ensina que muitos prazeres sociais — como a
maledicência, o orgulho ou a busca de status — funcionam da mesma forma: causam
excitação momentânea, mas enfraquecem o Espírito. Em A Gênese, Kardec
explica que o mal não é uma força em si, mas o resultado do uso desequilibrado
das faculdades humanas. Assim, cabe ao homem espiritualizar seus instintos e
transformar o prazer em instrumento de progresso, e não de escravidão.
5. O bem nascido do mal e a lei de causa e efeito
Pesquisas
recentes da Universidade de Yale demonstraram que certas bactérias podem
combater tumores cancerígenos. Essa descoberta ilustra um princípio universal
da Lei de Causa e Efeito: de um mal aparente pode nascer um bem real.
No
plano moral, o mesmo se aplica às nossas dificuldades. Os sofrimentos, quando
compreendidos e enfrentados com fé, transformam-se em recursos de aprendizado e
regeneração. Emmanuel, em A Caminho da Luz, explica que as crises
humanas são “o cadinho purificador das
almas”, preparando a Terra para novas eras de harmonia.
6. Ciência, superstição e razão espírita
O caso
das supostas “maldições dos faraós”, hoje explicadas pela radioatividade,
mostra como a ignorância alimenta o medo e o misticismo. A Doutrina Espírita
combate essas crenças infundadas, ensinando que Deus governa o universo por
leis naturais, e não por milagres arbitrários.
Kardec,
na Revista Espírita, advertia que o Espiritismo não é inimigo da
ciência, mas sua continuação em direção ao invisível. A razão deve sempre
acompanhar a fé, e a fé deve iluminar a razão. Essa harmonia é o verdadeiro
caminho da sabedoria espiritual.
Conclusão
A
ciência revela a grandiosidade da Criação; o Espiritismo, o propósito moral que
a sustenta. Enquanto telescópios sondam o infinito e laboratórios decifram o
código da vida, cabe ao ser humano voltar o olhar também para o universo
interior — onde reside a centelha divina que o conduz ao progresso.
O
Espiritismo, fiel ao método racional e à lei de amor, mostra que fé e ciência
não se opõem: completam-se. A compreensão do cosmos só é plena quando unimos a
razão que observa ao coração que ama — pois, como ensinou Jesus, “a vida
abundante” é a que vibra em harmonia com as leis do Pai.
Referências
- KARDEC, Allan. O
Livro dos Espíritos. São Paulo: FEESP, 1972.
- KARDEC, Allan. A
Gênese. São Paulo: IDE, 2010.
- Revista Espírita (1858–1869), Allan
Kardec.
- XAVIER, Francisco
Cândido (pelo Espírito Emmanuel). A Caminho da Luz. Rio de Janeiro:
FEB, 1939.
- FERREIRA,
Rodrigues. A Ciência e a Doutrina Espírita. Jornal Consciência
Espírita, São José do Rio Preto e Mirassol – SP.
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