domingo, 12 de outubro de 2025

A EDUCAÇÃO DAS EMOÇÕES À LUZ DO ESPIRITISMO
O AUTODOMÍNIO COMO CAMINHO PARA A REGENERAÇÃO HUMANA
- A Era do Espírito -

Introdução

O século XXI é marcado por extraordinários avanços tecnológicos e, paradoxalmente, por uma crescente fragilidade emocional. As redes sociais, a pressa cotidiana e as pressões econômicas e culturais têm acentuado a impaciência e a intolerância. Vivemos conectados a tudo e a todos, mas desconectados de nós mesmos. As irritações e os conflitos se multiplicam — no trânsito, no lar, no trabalho e até em ambientes religiosos. Esse cenário evidencia o descompasso entre o progresso material e o progresso moral, questão já antecipada por Allan Kardec em O Livro dos Espíritos (questões 783 e 785), quando os Espíritos afirmam que o verdadeiro progresso da humanidade depende do aperfeiçoamento moral de seus indivíduos.

A Doutrina Espírita propõe um caminho de transformação interior, no qual cada desafio cotidiano é visto como oportunidade de crescimento. O autodomínio, nesse contexto, torna-se a pedra angular da transformação íntima e da construção da paz social.

1. A raiva e a impaciência como sintomas da imaturidade espiritual

O Espírito Joanes, pela psicografia de Raul Teixeira, afirma que “nada mais comum nas atividades terrenas do que o hábito enraizado das querelas e das chateações”. Essa constatação traduz um estado evolutivo ainda marcado pelo orgulho e pelo egoísmo — vícios apontados por Kardec em O Evangelho segundo o Espiritismo (cap. IX) como raízes de quase todos os males humanos.

O homem moderno, embora tecnicamente avançado, ainda demonstra primitivismo moral. A irritação fácil, a agressividade verbal e o descontrole emocional são manifestações de um desequilíbrio que precisa ser tratado pela via da educação espiritual. As conquistas da ciência e da tecnologia não bastam para regenerar o coração humano — essa tarefa pertence à moral evangélica, reiluminada pela Doutrina Espírita.

2. A pedagogia espírita das emoções

O Espiritismo é, essencialmente, uma pedagogia da alma. Em setembro de 1863, a Revista Espírita publicou a observação de Kardec de que “o verdadeiro caráter do homem de bem é o domínio de si mesmo”. Não se trata de reprimir emoções, mas de educá-las, canalizando-as para o bem e para o equilíbrio interior.

O Espírito Emmanuel, em Pensamento e Vida, ensina que “a emoção educada é uma bênção de equilíbrio para o mundo”. Essa lição mostra que a serenidade não é passividade, mas força moral disciplinada. Dominar-se não é ser frio; é ser lúcido.

Nos dias atuais, marcados por altos índices de ansiedade e depressão, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2024), a proposta espírita de autodomínio ganha novo relevo. A educação emocional é, ao mesmo tempo, exercício espiritual e medida preventiva de saúde mental.

3. Exercícios práticos de autodomínio segundo o método espírita

A teoria espírita, por mais esclarecedora que seja, precisa se traduzir em vivência. Kardec lembra, em O Evangelho segundo o Espiritismo (cap. XVII, item 4), que o verdadeiro espírita “reconhece-se pela sua transformação moral e pelos esforços que faz para domar suas más inclinações”.

Em consonância com esse princípio, a prática espírita do autodomínio pode ser exercitada nas mais simples circunstâncias da vida:

  • No trânsito: diante da impaciência alheia, o espírita é convidado a respirar, silenciar e orar brevemente — deslocando o foco da emoção para a consciência.
  • No trabalho: a pausa antes da resposta impulsiva é um espaço de lucidez, onde o Espírito escolhe agir em vez de reagir.
  • No lar: o silêncio caridoso, seguido do diálogo maduro, é prova de compreensão e amor.
  • Nas redes sociais: o autocontrole digital é nova forma de vigilância moral — pensar antes de postar é também um ato de caridade.

Essas práticas refletem o método espírita de “ver, pensar, sentir e agir” — um processo racional e emocional que transforma o aprendizado doutrinário em ação edificante.

4. O papel da prece e da vigilância mental

O autodomínio não é apenas conquista humana, mas cooperação entre o esforço pessoal e o amparo espiritual. “Vigiai e orai, para não cairdes em tentação” (Mt 26:41), ensinou Jesus. Emmanuel explica, em Caminho, Verdade e Vida, que “a oração é o fio invisível que liga o coração humano ao coração divino”.

A prece sincera não elimina as dificuldades, mas confere serenidade para enfrentá-las. Espíritos benfeitores nos auxiliam, inspirando pensamentos equilibrados e fortalecendo a vontade. Joanes recorda que “cada esforço que fizermos por nos melhorarmos será secundado pela ajuda de luminosos imortais”. Assim, cada pequena vitória interior repercute no campo espiritual como contribuição efetiva para o bem coletivo.

5. A serenidade como força transformadora

Em O Evangelho segundo o Espiritismo (cap. XII, item 7), Kardec afirma: “A verdadeira coragem está na superioridade moral que faz o homem dominar-se”. Essa superioridade não nasce da repressão, mas do amadurecimento interior.

A paciência e a mansuetude, muitas vezes vistas como fraqueza, são, na verdade, expressões de força moral. O indivíduo sereno torna-se um agente de equilíbrio onde quer que esteja, irradiando paz e colaborando silenciosamente com a regeneração planetária.

Vivemos a transição de um mundo de provas e expiações para um mundo de regeneração, conforme explica A Gênese, cap. XVIII. Essa nova etapa exige corações equilibrados e mentes educadas, capazes de reagir com discernimento e compaixão. Educar as emoções é, portanto, colaborar com o projeto divino da renovação da Terra.

Conclusão

A educação emocional é o elo entre o conhecimento e a vivência do Evangelho. Aprender a sentir com equilíbrio é aprender a amar com sabedoria. A Doutrina Espírita, com sua fé raciocinada, oferece o roteiro seguro dessa transformação: conhecer, refletir, aplicar e perseverar.

Cada vez que vencemos o impulso da irritação, cada vez que preferimos a serenidade ao revide, tornamo-nos “os mais fortes” — não por sobrepor-nos aos outros, mas por vencer a nós mesmos.

O progresso moral é obra conjunta do Espírito e do Alto. E quando, diante da contrariedade, pudermos dizer com humildade e gratidão: “Fui o mais forte”, estaremos contribuindo para a regeneração do mundo e para a nossa própria libertação espiritual.

Referências

  • Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. 86ª ed. FEB.
  • Kardec, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 122ª ed. FEB.
  • Kardec, Allan. Revista Espírita (1858–1869).
  • Kardec, Allan. A Gênese. FEB.
  • Kardec, Allan. Obras Póstumas. FEB.
  • Emmanuel (Espírito), psicografia de Francisco Cândido Xavier. Pensamento e Vida. FEB.
  • Emmanuel (Espírito), psicografia de Francisco Cândido Xavier. Caminho, Verdade e Vida. FEB.
  • Teixeira, Raul (Espírito Joanes). Para uso diário. Ed. Fráter.
  • Redação do Momento Espírita. “Aborrecimentos”. Disponível em: momento.com.br.
  • Organização Mundial da Saúde (OMS). Relatório Mundial sobre Saúde Mental 2024.

 


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