Introdução
O
conceito de liberdade é um dos mais debatidos ao longo da história humana.
Políticos, filósofos, cientistas e líderes religiosos buscaram definir seus
contornos, muitas vezes restringindo-a a um campo específico: social, político
ou moral. No entanto, Jesus, com a clareza que lhe era própria, apresentou uma
noção de liberdade muito mais profunda e abrangente: “E conhecereis a
verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32).
À luz da
Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, essa afirmação adquire uma
dimensão espiritual e racional ao mesmo tempo. A verdadeira liberdade não se
resume à ausência de coerção externa, mas é o estado de harmonia interior que
nasce do conhecimento e da vivência da verdade divina.
A Liberdade Externa e a Liberdade Interior
Na
sociedade contemporânea, o tema da liberdade está constantemente em pauta.
Discutem-se a liberdade de expressão, de crença, de identidade e de pensamento
— valores fundamentais para qualquer democracia. Contudo, observa-se também o
paradoxo moderno: nunca se falou tanto em liberdade, e nunca o ser humano
pareceu tão aprisionado a paixões, vícios, ilusões e dependências.
Allan
Kardec, em O Livro dos Espíritos (questões 843 a 850), esclarece que o
homem é dotado de livre-arbítrio, mas que a verdadeira liberdade se conquista à
medida que a alma se liberta da influência das paixões e das imperfeições
morais. Assim, a liberdade exterior — política, social ou ideológica — é apenas
uma expressão parcial de uma conquista mais profunda: a libertação espiritual.
Enquanto
o indivíduo estiver submetido ao orgulho, ao egoísmo e ao apego material,
estará escravo das forças que o afastam da luz. A Doutrina Espírita ensina que
a liberdade verdadeira se funda na compreensão das leis divinas e na disposição
íntima de viver em conformidade com elas.
O Conhecimento da Verdade como Caminho de
Libertação
Jesus
propôs um método libertador baseado no conhecimento da verdade — e não em
crenças cegas ou rituais exteriores. Essa “verdade” não é uma doutrina imposta,
mas o resultado da busca interior pelo autoconhecimento e pela sintonia com a
Lei de Deus.
Em A
Gênese, Kardec explica que o Cristo veio “revelar a lei divina na sua
pureza e integridade”, libertando os homens dos dogmas e das tradições que os
mantinham na ignorância espiritual. É por isso que, quando interrogado por
Pilatos — “O que é a verdade?” —, Jesus permaneceu em silêncio. A verdade não
se transmite por palavras, mas se conquista por transformação interior.
Na
atualidade, essa mensagem permanece urgente. A liberdade que muitos buscam nas
redes sociais, na política ou nas relações humanas frequentemente se confunde
com a licença de agir sem responsabilidade. O Espiritismo, porém, recorda que
toda ação gera consequências, e que a verdadeira emancipação só ocorre quando o
Espírito compreende e aplica as leis morais da vida.
Exemplos Evangélicos de Libertação Espiritual
Os
Evangelhos apresentam diversas passagens simbólicas sobre esse processo de
libertação:
- Maria Madalena liberta-se dos espíritos
obsessores quando decide transformar-se moralmente.
- Zaqueu vence a avareza ao
restituir o que havia adquirido injustamente.
- O paralítico de Betesda recupera a saúde física
após reerguer-se espiritualmente.
- Paulo de Tarso, transformado pela luz na
estrada de Damasco, rompe com o fanatismo religioso e torna-se o apóstolo
da liberdade em Cristo.
Em todos
esses casos, a libertação não foi um ato exterior, mas o resultado de uma
renovação interior conduzida pelo arrependimento e pelo conhecimento da
verdade.
A Liberdade e a Responsabilidade Moral
No mundo
atual, onde a inteligência artificial, a tecnologia e a informação se expandem
rapidamente, o conceito de liberdade ganha novos contornos. A humanidade dispõe
de recursos antes inimagináveis, mas ainda carece de maturidade moral para
utilizá-los em benefício do bem comum.
A
Doutrina Espírita ensina que o progresso intelectual deve caminhar lado a lado
com o progresso moral. O homem livre, segundo o Espiritismo, é aquele que
domina suas más inclinações e age guiado pela consciência — “a voz de Deus no íntimo do homem” (O Livro dos Espíritos, q. 621).
Nesse
sentido, a liberdade é inseparável da responsabilidade. O Espírito liberto é
aquele que entende a lei de causa e efeito e age em harmonia com ela.
Conclusão
Conhecer
a verdade, no sentido espiritual ensinado por Jesus e esclarecido pelo
Espiritismo, significa reconhecer a imortalidade da alma, a justiça divina e a
lei do amor. Essa compreensão liberta o ser humano dos preconceitos, do
materialismo e das paixões inferiores, permitindo-lhe caminhar em direção à
luz.
A
libertação espiritual é, portanto, um processo gradual de educação do Espírito
— uma conquista íntima que transcende as fronteiras da vida material. Como
ensina Kardec, “a fé inabalável é somente
aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da humanidade”.
Assim, a verdadeira liberdade não é o direito de fazer tudo, mas a capacidade
de escolher o bem com pleno entendimento da verdade.
Referências
- Allan Kardec – O Livro
dos Espíritos (1857), especialmente questões 843 a 850.
- Allan Kardec – A Gênese
(1868).
- Allan Kardec – O
Evangelho segundo o Espiritismo (1864).
- Revista Espírita (1858–1869) – diversos artigos
sobre liberdade moral e progresso do Espírito.
- Paulo Alves de Godoy – A
Verdade vos Libertará, Jornal O Clarim, 15 de junho de 1971.
- João, Evangelho, capítulos 3
e 8 (Novo Testamento).
- Emmanuel (espírito),
psicografia de Francisco Cândido Xavier – Caminho, Verdade e Vida
(1948).
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