domingo, 5 de outubro de 2025

A VERDADE QUE LIBERTA 
A VISÃO ESPÍRITA DA LIBERDADE INTERIOR
- A Era do Espírito -

Introdução

O conceito de liberdade é um dos mais debatidos ao longo da história humana. Políticos, filósofos, cientistas e líderes religiosos buscaram definir seus contornos, muitas vezes restringindo-a a um campo específico: social, político ou moral. No entanto, Jesus, com a clareza que lhe era própria, apresentou uma noção de liberdade muito mais profunda e abrangente: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32).

À luz da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, essa afirmação adquire uma dimensão espiritual e racional ao mesmo tempo. A verdadeira liberdade não se resume à ausência de coerção externa, mas é o estado de harmonia interior que nasce do conhecimento e da vivência da verdade divina.

A Liberdade Externa e a Liberdade Interior

Na sociedade contemporânea, o tema da liberdade está constantemente em pauta. Discutem-se a liberdade de expressão, de crença, de identidade e de pensamento — valores fundamentais para qualquer democracia. Contudo, observa-se também o paradoxo moderno: nunca se falou tanto em liberdade, e nunca o ser humano pareceu tão aprisionado a paixões, vícios, ilusões e dependências.

Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos (questões 843 a 850), esclarece que o homem é dotado de livre-arbítrio, mas que a verdadeira liberdade se conquista à medida que a alma se liberta da influência das paixões e das imperfeições morais. Assim, a liberdade exterior — política, social ou ideológica — é apenas uma expressão parcial de uma conquista mais profunda: a libertação espiritual.

Enquanto o indivíduo estiver submetido ao orgulho, ao egoísmo e ao apego material, estará escravo das forças que o afastam da luz. A Doutrina Espírita ensina que a liberdade verdadeira se funda na compreensão das leis divinas e na disposição íntima de viver em conformidade com elas.

O Conhecimento da Verdade como Caminho de Libertação

Jesus propôs um método libertador baseado no conhecimento da verdade — e não em crenças cegas ou rituais exteriores. Essa “verdade” não é uma doutrina imposta, mas o resultado da busca interior pelo autoconhecimento e pela sintonia com a Lei de Deus.

Em A Gênese, Kardec explica que o Cristo veio “revelar a lei divina na sua pureza e integridade”, libertando os homens dos dogmas e das tradições que os mantinham na ignorância espiritual. É por isso que, quando interrogado por Pilatos — “O que é a verdade?” —, Jesus permaneceu em silêncio. A verdade não se transmite por palavras, mas se conquista por transformação interior.

Na atualidade, essa mensagem permanece urgente. A liberdade que muitos buscam nas redes sociais, na política ou nas relações humanas frequentemente se confunde com a licença de agir sem responsabilidade. O Espiritismo, porém, recorda que toda ação gera consequências, e que a verdadeira emancipação só ocorre quando o Espírito compreende e aplica as leis morais da vida.

Exemplos Evangélicos de Libertação Espiritual

Os Evangelhos apresentam diversas passagens simbólicas sobre esse processo de libertação:

  • Maria Madalena liberta-se dos espíritos obsessores quando decide transformar-se moralmente.
  • Zaqueu vence a avareza ao restituir o que havia adquirido injustamente.
  • O paralítico de Betesda recupera a saúde física após reerguer-se espiritualmente.
  • Paulo de Tarso, transformado pela luz na estrada de Damasco, rompe com o fanatismo religioso e torna-se o apóstolo da liberdade em Cristo.

Em todos esses casos, a libertação não foi um ato exterior, mas o resultado de uma renovação interior conduzida pelo arrependimento e pelo conhecimento da verdade.

A Liberdade e a Responsabilidade Moral

No mundo atual, onde a inteligência artificial, a tecnologia e a informação se expandem rapidamente, o conceito de liberdade ganha novos contornos. A humanidade dispõe de recursos antes inimagináveis, mas ainda carece de maturidade moral para utilizá-los em benefício do bem comum.

A Doutrina Espírita ensina que o progresso intelectual deve caminhar lado a lado com o progresso moral. O homem livre, segundo o Espiritismo, é aquele que domina suas más inclinações e age guiado pela consciência — “a voz de Deus no íntimo do homem” (O Livro dos Espíritos, q. 621).

Nesse sentido, a liberdade é inseparável da responsabilidade. O Espírito liberto é aquele que entende a lei de causa e efeito e age em harmonia com ela.

Conclusão

Conhecer a verdade, no sentido espiritual ensinado por Jesus e esclarecido pelo Espiritismo, significa reconhecer a imortalidade da alma, a justiça divina e a lei do amor. Essa compreensão liberta o ser humano dos preconceitos, do materialismo e das paixões inferiores, permitindo-lhe caminhar em direção à luz.

A libertação espiritual é, portanto, um processo gradual de educação do Espírito — uma conquista íntima que transcende as fronteiras da vida material. Como ensina Kardec, “a fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da humanidade”. Assim, a verdadeira liberdade não é o direito de fazer tudo, mas a capacidade de escolher o bem com pleno entendimento da verdade.

Referências

  • Allan Kardec – O Livro dos Espíritos (1857), especialmente questões 843 a 850.
  • Allan Kardec – A Gênese (1868).
  • Allan Kardec – O Evangelho segundo o Espiritismo (1864).
  • Revista Espírita (1858–1869) – diversos artigos sobre liberdade moral e progresso do Espírito.
  • Paulo Alves de Godoy – A Verdade vos Libertará, Jornal O Clarim, 15 de junho de 1971.
  • João, Evangelho, capítulos 3 e 8 (Novo Testamento).
  • Emmanuel (espírito), psicografia de Francisco Cândido Xavier – Caminho, Verdade e Vida (1948).

 

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