quinta-feira, 2 de outubro de 2025

ÉTICA, COMUNICAÇÃO E ESPIRITISMO
DESAFIOS ATUAIS NA ERA DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
- A Era do Espírito -

Introdução

Vivemos um tempo em que a informação circula em velocidade sem precedentes. Meios de comunicação tradicionais, redes sociais e, mais recentemente, sistemas de Inteligência Artificial (IA), influenciam profundamente a formação da opinião pública e os hábitos sociais. Diante desse cenário, uma pergunta central ressurge com força: onde está a ética?

O jornalismo brasileiro possui um código de ética desde 1985, mas as infrações e a seletividade das narrativas ainda expõem lacunas na prática. Denúncias são publicadas sem o devido cuidado com a veracidade e com as consequências morais e sociais; produtos que incentivam comportamentos nocivos são amplamente divulgados; e a cultura midiática frequentemente transforma distorções em símbolos de sucesso. O fenômeno se repete agora com a IA, que tanto pode ser instrumento de esclarecimento e inclusão, como também de manipulação, desinformação e até desumanização.

À luz da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, compreendemos que a verdadeira ética não se reduz a códigos escritos, mas deve estar gravada na consciência, orientando cada ação segundo as leis divinas. Essa visão se torna cada vez mais atual e necessária diante dos desafios tecnológicos e sociais contemporâneos.

Ética e a Consciência na Comunicação

O Espiritismo ensina que as leis de Deus estão inscritas na consciência (O Livro dos Espíritos, q. 621). Assim, qualquer código externo é apenas um reflexo imperfeito da lei moral. É por isso que, apesar da existência de normas jurídicas e profissionais, vemos ainda a predominância do egoísmo, da vaidade e do materialismo nas práticas comunicativas.

A ética espírita propõe que a comunicação, seja no jornalismo, na mídia digital ou nos ambientes virtuais mediados por algoritmos de IA, tenha sempre como base a caridade e a verdade. Como advertiu Kardec, a missão do Espiritismo é esclarecer pela razão e pelo coração, despertando o homem para sua responsabilidade espiritual e para a solidariedade universal.

Na prática, isso significa que um jornal espírita, por exemplo, não pode ser mero veículo de consolo, mas precisa também discutir, debater e educar, com respeito e fraternidade, sem omitir questões delicadas ou distorcer informações. Da mesma forma, o uso da IA na comunicação espírita deve ser pautado pelo compromisso com a transparência, a autenticidade e o respeito ao livre-arbítrio do leitor.

Renovação do Movimento Espírita e o Papel da Tecnologia

Assim como a vida social passa por transformações aceleradas, o movimento espírita também se renova. Nota-se o fortalecimento das casas espíritas, a ampliação de trabalhos de assistência social e a crescente valorização do estudo sistematizado da doutrina. A Internet já foi um divisor de águas nessa renovação, permitindo maior integração entre grupos e facilitando o acesso a conteúdos de qualidade.

Agora, a Inteligência Artificial apresenta-se como mais uma ferramenta. Ela pode:

  • Apoiar na difusão doutrinária, organizando conteúdos, traduzindo textos e ampliando o alcance das mensagens espíritas.
  • Favorecer o estudo individual, oferecendo recursos de personalização e diálogo interativo para aprendizes da doutrina.
  • Ajudar na gestão das casas espíritas, otimizando processos administrativos e de comunicação.

Porém, como toda tecnologia, a IA exige vigilância ética: seu uso não deve substituir o esforço humano de estudo, reflexão e vivência da moral espírita. Ela deve ser instrumento de apoio, não de alienação. Como lembra Kardec em A Gênese, o progresso é inevitável, mas o homem deve dirigir esse progresso para o bem, sob pena de transformar conquistas em fatores de queda.

Proselitismo, Caridade e Comunicação Espírita

O Espiritismo não pratica o proselitismo, mas também não pode calar sua voz diante das necessidades humanas. Emmanuel afirmou que “a maior caridade que podemos fazer pelo Espiritismo é a sua divulgação”. Essa divulgação, no entanto, deve ser feita com equilíbrio: anunciar a Boa Nova sem impor, esclarecer sem ameaçar, propor sem coagir.

No contexto da IA e da comunicação digital, esse equilíbrio torna-se ainda mais importante. Ferramentas de automação podem difundir conteúdos em escala inédita, mas é indispensável que cada mensagem seja guiada pelo princípio da fraternidade e não pela lógica da propaganda agressiva. A ética espírita, nesse caso, pede que a tecnologia seja usada como canal de esclarecimento e consolo, nunca de manipulação emocional ou busca de prestígio pessoal.

O Debate de Ideias e a Transparência

A imprensa espírita, assim como os espaços digitais, deve manter o debate saudável, fundamentado em raciocínio lógico e respeito mútuo. Kardec, em sua época, utilizava a Revista Espírita como tribuna de ideias, não evitando polêmicas, mas conduzindo-as com serenidade e foco no esclarecimento.

Da mesma forma, nos tempos atuais, o diálogo — seja humano, seja mediado por IA — deve prezar pela transparência e pela abertura ao contraditório. A verdade não teme o debate, e o Espiritismo, sendo uma doutrina de razão e fé raciocinada, só se fortalece quando submetido à análise crítica e ao intercâmbio respeitoso de opiniões.

Conclusão

O desafio ético da comunicação na contemporaneidade não se resolve apenas com códigos ou regulamentos. Ele se resolve no íntimo da consciência, onde cada ser humano deve alinhar sua liberdade de expressão às leis divinas de justiça, amor e caridade.

A mídia, o jornalismo, a Internet e agora a Inteligência Artificial são instrumentos poderosos que podem contribuir tanto para o progresso quanto para a decadência moral. Cabe-nos direcioná-los para o bem, como ensina o Espiritismo, lembrando que toda inovação deve estar a serviço da fraternidade universal.

Assim, o movimento espírita, ao mesmo tempo em que se renova, é chamado a assumir a responsabilidade de divulgar, esclarecer e educar com ética, lucidez e transparência, utilizando as ferramentas do presente sem jamais esquecer os princípios eternos da lei de Deus.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
  • KARDEC, Allan. A Gênese. 1868.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).
  • FRANZOLIM, Ivan René. Reflexões sobre o movimento espírita organizado e sua doutrina, publicadas na imprensa espírita. Livro Eletrônico Virtual, 1ª edição, 1996.
  • XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador. Pelo Espírito Emmanuel.
  • LACERDA, A. J. S. Ética e Espiritismo. FEB, 2005.

 

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