Introdução
Vivemos
um tempo em que a informação circula em velocidade sem precedentes. Meios de
comunicação tradicionais, redes sociais e, mais recentemente, sistemas de
Inteligência Artificial (IA), influenciam profundamente a formação da opinião
pública e os hábitos sociais. Diante desse cenário, uma pergunta central
ressurge com força: onde está a ética?
O
jornalismo brasileiro possui um código de ética desde 1985, mas as infrações e
a seletividade das narrativas ainda expõem lacunas na prática. Denúncias são
publicadas sem o devido cuidado com a veracidade e com as consequências morais
e sociais; produtos que incentivam comportamentos nocivos são amplamente
divulgados; e a cultura midiática frequentemente transforma distorções em
símbolos de sucesso. O fenômeno se repete agora com a IA, que tanto pode ser
instrumento de esclarecimento e inclusão, como também de manipulação,
desinformação e até desumanização.
À luz da
Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, compreendemos que a
verdadeira ética não se reduz a códigos escritos, mas deve estar gravada na
consciência, orientando cada ação segundo as leis divinas. Essa visão se
torna cada vez mais atual e necessária diante dos desafios tecnológicos e
sociais contemporâneos.
Ética e a Consciência na Comunicação
O
Espiritismo ensina que as leis de Deus estão inscritas na consciência (O Livro dos Espíritos, q. 621). Assim,
qualquer código externo é apenas um reflexo imperfeito da lei moral. É por isso
que, apesar da existência de normas jurídicas e profissionais, vemos ainda a
predominância do egoísmo, da vaidade e do materialismo nas práticas
comunicativas.
A ética
espírita propõe que a comunicação, seja no jornalismo, na mídia digital ou nos
ambientes virtuais mediados por algoritmos de IA, tenha sempre como base a caridade
e a verdade. Como advertiu Kardec, a missão do Espiritismo é esclarecer
pela razão e pelo coração, despertando o homem para sua responsabilidade
espiritual e para a solidariedade universal.
Na
prática, isso significa que um jornal espírita, por exemplo, não pode ser mero
veículo de consolo, mas precisa também discutir, debater e educar, com respeito
e fraternidade, sem omitir questões delicadas ou distorcer informações. Da
mesma forma, o uso da IA na comunicação espírita deve ser pautado pelo
compromisso com a transparência, a autenticidade e o respeito ao
livre-arbítrio do leitor.
Renovação do Movimento Espírita e o Papel da
Tecnologia
Assim
como a vida social passa por transformações aceleradas, o movimento espírita
também se renova. Nota-se o fortalecimento das casas espíritas, a ampliação de
trabalhos de assistência social e a crescente valorização do estudo
sistematizado da doutrina. A Internet já foi um divisor de águas nessa
renovação, permitindo maior integração entre grupos e facilitando o acesso a
conteúdos de qualidade.
Agora, a
Inteligência Artificial apresenta-se como mais uma ferramenta. Ela pode:
- Apoiar na difusão
doutrinária,
organizando conteúdos, traduzindo textos e ampliando o alcance das
mensagens espíritas.
- Favorecer o estudo
individual,
oferecendo recursos de personalização e diálogo interativo para aprendizes
da doutrina.
- Ajudar na gestão das casas
espíritas,
otimizando processos administrativos e de comunicação.
Porém,
como toda tecnologia, a IA exige vigilância ética: seu uso não deve substituir
o esforço humano de estudo, reflexão e vivência da moral espírita. Ela deve ser
instrumento de apoio, não de alienação. Como lembra Kardec em A Gênese,
o progresso é inevitável, mas o homem deve dirigir esse progresso para o bem,
sob pena de transformar conquistas em fatores de queda.
Proselitismo, Caridade e Comunicação Espírita
O
Espiritismo não pratica o proselitismo, mas também não pode calar sua voz
diante das necessidades humanas. Emmanuel afirmou que “a maior caridade que podemos fazer pelo Espiritismo é a sua
divulgação”. Essa divulgação, no entanto, deve ser feita com equilíbrio:
anunciar a Boa Nova sem impor, esclarecer sem ameaçar, propor sem coagir.
No
contexto da IA e da comunicação digital, esse equilíbrio torna-se ainda mais
importante. Ferramentas de automação podem difundir conteúdos em escala
inédita, mas é indispensável que cada mensagem seja guiada pelo princípio da
fraternidade e não pela lógica da propaganda agressiva. A ética espírita, nesse
caso, pede que a tecnologia seja usada como canal de esclarecimento e
consolo, nunca de manipulação emocional ou busca de prestígio pessoal.
O Debate de Ideias e a Transparência
A
imprensa espírita, assim como os espaços digitais, deve manter o debate
saudável, fundamentado em raciocínio lógico e respeito mútuo. Kardec, em sua
época, utilizava a Revista Espírita como tribuna de ideias, não evitando
polêmicas, mas conduzindo-as com serenidade e foco no esclarecimento.
Da mesma
forma, nos tempos atuais, o diálogo — seja humano, seja mediado por IA — deve
prezar pela transparência e pela abertura ao contraditório. A verdade
não teme o debate, e o Espiritismo, sendo uma doutrina de razão e fé
raciocinada, só se fortalece quando submetido à análise crítica e ao
intercâmbio respeitoso de opiniões.
Conclusão
O desafio
ético da comunicação na contemporaneidade não se resolve apenas com códigos ou
regulamentos. Ele se resolve no íntimo da consciência, onde cada ser humano
deve alinhar sua liberdade de expressão às leis divinas de justiça, amor e
caridade.
A mídia,
o jornalismo, a Internet e agora a Inteligência Artificial são instrumentos
poderosos que podem contribuir tanto para o progresso quanto para a decadência
moral. Cabe-nos direcioná-los para o bem, como ensina o Espiritismo, lembrando
que toda inovação deve estar a serviço da fraternidade universal.
Assim, o
movimento espírita, ao mesmo tempo em que se renova, é chamado a assumir a
responsabilidade de divulgar, esclarecer e educar com ética, lucidez e
transparência, utilizando as ferramentas do presente sem jamais esquecer os
princípios eternos da lei de Deus.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro
dos Espíritos. 1857.
- KARDEC, Allan. A Gênese.
1868.
- KARDEC, Allan. Revista
Espírita (1858-1869).
- FRANZOLIM, Ivan René. Reflexões
sobre o movimento espírita organizado e sua doutrina, publicadas na
imprensa espírita. Livro Eletrônico Virtual, 1ª edição, 1996.
- XAVIER, Francisco Cândido. O
Consolador. Pelo Espírito Emmanuel.
- LACERDA, A. J. S. Ética e
Espiritismo. FEB, 2005.
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