sábado, 11 de outubro de 2025

O DECLÍNIO DOS FENÔMENOS MEDIÚNICOS
DE EFEITOS FÍSICOS
UMA ANÁLISE À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA
E DA PESQUISA CONTEMPORÂNEA
- A Era do Espírito -

Introdução

Nas últimas décadas, observa-se um aparente declínio dos fenômenos mediúnicos de efeitos físicos — manifestações materiais produzidas pela ação dos Espíritos sobre a matéria — quando comparados à impressionante intensidade registrada entre o final do século XIX e o início do século XX. Naquele período, nomes como Florence Cook, Daniel Dunglas Home, Eusápia Paladino e William Crookes protagonizaram experiências que marcaram a história da investigação psíquica e abriram as portas para o nascimento da ciência espírita.

Hoje, entretanto, o cenário parece outro. A ausência de fenômenos de igual magnitude — ou de pesquisas que os estudem com o mesmo rigor — tem suscitado perguntas: os fenômenos cessaram, ou apenas deixaram de ser investigados? Teriam os médiuns desaparecido, ou os Espíritos decidido interromper a sua produção ostensiva?

Este artigo propõe uma reflexão racional e doutrinária sobre esse declínio, à luz da Codificação Espírita de Allan Kardec e da Revista Espírita (1858–1869), integrando também interpretações contemporâneas da parapsicologia e das ciências da consciência.


1. O auge das pesquisas e o nascimento da ciência espírita

Entre 1850 e 1930, as investigações sobre fenômenos paranormais — especialmente os de efeitos físicos — ocuparam lugar de destaque nas academias europeias. Cientistas como William Crookes, Alfred Russel Wallace, Camille Flammarion, Cesare Lombroso e Ernesto Bozzano reconheceram a autenticidade de fenômenos que desafiavam as leis conhecidas da física.

Allan Kardec, desde O Livro dos Médiuns (1861), advertira que esses fenômenos, embora extraordinários, não constituíam o objetivo principal do Espiritismo, mas um meio de convencimento inicial diante do materialismo triunfante de seu tempo. Segundo ele:

“O Espiritismo não veio destruir as leis da Natureza, mas completá-las e mostrá-las sob um novo aspecto.” (O Livro dos Médiuns, cap. I).

Naquele contexto, os fenômenos ostensivos foram instrumentos pedagógicos, destinados a chamar a atenção do mundo científico para a realidade espiritual.

2. O declínio e as hipóteses contemporâneas

A partir da metade do século XX, observou-se um recuo significativo dos chamados macros fenômenos. Pesquisadores como Ian Stevenson e John Beloff levantaram hipóteses diversas: o ceticismo científico crescente, o medo de ridicularização entre pares acadêmicos, a ausência de médiuns preparados e até ciclos culturais semelhantes aos das artes, nos quais certos movimentos surgem e desaparecem com o tempo.

De fato, o paradigma materialista dominante exerceu forte influência. Stevenson (1987) observou que o ceticismo derivado desse materialismo “pode inibir a ocorrência de fenômenos paranormais importantes”, sugerindo que as manifestações poderiam ocorrer com mais frequência em contextos culturais menos racionalistas.

No entanto, como observa Kardec na Revista Espírita (dezembro de 1868), os Espíritos não atuam mecanicamente:

“Há um tempo para tudo: o tempo dos fenômenos materiais e o tempo dos fenômenos intelectuais.”

Ou seja, os Espíritos superiores não se sujeitam às expectativas humanas. Manifestam-se conforme a necessidade moral e pedagógica da humanidade, não segundo a curiosidade científica.

3. A explicação espírita: a pedagogia espiritual dos fenômenos

A Doutrina Espírita fornece uma explicação coerente para a aparente “decadência” dos fenômenos de efeitos físicos. Allan Kardec ensina que esses acontecimentos são produzidos pela ação inteligente de Espíritos sobre o fluido universal, mas subordinados a uma finalidade moral.

Durante o século XIX, a humanidade necessitava de provas palpáveis da sobrevivência da alma para romper com o materialismo positivista que negava toda realidade espiritual. Uma vez atingido esse objetivo inicial, a ênfase natural deslocou-se para o aspecto moral e racional da doutrina.

A partir desse ponto, a Espiritualidade Superior parece ter reduzido a frequência dos fenômenos ostensivos para incentivar o progresso interior, a transformação íntima e o uso consciente da razão — em conformidade com a máxima evangélica:

“Bem-aventurados os que não viram e creram.” (João 20:29).

Essa pedagogia espiritual se alinha à observação de Kardec em A Gênese (cap. XIV):

“Os Espíritos não vêm para deslumbrar os olhos, mas para iluminar as consciências.”

Portanto, a redução dos fenômenos não indica uma retração da ação espiritual, mas um avanço do plano educativo em que a humanidade se encontra.


4. A pesquisa psíquica moderna e o desafio do método

Com o advento da parapsicologia, especialmente com Joseph B. Rhine nos anos 1930, as experiências com médiuns deram lugar a estudos estatísticos sobre percepção extrassensorial (ESP) e psicocinesia. Embora mais “cientificamente aceitável”, essa abordagem afastou-se dos fenômenos espirituais de grande impacto e restringiu-se a resultados probabilísticos, muitas vezes inconclusivos.

A partir dos anos 1980, experimentos como o Scole Report (Reino Unido, 1999) reacenderam o interesse pelos fenômenos físicos, relatando comunicações e materializações documentadas sob condições controladas. Contudo, o tema segue marginalizado pela ciência oficial.

No Brasil — país com ambiente cultural mais aberto à espiritualidade — o campo de pesquisa permanece praticamente inexplorado. Centros espíritas, em sua maioria, priorizam o aspecto moral e educativo da doutrina, o que é coerente com sua finalidade, mas deixa em aberto a dimensão científica do Espiritismo, como originalmente proposta por Kardec.

5. O papel do Espiritismo na era da consciência e da tecnologia

No século XXI, novas fronteiras se abrem. A física quântica, as neurociências e os estudos sobre consciência começam a questionar os limites do materialismo clássico. Em paralelo, tecnologias digitais e inteligência artificial permitem registrar, analisar e reproduzir fenômenos com precisão inédita.

A Doutrina Espírita pode oferecer à ciência contemporânea uma epistemologia renovadora, ao propor que o objeto de estudo — o Espírito — possui vontade, intencionalidade e moralidade, elementos ausentes em outras disciplinas. Isso implica uma metodologia interdisciplinar que una razão, ética e espiritualidade.

Mais do que repetir fenômenos passados, o desafio atual é compreender a relação entre mente e matéria, entre o Espírito e os campos sutis da vida, à luz das leis universais reveladas pelos Espíritos superiores.

Conclusão

O aparente desaparecimento dos fenômenos mediúnicos de efeitos físicos não representa um retrocesso, mas uma transição pedagógica no plano espiritual. A humanidade, amadurecida pela razão e pela ciência, é convidada agora a experimentar a fé raciocinada — não mais através de mesas girantes ou materializações, mas pela compreensão profunda das leis morais e espirituais que regem o universo.

A nova fase da pesquisa espírita, portanto, não deve buscar o espetáculo, mas a integração entre ciência, filosofia e moral — o tríplice aspecto do Espiritismo que Allan Kardec tão claramente definiu.

Como ensinou o Espírito de Verdade:

“Espíritas! Amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo.” (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VI).

Talvez a próxima “onda” mencionada por Beloff não venha das materializações, mas da iluminação interior que conduz a humanidade ao entendimento de sua verdadeira natureza espiritual.

Referências

  • ALLAN KARDEC. O Livro dos Médiuns. 2ª ed. FEB, 2021.
  • ALLAN KARDEC. A Gênese. FEB, 2021.
  • ALLAN KARDEC. Revista Espírita (1858–1869). Ed. FEB, diversos volumes.
  • BELOFF, John. Philosophical Implications of Parapsychology. Londres: Macmillan, 1990.
  • STEVENSON, Ian. Thoughts on the Decline of Major Paranormal Phenomena. Journal of the Society for Psychical Research, 1987.
  • RHINE, J. B. Extra-Sensory Perception. Boston: Boston Society for Psychic Research, 1934.
  • SOLOMON, Grant & Jane. The Scole Experiment: Scientific Evidence for Life After Death. Londres: Judy Piatkus, 1999.
  • MENDONÇA, Maurício. A Decadência dos Fenômenos Mediúnicos de Efeitos Físicos. Artigo, 2006.

 

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