domingo, 12 de outubro de 2025

VOAR MAIS ALTO UMA LEITURA ESPÍRITA
DE NEL BLU DIPINTO DI BLU (VOLARE)
- A Era do Espírito -

Introdução

Quando Domenico Modugno lançou Nel blu dipinto di blu em 1958 — conhecida mundialmente como Volare —, o mundo vivia intensas transformações culturais. A música, envolta em melodia alegre e poética, tornou-se um hino universal de liberdade e felicidade. Mais do que um sucesso musical, sua mensagem transcende o romantismo e toca o âmago da alma humana: o desejo de elevar-se, de libertar-se das limitações e reencontrar a verdadeira alegria. Sob a ótica da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, essa canção pode ser compreendida como uma simbólica expressão do anseio do Espírito pela transcendência — o impulso natural de buscar o infinito, a harmonia e o amor divino.

O voo como símbolo espiritual

O ato de “voar” é uma das imagens mais recorrentes nas tradições espirituais da humanidade. Na canção, o personagem “voa no azul pintado de azul”, como se a própria alma, liberta das amarras da matéria, experimentasse o êxtase de existir em comunhão com o universo. Esse movimento ascensional remete diretamente à emancipação do Espírito, descrita por Allan Kardec em O Livro dos Espíritos (questões 400 a 412), quando o ser humano, durante o sono ou após a morte, se liberta parcialmente do corpo físico e reencontra a liberdade de seu estado espiritual.

No “céu infinito” de Modugno, o voo representa o desprendimento do ego e das preocupações materiais. É a imagem poética da alma que recorda sua origem divina, sua essência luminosa. A alegria de “voar feliz, mais alto que o sol” traduz a elevação moral e espiritual que o Espiritismo ensina como meta evolutiva do ser humano: aproximar-se, por meio do amor e da virtude, das esferas superiores da vida.

O sonho e o despertar da consciência

A canção inicia-se como um sonho — um estado em que o Espírito experimenta a realidade espiritual de modo simbólico e libertador. “Eu acho que um sonho como este nunca mais voltará”, diz o compositor, expressando o sentimento de plenitude que o contato com o divino provoca. No entanto, como “todos os sonhos ao amanhecer se desvanecem”, o personagem desperta para o mundo físico, reencontrando a limitação da matéria.

Essa transição entre o sonho e o despertar é, espiritualmente, a passagem entre o estado de consciência ampliada e o retorno às provas terrenas. Contudo, a felicidade não se perde: ela se transforma. O azul do céu — símbolo do infinito — torna-se o azul dos olhos amados, ou seja, a felicidade transcendente encontra continuidade no amor humano. Como ensina O Evangelho segundo o Espiritismo (cap. XI), o amor é “de todos os sentimentos, o mais divino”, e sua vivência é o meio pelo qual o Espírito se eleva e se aproxima de Deus.

O amor como nova forma de voo

No segundo momento da música, o personagem “continua voando feliz”, mas agora “no azul dos seus olhos azuis”. A felicidade, antes buscada no sonho e na fantasia, é reencontrada no amor real, concreto, que o ancora à vida e ao mesmo tempo o eleva espiritualmente. Trata-se de um amor que não aprisiona, mas liberta; que não isola, mas harmoniza.

Sob a luz do Espiritismo, esse sentimento é reflexo do amor universal — a força divina que sustenta o cosmos e que o Espírito aprende a expressar nas suas relações. O “voar” deixa de ser apenas o símbolo da liberdade individual e torna-se a imagem da comunhão afetiva, da união de almas que evoluem juntas. O amor verdadeiro é, pois, o novo céu, onde a alma encontra paz e continuidade do sonho espiritual.

Conclusão

A canção Nel blu dipinto di blu revela, em sua simplicidade melódica, uma profunda alegoria da jornada espiritual. O voo simboliza a emancipação da alma; o sonho, o contato com o divino; o despertar, a volta à realidade material; e o amor, a fusão entre o céu e a Terra — entre o ideal e o real.

Assim, o Espírito, tal como o cantor, “voa e canta” no infinito da vida, alternando sonhos e despertares, provas e alegrias, até compreender que o verdadeiro azul do céu habita dentro de si mesmo. E quando descobre o amor como lei universal, encontra o equilíbrio perfeito entre voar e permanecer — entre o ideal e a ação, entre o céu e o coração.

Referências

  • Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. FEB.
  • Allan Kardec. O Evangelho segundo o Espiritismo. FEB.
  • Allan Kardec. Revista Espírita (1858–1869).
  • Domenico Modugno e Franco Migliacci. Nel blu dipinto di blu (Volare), 1958.
  • Léon Denis. O Problema do Ser e do Destino.
  • Revista Internacional de Espiritismo. Diversos artigos sobre arte e espiritualidade.

 

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