quinta-feira, 24 de julho de 2025

 

A PARÁBOLA DOS TALENTOS E A LEI DO PROGRESSO: UMA REFLEXÃO À LUZ DO EVANGELHO 
E DA DOUTRINA ESPÍRITA
- A Era do Espírito –
 

“Porque a todo o que já tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundância; mas ao que não tem, tirar-se-lhe-á até o que parece que tem.” (Mateus, 25:29)

A sublime parábola dos talentos, ensinada por Jesus e registrada no Evangelho de Mateus (25:14-30), revela não apenas uma lição sobre responsabilidade e iniciativa, mas aprofunda, simbolicamente, a grande Lei do Progresso que rege os destinos da Humanidade.

A Parábola e Seu Significado Espiritual

Jesus conta que um homem, prestes a ausentar-se, distribui seus bens a três servos: a um entrega cinco talentos, a outro dois e ao terceiro apenas um — “a cada um segundo a sua capacidade”. Ao retornar, chama-os para prestar contas. Os dois primeiros multiplicaram o que receberam; o terceiro, por medo, escondeu seu talento na terra, tornando-o improdutivo. O senhor então recompensa os dois primeiros e repreende severamente o terceiro.

Essa narrativa vai muito além de um ensino sobre dinheiro. O "talento" na parábola — originalmente uma moeda antiga — representa, espiritualmente, os dons, possibilidades e tarefas que cada criatura recebe de Deus, de acordo com seu grau de maturidade espiritual.

O Progresso é Lei da Criação

Segundo a Doutrina Espírita, especialmente em O Livro dos Espíritos, Livro III, Capítulo VI (questões 776 a 785), a Humanidade caminha sob a égide de leis divinas imutáveis. Uma delas é a Lei do Progresso, que impulsiona todos os seres, individuais e coletivos, ao aperfeiçoamento moral e intelectual.

Deus, o Pai Amoroso, concede a cada Espírito — ao reencarnar — tarefas e instrumentos específicos para sua evolução. Uns são chamados a missões amplas, influenciando multidões. Outros têm desafios e aprendizados no seio familiar ou no ambiente profissional. Todos, sem exceção, têm responsabilidades a cumprir e talentos a desenvolver.

Multiplicar os Talentos é Cumprir a Missão

Na linguagem simbólica da parábola, os servos fiéis são aqueles que, com coragem e esforço, utilizam os recursos concedidos para o bem comum. Já o servo medroso e submisso representa aqueles que, por insegurança, desânimo ou orgulho, enterram suas oportunidades, recusando-se a crescer ou a contribuir com a obra divina.

Multiplicar talentos é, portanto, colocar em ação os dons recebidos, mesmo diante das dificuldades. É enfrentar a vida com responsabilidade, dedicação e fé. O talento mal utilizado ou negligenciado perde sua razão de ser, sendo recolhido e entregue a quem sabe valorizá-lo.

Exemplos Simbólicos de Talentos

A título de ilustração, podemos compreender os talentos como virtudes e possibilidades que todos possuímos em alguma medida:

- Saúde → Respeitada, gera tempo produtivo;

- Riqueza → Bem distribuída, desperta a gratidão;

- Habilidade → Usada com justiça, conquista a estima;

- Discernimento → Empregado com equilíbrio, produz sabedoria;

- Autoridade → Exercida com amor, gera ordem e harmonia;

- Inteligência → Aplicada ao bem, promove trabalho e inovação;

- Poder → Submetido à vontade divina, constrói progresso e justiça;

- Dor → Vivida com resignação, se transforma em crescimento espiritual.

A Subserviência: Obstáculo ao Progresso Pessoal

Um dos maiores inimigos da multiplicação dos talentos é a subserviência, entendida como a submissão servil e a anulação do próprio pensamento ou vontade, por medo de desagradar, de errar ou de enfrentar desafios. Tal postura bloqueia o florescimento das potencialidades e compromete o progresso pessoal e coletivo.

A subserviência se expressa:

- Pela bajulação, que sufoca a autenticidade;

- Pela renúncia injustificada à própria opinião;

- Pela fuga do enfrentamento construtivo com familiares, companheiros e colegas;

- Pela omissão diante de injustiças ou desmandos;

- Pela preguiça espiritual, que prefere enterrar o talento à custa da segurança ilusória.

Como alerta a Doutrina Espírita, essa postura de passividade não é humildade, mas deserção de compromissos assumidos antes da encarnação. A Lei de Deus exige esforço, iniciativa e ação constante no bem.

Emmanuel e o Convite à Fraternidade Ativa

O Espírito Emmanuel, em O Consolador, reforça esse chamado ao progresso pela ação fraterna. Ensina que, apesar das desigualdades naturais, a fraternidade é a base da convivência justa, sustentada pela cooperação sincera, pela abnegação e pelo testemunho silencioso do bem.

Ele afirma:

“Quem se ilumina, cumpre a missão da luz sobre a Terra. E a luz não necessita de outros processos para revelar a verdade, senão o de irradiar espontaneamente o tesouro de si mesma.” (Emmanuel, O Consolador, questão 146)

E ainda:

“Esse amor [a si mesmo] deve traduzir-se em esforço próprio, em autoeducação, em observação do dever, em obediência às leis de realização e de trabalho, em perseverança na fé...” (Idem, questão 95)

Cada um de nós tem um lugar específico no concerto da Criação. A multiplicação dos talentos, seja qual for o nosso campo de ação, é um imperativo do Espírito imortal, que caminha, reencarnação após reencarnação, rumo à perfeição relativa que Deus lhe reserva.

Conclusão: Da Omissão ao Testemunho

A parábola dos talentos continua viva como um apelo amoroso à responsabilidade espiritual. Seremos todos chamados a prestar contas do que fizemos com as bênçãos recebidas. Que não sejamos servos temerosos, mas trabalhadores fiéis do bem, que entendem que o maior fracasso é não tentar, é calar quando se deve falar, é esconder quando se pode brilhar, é reter quando se pode amar.

Multipliquemos, pois, os talentos que nos foram confiados — mesmo que seja apenas um. Nele pode estar a chave da nossa libertação.

Referências
O Evangelho segundo Mateus, capítulo 25, versículos 14 a 30.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos – Livro III – Capítulo VI – Lei do Progresso (questões 776 a 785).
KARDEC, Allan. A Gênese.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.
KARDEC, Allan. Revista Espírita.
XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador. Pelo Espírito Emmanuel.
XAVIER, Francisco Cândido. Fonte Viva.
Bíblia de Jerusalém.

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