“Porque a todo o que já tem, dar-se-lhe-á, e terá
em abundância; mas ao que não tem, tirar-se-lhe-á até o que parece que tem.” (Mateus, 25:29)
A sublime parábola dos talentos, ensinada por Jesus
e registrada no Evangelho de Mateus (25:14-30), revela não apenas uma lição
sobre responsabilidade e iniciativa, mas aprofunda, simbolicamente, a grande
Lei do Progresso que rege os destinos da Humanidade.
A Parábola e Seu Significado
Espiritual
Jesus conta que um homem, prestes a ausentar-se,
distribui seus bens a três servos: a um entrega cinco talentos, a outro dois e
ao terceiro apenas um — “a cada um segundo a sua capacidade”. Ao retornar,
chama-os para prestar contas. Os dois primeiros multiplicaram o que receberam;
o terceiro, por medo, escondeu seu talento na terra, tornando-o improdutivo. O
senhor então recompensa os dois primeiros e repreende severamente o terceiro.
Essa narrativa vai muito além de um ensino sobre
dinheiro. O "talento" na parábola — originalmente uma moeda antiga —
representa, espiritualmente, os dons, possibilidades e tarefas que cada
criatura recebe de Deus, de acordo com seu grau de maturidade espiritual.
O Progresso é Lei da Criação
Segundo a Doutrina Espírita, especialmente
em O Livro dos Espíritos, Livro III, Capítulo VI (questões 776 a 785), a
Humanidade caminha sob a égide de leis divinas imutáveis. Uma delas é a Lei
do Progresso, que impulsiona todos os seres, individuais e coletivos, ao
aperfeiçoamento moral e intelectual.
Deus, o Pai Amoroso, concede a cada Espírito — ao
reencarnar — tarefas e instrumentos específicos para sua evolução. Uns são
chamados a missões amplas, influenciando multidões. Outros têm desafios e
aprendizados no seio familiar ou no ambiente profissional. Todos, sem exceção,
têm responsabilidades a cumprir e talentos a desenvolver.
Multiplicar os Talentos é Cumprir
a Missão
Na linguagem simbólica da parábola, os servos fiéis
são aqueles que, com coragem e esforço, utilizam os recursos concedidos para o
bem comum. Já o servo medroso e submisso representa aqueles que, por
insegurança, desânimo ou orgulho, enterram suas oportunidades, recusando-se a
crescer ou a contribuir com a obra divina.
Multiplicar talentos é, portanto, colocar em
ação os dons recebidos, mesmo diante das dificuldades. É enfrentar a vida
com responsabilidade, dedicação e fé. O talento mal utilizado ou negligenciado
perde sua razão de ser, sendo recolhido e entregue a quem sabe valorizá-lo.
Exemplos Simbólicos de Talentos
A título de ilustração, podemos compreender os
talentos como virtudes e possibilidades que todos possuímos em alguma medida:
- Saúde → Respeitada, gera tempo produtivo;
- Riqueza → Bem distribuída, desperta a gratidão;
- Habilidade → Usada com justiça, conquista a estima;
- Discernimento → Empregado com equilíbrio, produz sabedoria;
- Autoridade → Exercida com amor, gera ordem e harmonia;
- Inteligência → Aplicada ao bem, promove trabalho e inovação;
- Poder → Submetido à vontade divina, constrói progresso
e justiça;
- Dor → Vivida com resignação, se transforma em crescimento
espiritual.
A Subserviência: Obstáculo ao
Progresso Pessoal
Um dos maiores inimigos da multiplicação dos
talentos é a subserviência, entendida como a submissão servil e a
anulação do próprio pensamento ou vontade, por medo de desagradar, de errar ou
de enfrentar desafios. Tal postura bloqueia o florescimento das potencialidades
e compromete o progresso pessoal e coletivo.
A subserviência se expressa:
- Pela
bajulação, que sufoca a autenticidade;
- Pela
renúncia injustificada à própria opinião;
- Pela
fuga do enfrentamento construtivo com familiares, companheiros e
colegas;
- Pela
omissão diante de injustiças ou desmandos;
- Pela
preguiça espiritual, que prefere enterrar o talento à custa da segurança
ilusória.
Como alerta a Doutrina Espírita, essa postura de
passividade não é humildade, mas deserção de compromissos assumidos
antes da encarnação. A Lei de Deus exige esforço, iniciativa e ação constante
no bem.
Emmanuel e o Convite à
Fraternidade Ativa
O Espírito Emmanuel, em O Consolador,
reforça esse chamado ao progresso pela ação fraterna. Ensina que, apesar das
desigualdades naturais, a fraternidade é a base da convivência justa,
sustentada pela cooperação sincera, pela abnegação e pelo testemunho silencioso
do bem.
Ele afirma:
“Quem
se ilumina, cumpre a missão da luz sobre a Terra. E a luz não necessita de
outros processos para revelar a verdade, senão o de irradiar espontaneamente o
tesouro de si mesma.” (Emmanuel,
O Consolador, questão 146)
E ainda:
“Esse
amor [a si mesmo] deve traduzir-se em esforço próprio, em autoeducação, em
observação do dever, em obediência às leis de realização e de trabalho, em
perseverança na fé...” (Idem,
questão 95)
Cada um de nós tem um lugar específico no concerto
da Criação. A multiplicação dos talentos, seja qual for o nosso campo de ação,
é um imperativo do Espírito imortal, que caminha, reencarnação após
reencarnação, rumo à perfeição relativa que Deus lhe reserva.
Conclusão: Da Omissão ao
Testemunho
A parábola dos talentos continua viva como um apelo
amoroso à responsabilidade espiritual. Seremos todos chamados a prestar contas
do que fizemos com as bênçãos recebidas. Que não sejamos servos temerosos, mas
trabalhadores fiéis do bem, que entendem que o maior fracasso é não tentar, é
calar quando se deve falar, é esconder quando se pode brilhar, é reter quando
se pode amar.
Multipliquemos, pois, os talentos que nos foram
confiados — mesmo que seja apenas um. Nele pode estar a chave da nossa
libertação.
O Evangelho segundo Mateus, capítulo 25, versículos 14 a 30.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos – Livro III – Capítulo VI – Lei do Progresso (questões 776 a 785).
KARDEC, Allan. A Gênese.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.
KARDEC, Allan. Revista Espírita.
XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador. Pelo Espírito Emmanuel.
XAVIER, Francisco Cândido. Fonte Viva.
Bíblia de Jerusalém.
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