Allan
Kardec (1804–1869), o codificador da Doutrina Espírita, dedicou os últimos
quinze anos de sua vida à sistematização, organização e divulgação dos
ensinamentos dos Espíritos Superiores. Através de um trabalho metódico,
criterioso e sempre fundamentado no raciocínio e na moral cristã, Kardec
publicou uma série de obras que compõem a base doutrinária do Espiritismo.
Este
artigo apresenta essas obras em ordem cronológica, destacando seu conteúdo,
objetivo e importância dentro do conjunto doutrinário.
O Livro dos Espíritos (1857)
Primeira
obra da Codificação Espírita, é o marco inaugural da Doutrina. Resultado do
ensino coletivo dos Espíritos, organizado por Kardec, apresenta os princípios
do Espiritismo sobre a imortalidade da alma, a natureza dos Espíritos, as leis
morais, a vida presente e futura.
A
primeira edição continha 501 perguntas, divididas em três partes. Em 1860,
Kardec lançou a segunda edição definitiva, com 1019 perguntas organizadas em
quatro partes.
Revista Espírita – Jornal de Estudos Psicológicos (1858–1869)
Periódico
mensal dirigido por Allan Kardec, serviu como laboratório de experimentações
doutrinárias e ponto de contato com o movimento espírita em formação. Publicava
relatos de manifestações, evocações, comunicações espirituais, análises
filosóficas, estudos científicos e históricos.
Kardec
a definiu como:
“O
relato das manifestações materiais ou inteligentes dos Espíritos, aparições,
evocações, etc., bem como todas as notícias relativas ao Espiritismo.”
Instruções Práticas sobre as Manifestações
Espíritas
(1858)
Primeira
tentativa de sistematizar a prática mediúnica. Foi posteriormente substituída
por O Livro dos Médiuns, lançado em 1861, mais completo e aprofundado.
O que é o Espiritismo (1859)
Uma
introdução didática e acessível à Doutrina Espírita, com perguntas e respostas
sobre os principais conceitos, ideal para iniciantes. Contém ainda respostas a
objeções frequentes de céticos e curiosos.
O Livro dos Médiuns (1861)
Considerado
o livro científico da Doutrina Espírita, trata da teoria e prática das
manifestações mediúnicas. Explica os tipos de mediunidade, os perigos e os
cuidados necessários. É continuação direta de O Livro dos Espíritos,
sendo indispensável para os que desejam estudar ou exercer a mediunidade com
segurança e responsabilidade.
O Espiritismo na sua Mais Simples Expressão (1862)
Obra
breve e objetiva, escrita com o intuito de popularizar os fundamentos do
Espiritismo. Resume em poucas páginas os princípios doutrinários.
Viagem Espírita em 1862 (1862)
Relato
das viagens de Kardec pelas cidades francesas para divulgar a Doutrina. Contém
orientações práticas sobre a formação de grupos e sociedades espíritas, discursos
e o modelo de estatuto elaborado por ele.
Resposta à Mensagem dos Espíritas Lioneses por
Ocasião do Ano Novo (1862)
Opúsculo
em forma de carta, em que Kardec responde à saudação do movimento espírita de
Lyon, sua cidade natal. Traz orientações fraternas e incentivos ao
fortalecimento do Espiritismo.
O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864)
Obra
moral da Codificação, aprofunda o ensinamento ético de Jesus à luz da Doutrina
Espírita. Contém instruções dos Espíritos sobre os ensinamentos do Cristo e sua
aplicação prática. A primeira edição chamava-se Imitação do Evangelho
Segundo o Espiritismo, título alterado na segunda edição (1865).
Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas ou Primeira
Iniciação
(1864)
Obra
de circulação mais restrita, de caráter introdutório, apresentando os
princípios básicos do Espiritismo para os iniciantes.
Coleção de Composições Inéditas (1865)
Pequeno
volume que reúne trechos e textos que posteriormente integrariam O Evangelho
Segundo o Espiritismo.
O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina Segundo o
Espiritismo
(1865)
Analisa
a justiça divina à luz da razão e do Espiritismo. Divide-se em duas partes: a
primeira, doutrinária; a segunda, com depoimentos de Espíritos desencarnados.
Amplia os conceitos de penas e recompensas futuras, e trata de temas como
anjos, demônios, inferno e purgatório.
Coleção de Preces Espíritas (1865)
Reunião
de orações extraídas do capítulo 28 de O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Indicado para momentos de prece individual e coletiva.
Estudo Acerca da Poesia Mediúnica (1867)
Obra
que analisa comunicações poéticas recebidas mediunicamente pelo médium
Vavasseur, com comentários doutrinários de Kardec.
Caracteres da Revelação Espírita (1868)
Texto
que discute os critérios da revelação espírita, abordando seu caráter racional
e progressivo. Mais tarde, foi inserido como o capítulo I da obra A Gênese.
A Gênese, os Milagres e as Predições Segundo o
Espiritismo
(1868)
Última
obra da Codificação. Trata da criação do Universo, da Terra e da Humanidade,
segundo a ciência e a espiritualidade. Analisa os milagres de Jesus e as
profecias à luz das leis naturais e espirituais. Divide-se em duas partes: a
primeira, científica; a segunda, evangélica e profética.
Catálogo Racional das Obras para se Fundar uma
Biblioteca Espírita (1869)
Obra
publicada pouco antes do desencarne de Kardec, lista livros recomendados para
estudos espíritas. Nela, Kardec afirma:
“Proibir um livro é dar
mostras de que o tememos. O Espiritismo, longe de temer a divulgação dos
escritos publicados contra ele, chama a atenção destes e do público para tais
obras, a fim de que possam julgar por comparação.”
Obras Póstumas (1890)
Publicada
após o desencarne do codificador, reúne textos inéditos deixados por ele.
Apresenta reflexões sobre temas como ciência, religião, política, artes e o
futuro do Espiritismo. Importante para compreender o pensamento profundo e
visionário de Kardec.
Conclusão
As
obras de Allan Kardec representam um corpo doutrinário coerente, progressivo e
acessível a todas as pessoas. Estudá-las em sua ordem cronológica é compreender
o desenvolvimento da Doutrina Espírita, desde suas bases filosóficas e morais
até suas implicações práticas e científicas.
Mais
do que um legado literário, trata-se de um projeto espiritual para a regeneração
da humanidade, com base na razão, na fé consciente e no amor ao próximo.
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