Inspirado no poema “Sublime Melodia”
A poesia, quando inspirada pelas verdades eternas,
torna-se um eco do mundo espiritual. O poema Sublime Melodia, é uma
dessas expressões sublimes que, sob o véu da metáfora e da sensibilidade,
revela princípios profundos da Doutrina Espírita. Nele, encontramos não apenas
lirismo, mas uma síntese poética das leis que regem o Universo, conforme
ensinadas pelos Espíritos superiores e organizadas por Allan Kardec.
O Espiritual e o Material:
Interação Sob a Lei de Afinidade
O poema inicia com a afirmação da interação entre o
espiritual e o material, formando o "grande
astral". Essa visão está em perfeita consonância com os ensinamentos
de O Livro dos Espíritos, onde aprendemos que o mundo espiritual e o
mundo corporal não são realidades separadas, mas sim esferas interdependentes
que se influenciam mutuamente (LE, questões 85-87).
A “lei da
afinidade” mencionada no poema encontra respaldo doutrinário no princípio
das leis morais, especialmente na Lei de Sociedade e na Lei de Amor,
Justiça e Caridade. Os Espíritos afirmam que os seres se reúnem por afinidade
moral e vibratória, atraindo-se conforme o nível evolutivo, as inclinações e os
compromissos espirituais. Assim, o “grande
astral” é, espiritualmente falando, o campo fluídico de relações entre encarnados
e desencarnados, onde o Amor é a grande força de coesão, como bem sublinha a
poesia: "onde o Amor é celebridade."
Solidariedade: Base da Liberdade
e da Ordem Universal
A ideia de que só se firma a sociedade com
solidariedade é profundamente espírita. Em A Lei de Sociedade (LE,
questões 766-774), os Espíritos ensinam que o homem, criado para viver em
sociedade, precisa do outro para evoluir. A solidariedade é o princípio da
convivência harmoniosa e da caridade ativa.
Mais ainda, o poema aponta que é "isto sim,
[que] produz a verdadeira liberdade". Ora, a liberdade verdadeira,
para o Espiritismo, não é a ausência de leis, mas o progresso consciente em
sintonia com a Lei Divina. A liberdade nasce da moralidade e do amor ao
próximo. Só é livre quem sabe amar e servir, libertando-se do egoísmo e das
paixões inferiores.
Tudo se Concatena: A Evolução
Como Harmonia Progressiva
Em um dos trechos mais profundamente doutrinários
do poema, lemos:
"No Universo, tudo se concatena / do mais
simples ao mais complexo / do inculto ao mais sábio / do elementar até o
arcanjo."
Esta é uma belíssima síntese do princípio da evolução
espiritual, pedra angular da Doutrina Espírita. Todos os seres, desde os
mais rudimentares até os Espíritos puros, percorrem uma única estrada: a da
perfeição relativa. O Espírito é criado simples e ignorante, e progride
incessantemente através de múltiplas existências, adquirindo conhecimento e
virtude (LE, questão 115).
O que é "elementar" não é desprezível,
mas uma fase necessária da jornada. O "arcanjo",
na linguagem simbólica da poesia, representa o Espírito puro, que um dia foi,
como nós, ignorante e imperfeito, mas que conquistou, por esforço próprio, sua
elevação.
Individuação e Harmonia: A Nota
Singular no Acorde Divino
Outro ponto profundo da poesia aparece ao afirmar
que "cada ser em seu apogeu / não sofre substituição, / mas é sempre
sucedido / numa boa disposição." Isso reflete o princípio da
individualidade do Espírito e da responsabilidade pessoal.
No Espiritismo, cada Espírito é único, indivisível
e imortal. Não há “cópias” nem
substituições. No entanto, há uma sucessão natural no processo da evolução, em
que todos avançam, auxiliando-se mutuamente. Um Espírito que avança abre espaço
para que outros também cresçam. A “boa
disposição” não é acaso, mas a ordem moral e espiritual regida pela Lei
Divina.
A Música Cósmica: O Amor Como
Regente Universal
A imagem final do poema — “cada ente tem sua
nota” — é uma metáfora sublime da unicidade e da cooperação. A Criação é
como uma grande orquestra, onde cada Espírito tem sua própria vibração, sua “nota”, seu tom, sua missão. Quando essa
diversidade atua em consonância com o Amor, forma-se um acorde magistral,
uma sequência fundamental, que dá origem à sublime melodia universal.
Essa imagem é consonante com a visão de A Gênese,
capítulo XI, onde Kardec fala da harmonia das leis naturais e morais como
expressão da inteligência e da vontade divinas. A música cósmica do Amor é, no
fundo, a manifestação vibratória da Lei de Deus.
Assim, a sublime melodia não é um som audível, mas
uma vibração espiritual, perceptível à alma que já se sintoniza com a Lei do
Amor.
Conclusão: A Harmonia Que Nos
Espera
O poema Sublime Melodia nos conduz à
reflexão sobre nosso papel na grande sinfonia da Criação. Cada um de nós
carrega uma “nota” única, que deve ser afinada com as leis divinas por meio do
autoconhecimento, do esforço moral e do amor ao próximo.
O Espiritismo nos ensina que o destino de todos os
seres é a perfeição relativa, e que o Amor é o grande regente desse concerto
universal. Ao compreendermos a interdependência entre os mundos espiritual e
material, e ao praticarmos a solidariedade, damos nossa contribuição à grande
melodia da vida, que ecoa eternamente nos espaços do infinito.
Que possamos, portanto, ouvir e compor essa melodia
com os acordes do bem, da paz e da fraternidade, elevando-nos em espírito ao
som da mais pura das harmonias: a do Amor que rege os mundos.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB.
KARDEC, Allan. A Gênese. Capítulo XI – Gênese Espiritual. FEB.
KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Segunda Parte – Exemplos. FEB.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulos XI e XVII. FEB.
XAVIER, Francisco Cândido. Nosso Lar. Pelo Espírito André Luiz. FEB.
VIANNA DE CARVALHO, Manoel. Estudos Espíritas. LEAL.
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