segunda-feira, 14 de julho de 2025


AVALIE A SI MESMO
Elio Mollo


UMA OBSERVAÇÃO IMPORTANTE

Antes de adentrarmos o tema da transformação íntima, é útil compreendermos melhor o sentido das palavras que usamos com frequência:

Reformar: Restituir ou restabelecer à forma original.

Transformar: Alterar profundamente algo, modificar sua forma, natureza ou estrutura. Implica evolução ou mudança interior.

Modificar: Mudar uma característica sem afetar a essência do que é.

Alterar: Intervir no estado original, podendo causar degeneração ou apenas variação.

Neste estudo, adotamos a palavra transformação por considerá-la mais adequada às mudanças comportamentais e espirituais que buscamos realizar.

O QUE É TRANSFORMAÇÃO ÍNTIMA?

Transformação íntima é um processo contínuo de autoconhecimento e autoanálise, pelo qual buscamos libertar-nos das imperfeições morais, alcançar o domínio de nós mesmos e alinhar nossas ações com as leis divinas. É, sobretudo, um caminho de renovação do ser, de dentro para fora.

COMO NOS TRANSFORMAR?

A transformação se dá substituindo defeitos morais por virtudes espirituais. Por exemplo:

• Egoísmo → Caridade

• Orgulho → Humildade

• Inveja → Generosidade

• Ciúme → Confiança

• Agressividade → Serenidade

• Maledicência → Benevolência

• Intolerância → Tolerância e Perdão

Não se trata de um processo instantâneo. Pelo contrário, como disse Allan Kardec:

“Reconhece-se o verdadeiro Espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas más inclinações.” 
(O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 4) 

O importante não é a velocidade da mudança, mas o esforço constante, mesmo diante de tropeços e dificuldades. O progresso moral exige persistência, disciplina e vontade de crescer. Ainda que pareça não haver resultado imediato, o esforço sincero traz resultados duradouros. 

POR ONDE COMEÇAR?

O primeiro passo é o autoconhecimento. E, nesse ponto, Santo Agostinho, na resposta à questão 919a de O Livro dos Espíritos, nos oferece um método simples e poderoso: o exame de consciência diário.

Ele nos convida a revisar, todas as noites, os atos do dia, perguntando a nós mesmos:

• Cumpri meus deveres?

• Prejudiquei alguém?

• Agi com justiça e honestidade?

• Fiz algo que censuraria nos outros?

• Estaria em paz se Deus me chamasse hoje para retornar ao mundo espiritual?

Esse exercício, feito com sinceridade e humildade, é uma ferramenta poderosa para identificar nossos erros, consolidar acertos e promover as reformas necessárias. Santo Agostinho ainda aconselha: “Não desprezeis a opinião de vossos inimigos. Muitas vezes, eles são colocados ao vosso lado por Deus como espelhos que revelam vossas imperfeições.”

A TENDÊNCIA A JUSTIFICAR-SE

Temos o hábito de nos defender, de racionalizar os erros e transferir responsabilidades. Mas a verdadeira transformação exige autenticidade, vigilância emocional e coragem para reconhecer nossas sombras.

Devemos observar os momentos em que somos mais vulneráveis aos impulsos negativos e buscar ferramentas que nos ajudem a superá-los.

UM EXEMPLO PRÁTICO: BENJAMIN FRANKLIN

Benjamin Franklin, em sua autobiografia, criou um método de autoaperfeiçoamento baseado em 13 virtudes. Sua proposta era cultivar uma por semana, revisando-as constantemente. Entre as virtudes, destacam-se:

Temperança: Moderação na alimentação e bebida.

Silêncio: Evitar conversas fúteis.

Ordem: Organização no espaço e no tempo.

Resolução: Cumprir os compromissos assumidos.

Frugalidade: Usar recursos com sabedoria.

Diligência: Manter-se ocupado com o útil.

Sinceridade: Agir e falar com honestidade.

Justiça: Respeitar os direitos alheios.

Moderação: Evitar excessos e ressentimentos.

• Asseio: Limpeza no corpo, vestuário e ambiente.

• Tranquilidade: Evitar perturbações por causas triviais.

Castidade: Moderação e responsabilidade sexual. (ver Nota) 

Humildade: Inspirada em Jesus e Sócrates.

(Nota: A palavra "castidade" foi usada no contexto cultural e religioso do século XVIII. Hoje, poderíamos entender como "equilíbrio e respeito nas relações afetivo-sexuais.")

SOBRE AS QUEDAS

As quedas são parte natural do processo de crescimento. Assim como a criança aprende a andar tropeçando, também nós aprendemos a viver tropeçando na imperfeição.

O erro, quando analisado com humildade, se torna mestre. Ele nos ensina os pontos em que ainda precisamos crescer. O problema não é cair, mas desistir de levantar.

Se cairmos, que seja pela luta — não pela preguiça de acertar. Levantemo-nos com firmeza e sigamos em frente, fortalecidos pela experiência.

CONCLUSÃO: A PRÁTICA DIÁRIA DA TRANSFORMAÇÃO

A cada dia, antes de qualquer ação, façamos o seguinte questionamento:

“Isto que estou fazendo agora seria aprovado por Deus e pela minha consciência?”

Se a resposta for sim, prossigamos com confiança. Se não for, repensemos o ato. Essa atitude nos coloca no caminho da paz interior e da construção do Reino de Deus em nós.

Reforcemos, com as palavras de Santo Agostinho:

“A autoanálise diária vos dará ou o descanso da consciência ou a indicação do mal que deve ser curado.”

A transformação íntima é um trabalho para toda a vida. Requer estudo, oração, exercício moral, e sobretudo, esforço sincero e perseverante.

Se quisermos alcançar a felicidade verdadeira, devemos investir em nosso espírito eterno. A sociedade humana ainda caminhará lentamente, mas nós, conscientes do ideal de Jesus e iluminados pela Doutrina Espírita, já podemos iniciar essa grande obra dentro de nós.

A caridade é o ponto culminante dessa transformação. Ela nos impulsiona à solidariedade prática e nos liga à essência divina. Assim, com humildade e amor, realizamos a verdadeira alquimia espiritual: transformar o chumbo da imperfeição no ouro da virtude.

Referências:
O Livro dos Espíritos – Allan Kardec
O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec
Reforma íntima (artigo) - Paulo Antonio Ferreira -
http://home.ism.com.br/~pauloaf/
Manual Prático do Espírita de Ney Prieto Peres, da Editora Pensamento.
Fundamentos da Reforma Íntima - Abel Glaser pelo Espírito Caibar Schutel, da Editora O Clarim.
Reforma Íntima (artigo) - João Batista Armani -
 http://www.espirito.org.br/portal/palestras/diversos/reforma-intima.html

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