"Até quando cairemos, sem aprender as lições
da queda...
Até quando faremos escolhas egoístas, quando tudo aponta para uma vida de
colaboração...
Até quando nos perderemos por tão pouco, confundindo o que é meio com o que é
fim...
Até quando afundaremos na lama... segurando o fôlego, em agonia, desejando
estar em outro lugar..."
Essas perguntas comoventes, escritas por Andrey
Cechelero em seu poema BASTA!, funcionam como um espelho da
consciência humana diante das dores evitáveis que repetimos por escolhas mal
dirigidas. São gritos de alma, revelando um cansaço moral que clama por
regeneração.
Neste artigo, refletimos sobre o profundo
simbolismo desse "basta", à luz da Doutrina Espírita
codificada por Allan Kardec — não como uma negação do passado, mas como o ponto
de partida para uma nova trajetória espiritual.
A Mudança como Ato de Vontade e Progresso do
Espírito
O Espiritismo ensina que o progresso é resultado da
vontade aplicada à transformação moral. O “basta” surge como fruto do
livre-arbítrio — esse dom que nos permite escolher entre continuar caindo ou
levantar e crescer.
“O
Espírito tem o livre-arbítrio; ele pode, pois, ceder à influência dos bons ou
dos maus Espíritos.” (O Livro
dos Espíritos, q. 466)
Nenhum Espírito é forçado a evoluir. A dor pode ser
mestra, mas a lição só é aprendida se o Espírito quiser. Assim, o “basta” é uma declaração de
independência moral. É quando a vontade rompe com a inércia e escolhe o bem.
O Basta como Ato Moral de
Regeneração
Na codificação, a regeneração espiritual é descrita
em três etapas: arrependimento, expiação e reparação. O “basta” é o momento decisivo em que o
arrependimento se transforma em ação.
“O
arrependimento é o primeiro passo para a regeneração; mas só as provas e a
reparação podem anular o efeito e apagar completamente a infração.” (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V,
item 9)
Enquanto o remorso paralisa, o “basta” dinamiza. Ele rompe o ciclo da repetição e inaugura a estrada
da responsabilidade.
Paulo, Magdala, Francisco –
Símbolos de Decisão
Os grandes nomes da história espiritual da
humanidade, como Paulo de Tarso, Maria de Magdala e Francisco
de Assis, são exemplos do poder de uma decisão sincera. Eles viveram o “basta” que os libertou de vidas
centradas em si mesmos e os colocou a serviço da luz.
“São
Espíritos superiores que vêm com uma missão, não para sua própria depuração,
mas para ajudar o progresso da humanidade.” (A Gênese, cap. XI, item 43)
Mesmo os missionários passaram por um ponto de
ruptura. O “basta” foi a virada que
lhes abriu caminho para sua verdadeira missão.
Os Choques Salutares da Vida
Kardec nos ensina que os sofrimentos têm função
educativa. Muitas vezes, é no limite da dor que o Espírito desperta para sua
responsabilidade diante da vida.
“Quando
o homem sofre, é que está resgatando o passado ou preparando o futuro.” (O Livro dos Espíritos, q. 737)
Assim, o “basta”
pode surgir no momento em que o Espírito, esgotado pelo peso de seus próprios
enganos, decide por um novo caminho.
O Basta como Início de uma Nova
Encarnação Moral
Em O Céu e o Inferno, vemos relatos de
Espíritos que, mesmo após a morte, reconhecem um instante decisivo como ponto
de mudança. É como se tivessem vivido uma nova encarnação interior — sem trocar
de corpo, mas de mentalidade.
Esse processo é ilustrado com beleza na obra Boa
Nova, quando Maria de Magdala encontra Jesus. Seu “basta” diante da misericórdia do Cristo foi a semente de uma vida
inteiramente renovada.
Ação Agora, com os Recursos que
Temos
A Doutrina Espírita é clara: não há tempo ideal
para a transformação. O momento é agora. Não precisamos esperar sermos
perfeitos para começar a fazer o bem.
“Reconhece-se
o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega
para domar suas más inclinações.” (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 4)
O esforço presente vale mais do que a intenção
futura. Cada passo no bem é já uma vitória sobre si mesmo.
Conclusão: O Basta como Sinal de
Despertamento Espiritual
O poema de Andrey
Cechelero nos convida a parar de adiar a mudança. A Doutrina Espírita
reforça que este momento de decisão é íntimo, individual e intransferível,
mas sempre assistido pelos bons Espíritos e inspirado pelo Cristo.
Dar um basta é assumir o comando da própria
evolução. É dizer, com coragem e fé: "Chega
do que fui. Eis o que posso me tornar."
Referências Doutrinárias:
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857. Questões: 23, 466, 737.KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1864. Cap. V, item 9; cap. XVII, item 4.
KARDEC, Allan. A Gênese. 1868. Cap. XI, item 43.
KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 1865. Segunda Parte – Exemplos.
XAVIER, Francisco Cândido. Boa Nova, pelo Espírito Humberto de Campos. Cap. 20 – “Maria de Magdala”.
CECHELERO, Andrey. Poema “BASTA!”
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