sábado, 26 de julho de 2025

 

DO POTENCIAL DIVINO À PERFEIÇÃO: 
A JORNADA DO ESPÍRITO IMORTAL
- A Era do Espírito –
 

Com Jesus, aprendemos uma verdade essencial: somos filhos de Deus. Essa filiação não é apenas simbólica ou afetiva — ela nos revela que carregamos em nós um potencial divino, e, portanto, estamos destinados à perfeição.

A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, nos ensina que o ser espiritual é criado por Deus simples e ignorante, ou seja, sem conhecimento e sem maldade, mas com todas as possibilidades de crescimento. À medida que vivencia as experiências da vida corporal e espiritual, o Espírito desenvolve sua inteligência, enriquece seus sentimentos e caminha rumo à pureza espiritual — à perfeição relativa que lhe está destinada.

Há, portanto, uma conexão entre essas duas afirmações: somos filhos de Deus, e fomos criados com o propósito de alcançar a perfeição. Como afirma “O Livro dos Espíritos” (questão 115):

“Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes. A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de os fazer chegar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade.”

Contudo, essa jornada de aperfeiçoamento exige esforço e conscientização. Muitas vezes, ignoramos nossa natureza espiritual e nos deixamos prender pelas ilusões da matéria. Esquecemos que somos herdeiros de Deus e nos apegamos aos excessos, às vaidades e às paixões desordenadas. Agimos como se pertencêssemos à Terra, quando, na verdade, nossa verdadeira pátria é o mundo espiritual.

Mas Deus, em sua infinita sabedoria e justiça, nos concedeu uma ferramenta valiosa para nosso progresso: a reencarnação. Por meio das múltiplas existências, temos tempo e oportunidade para corrigir nossos enganos, resgatar débitos e desenvolver virtudes. Somos, por assim dizer, garimpeiros de nós mesmos, descobrindo pouco a pouco o tesouro espiritual que habita em nosso íntimo.

Em dado momento dessa trajetória, ouvimos um chamado silencioso e profundo: a voz da consciência. Ela representa o reflexo das leis divinas em nós, como está colocado em “O Livro dos Espíritos” (questão 621): “Onde está escrita a lei de Deus? – Na consciência. Quando ela desperta, nos adverte, nos constrange ao bem, e nos conduz ao desejo de mudança. Mas desejar não basta — é preciso transformar esse desejo em vontade firme.

Como, então, fortalecer a vontade e realizar mudanças profundas?

  1. Conscientizar-se da necessidade da mudança: Admitir que certos comportamentos, atitudes ou pensamentos prejudicam nossa paz e a dos outros é o primeiro passo. É quando a consciência “pesa”.
  2. Conectar-se com Deus e com os Espíritos Superiores: Reconhecer que sozinhos somos frágeis, mas fortalecidos pelo amparo divino somos capazes de superar grandes dificuldades. Como afirma o apóstolo Paulo: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4:13).
  3. Comprometer-se com o dever: O dever é a consciência em ação. Ele começa no instante em que reconhecemos que nossas atitudes precisam mudar. “O dever é a obrigação moral perante si mesmo, primeiramente, e depois perante os outros.” (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 7)

Ter senso de dever não é ser rígido com o outro, mas sim conosco mesmos. É ser severo diante da tentação e humilde perante a dor. Um exemplo cotidiano: alguém que deixa um vício após perceber suas consequências negativas, por respeito à própria saúde e à vida que Deus lhe confiou. Nesse processo, o apoio espiritual e a fé são essenciais.

A Doutrina Espírita amplia nossa visão de mundo e nos orienta a viver de forma mais consciente. Com ela, entendemos que “tudo nos é lícito, mas nem tudo nos convém” (1 Coríntios 6:12), e que a vida na Terra é uma escola, onde nos libertamos das amarras materiais e desenvolvemos as potencialidades do Espírito.

Como bem expressa Pierre Teilhard de Chardin: “Não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual, somos Espíritos vivendo uma experiência humana.” Essa percepção nos conduz ao compromisso com a própria transformação.

Na escala espírita descrita por Kardec, o verdadeiro progresso se dá quando o Espírito passa da condição de imperfeito para a de bom Espírito, e, por fim, à de Espírito puro — aquele que nada mais tem a aprender ou sofrer. Esse é o destino de todos nós. Como bem diz “O Evangelho Segundo o Espiritismo”: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que faz para domar suas más inclinações.” (Cap. XVII, item 4)

Assim, cada um de nós tem algo a transformar. Podemos iniciar esse processo hoje, por decisão consciente, ou esperar que a dor nos chame à mudança. O livre-arbítrio é nosso. Mas o progresso é inevitável, pois essa é a Lei.

Que possamos, ao final de nossa jornada terrena, olhar para trás com alegria, certos de que soubemos aproveitar as oportunidades, vencer a nós mesmos e trilhar o caminho do bem com dignidade.

Referências doutrinárias:

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, questões 115, 120, 621.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XVII, itens 4 e 7.
  • KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno, 2ª parte – Exemplos.
  • PAULO, Apóstolo. Epístola aos Filipenses 4:13; Epístola aos Coríntios 6:12.
  • TEILHARD DE CHARDIN, Pierre. O Fenômeno Humano.
  • KARDEC, Allan. A Gênese, cap. XI – Os fluidos.

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