Vivemos uma era de transformações tecnológicas vertiginosas. A Inteligência Artificial (IA) tem se destacado como uma poderosa ferramenta capaz de realizar tarefas complexas, simular padrões de raciocínio e aprender com grandes volumes de dados. Naturalmente, o espanto diante dessas inovações leva muitos a questionarem: Será que a máquina substituirá o ser humano? Ou ainda: Estaríamos criando algo que nos superará?
Essas indagações, embora compreensíveis, demonstram mais do que um receio tecnológico: evidenciam a carência de dois conhecimentos essenciais — o conhecimento das leis da vida e o autoconhecimento, tal como ensinado pela Doutrina Espírita.
O Espírito é mais do que a Inteligência
O Espiritismo, codificado por Allan Kardec, ensina que o ser humano não é apenas corpo e inteligência. É, acima de tudo, um Espírito imortal, em processo contínuo de evolução. O Espírito, conforme define O Livro dos Espíritos, “é o ser inteligente da criação” (LE, questões 23 e 76), mas não se limita a ser um repositório de ideias ou a uma mente lógica. Ele possui vontade, consciência, liberdade, moralidade e sentimento.
Ainda que a IA consiga simular processos intelectuais, ela permanece como criação humana, carente de consciência própria. A inteligência das máquinas, por mais sofisticada que seja, é sempre instrumental, subordinada à finalidade com que foi programada. Falta-lhe aquilo que distingue o Espírito: a capacidade de amar, de intuir, de criar com liberdade moral e espiritual.
Criatividade e Inspiração: Potências do Espírito
A Doutrina Espírita também destaca a importância da imaginação e da intuição — capacidades do Espírito que vão além da lógica e da associação de dados. Conforme ensina A Gênese, Kardec afirma que a inspiração pode provir de Espíritos superiores e é frequentemente confundida com a criação pessoal:
“A inspiração, quer provenha de Espíritos, quer seja um reflexo do próprio Espírito encarnado, é sempre uma sugestão, um conselho que se dá” (A Gênese, cap. XVI, item 11).
Assim, mesmo nossas ideias mais geniais podem ter origem superior, e isso jamais será replicado por uma máquina desprovida de alma.
A Evolução Moral é o Grande Objetivo
O Espiritismo nos orienta a desenvolver não apenas a inteligência, mas também e sobretudo as qualidades do coração. Jesus, o Espírito mais elevado que já esteve na Terra, nos deu lições sublimes não pela lógica, mas pelo amor. Foi Ele quem ensinou: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (João 13:34). E Kardec reafirma que o verdadeiro progresso é moral:
“O progresso intelectual desenvolve o senso moral e, por sua vez, o progresso moral eleva o homem espiritualmente.” (O Livro dos Espíritos, questão 785).
Logo, o verdadeiro avanço humano não está na criação de máquinas inteligentes, mas na transformação íntima, no despertar da consciência para valores como empatia, caridade, perdão e solidariedade.
O Conhecimento de Si Mesmo
Diante da ascensão da Inteligência Artificial, talvez a pergunta mais importante seja: O que está em nós que não pode ser reproduzido por máquina alguma? A resposta está no convite milenar, resgatado pelo Espiritismo: “Homem, conhece-te a ti mesmo”.
Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos (questão 919), ao tratar do meio mais eficaz para se melhorar nesta vida e resistir ao arrastamento do mal, transcreve a célebre resposta de Santo Agostinho: o exame de consciência diário, o autoconhecimento constante.
Este é o campo de crescimento que nenhuma tecnologia poderá substituir. A IA poderá realizar tarefas que nos poupem tempo, organizar informações, facilitar processos. Mas a alma humana continuará sendo o campo da verdadeira evolução — aquela que nos aproxima de Deus.
Conclusão
Não temamos a Inteligência Artificial. Antes, utilizemo-la como ferramenta de progresso, sem jamais esquecer que nossas criações não nos definem nem nos substituem. Elas apenas nos liberam para cuidar daquilo que nenhuma máquina será capaz de realizar: o cultivo da alma, a construção do bem, a vivência do amor.
A maior inteligência que esteve entre nós foi a que mais viveu e ensinou o amor — Jesus. E Ele nos deixou o maior roteiro de evolução, que não é o da tecnologia, mas o do coração transformado pelo bem.
Referências doutrinárias
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB. Questões 23, 76, 785, 919.KARDEC, Allan. A Gênese. Capítulo XVI – “Teorias sobre a origem das ideias”.
KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Capítulo XI – “Amai o próximo como a vós mesmos”.
XAVIER, Francisco Cândido. A Caminho da Luz. Pelo Espírito Emmanuel. FEB.
REDAÇÃO DO MOMENTO ESPÍRITA. “Inteligência Artificial e Autoconhecimento”. Publicado em 26/07/2023. Acesso em: www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=6920
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