1. Introdução: Combater o Misticismo e o
Fanatismo
No capítulo II de O Livro dos Médiuns, intitulado “O Maravilhoso e o Sobrenatural”, Allan Kardec inicia uma reflexão fundamental para a compreensão correta do Espiritismo. Ele observa que a maior barreira à aceitação do Espiritismo está na ideia distorcida do maravilhoso e do sobrenatural, que prevaleceu por séculos nas crenças religiosas e superstições populares.
Kardec aponta que muitos rejeitam os fenômenos espíritas por acreditarem que se tratam de eventos sobrenaturais e, portanto, impossíveis. Outros, ao contrário, aceitam sem exame crítico, movidos por credulidade ou fé cega.
📚 Essa abordagem encontra ressonância em O Livro dos Espíritos, especialmente nas questões introdutórias e na Parte Terceira – Das Leis Morais, onde se afirma que tudo no universo — inclusive os fenômenos espirituais — está submetido a leis naturais.
2. Tudo é Natural: Não Há Sobrenatural no Espiritismo
Kardec deixa claro que o Espiritismo não admite o sobrenatural. Os fenômenos espíritas — como manifestações mediúnicas, aparições e comunicações com os Espíritos — fazem parte da natureza espiritual do ser humano, regida por leis ainda não completamente conhecidas pela ciência oficial, mas perfeitamente naturais e racionais.
“Os fenômenos espíritas, longe de constituírem uma exceção às leis da Natureza, dela são uma aplicação.” (O Livro dos Médiuns, cap. II, item 7)
📚 Em O Livro dos Espíritos, embora não haja uma formulação literal da pergunta “Deus criou leis para reger a matéria e o Espírito?”, a resposta está clara ao longo da obra. Por exemplo:
“As leis de Deus abrangem todas as leis da Natureza, tanto físicas quanto morais.” (O Livro dos Espíritos, questão 615)
📚 Em A Gênese, Kardec reafirma esse princípio:
“O Espiritismo repousa
sobre as próprias leis da Natureza.” (A Gênese, cap. I, item 14)
“Tudo no Universo se encadeia e obedece a leis que Deus estabeleceu.” (A Gênese, cap. II, item 6)
3. A Crença no Maravilhoso e o Risco da Cegueira Religiosa
Kardec adverte contra dois extremos: o ceticismo materialista, que nega tudo o que escapa à percepção comum, e a crença cega, que aceita sem questionar. Ele propõe uma terceira via: a fé raciocinada, que analisa, investiga e compreende os fenômenos com base na razão e na observação.
📚 Em O Evangelho segundo o Espiritismo, encontramos esse conceito claramente exposto:
“A fé raciocinada é aquela que se apoia nos fatos e na lógica. [...] A fé cega já não é da nossa época.” (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIX, item 7)
4. Submeter Tudo ao Crivo da Razão
A Doutrina Espírita convida à análise racional de todos os fatos, inclusive os de ordem espiritual. Para Kardec, não se trata de acreditar sem ver ou de negar sem conhecer, mas de observar, comparar e deduzir.
“Antes de crer, é
necessário ver se a crença está de acordo com a razão e com os dados da
ciência.” (O Livro dos Médiuns, cap. II, item 5)
5. Espiritismo: Ciência e Filosofia com Consequências Morais
A análise da primeira parte do capítulo II de O Livro dos Médiuns revela que o Espiritismo:
- Não é uma religião nos
moldes tradicionais, ritualística ou dogmática;
- É uma ciência de
observação dos fenômenos espirituais;
- E é uma filosofia que estuda as consequências morais desses fenômenos para o ser humano e a sociedade.
📚 Essa definição aparece logo no início da codificação:
“O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica.” (O Livro dos Espíritos, Prolegômenos)
“O Espiritismo apoia-se sobre as leis naturais, que regem os fenômenos.” (A Gênese, cap. I, item 13)
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Resumo Integrado
A primeira parte do capítulo II de O Livro dos Médiuns é uma defesa da racionalidade espírita, diante de uma cultura dividida entre o ceticismo materialista e a superstição religiosa.
Kardec estabelece que:
- Os fenômenos espíritas
não são sobrenaturais, mas naturais e explicáveis por leis ainda
desconhecidas da ciência comum;
- A razão e a análise
lógica devem prevalecer sobre a fé cega ou o misticismo;
- O Espiritismo deve ser compreendido como uma ciência
de observação, com leis próprias, e como uma filosofia moral;
- O estudo espírita se pauta pela coerência com as leis naturais e com o progresso intelectual e espiritual da humanidade.
📚 Referências
- KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns, 2ª parte, cap. II – O Maravilhoso e o Sobrenatural
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, especialmente as questões 1, 614 a 621, e os Prolegômenos.·
- KARDEC, Allan. A Gênese, capítulos I – Caráter da Revelação Espírita e II – Deus.
- KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIX – A fé que transporta montanhas.
- KARDEC, Allan. Obras Póstumas, 2ª parte – “O que é o Espiritismo”.
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