“O
tempo é a sucessão das coisas, o que não existe no mundo espiritual como o
compreendeis.” — Allan
Kardec, A Gênese, cap. VI, item 3
O presente é uma ideia que desafia nossa
compreensão. Tão fugaz quanto essencial, o agora se esvai no instante em que é
percebido, tornando-se parte do passado. Na linguagem cotidiana, na filosofia e
na psicologia, o tempo presente é descrito como um ponto transitório entre o
que já foi e o que será. Mas à luz da Doutrina Espírita, codificada por Allan
Kardec, o presente assume um papel ainda mais profundo: é o terreno sagrado da
ação, o espaço onde o Espírito constrói o seu destino eterno.
O Tempo e
o Espírito
Segundo o Espiritismo, o Espírito é criado simples
e ignorante, e caminha, através de múltiplas existências corporais e
espirituais, rumo à perfeição. Esse progresso se realiza no tempo, mas em uma
perspectiva mais ampla que transcende o tempo cronológico da Terra.
“O
que é o tempo para o Espírito? É nada. Séculos, para ele, não são mais do que
instantes que se apagam da sua lembrança, como os dias da infância na lembrança
do homem.” (O Livro
dos Espíritos, questão 258-a)
No plano espiritual, o tempo como o entendemos –
passado, presente e futuro – perde sua rigidez. No entanto, durante a
encarnação, ele se torna uma das principais ferramentas de aprendizado. É na
vivência do presente, limitada pelas leis físicas do mundo material, que o
Espírito encarnado pode fazer escolhas morais, transformar-se e evoluir.
A
Filosofia Espírita e o Valor do Presente
A Doutrina Espírita nos ensina que o presente é a
continuidade do passado e o gerador do futuro. Nossas ações de agora não apenas
refletem quem fomos, mas também determinam quem seremos. Nesse sentido, o
presente é o único tempo sobre o qual temos real poder de decisão.
Essa visão dialoga com certas abordagens
filosóficas. Santo Agostinho, por exemplo, afirmava que só existe o presente –
o presente do passado (memória), o presente do presente (atenção) e o presente
do futuro (expectativa). A Doutrina Espírita amplia essa ideia: o Espírito traz
consigo as memórias do passado (muitas vezes inconscientes), age no presente
com base nas escolhas do livre-arbítrio e colhe, no futuro, os frutos da
semeadura atual, conforme a lei de causa e efeito.
“O
presente é a consequência do passado e a causa do futuro.” (O Livro dos Espíritos, questão 132,
nota de Kardec)
Assim, o tempo presente é um momento decisivo para
o progresso espiritual. Não é um intervalo vazio entre o que passou e o que
virá, mas o campo fértil da regeneração, da prática do bem e do exercício da
vontade.
O
Presente e a Psicologia do Espírito
A psicologia moderna reconhece o impacto da atenção
plena no bem-estar humano, incentivando práticas como o mindfulness (atenção
plena) para reduzir o estresse (tensão, pressão ou insistência) e aumentar a
presença consciente no agora. A Doutrina Espírita concorda com essa valorização
do presente, mas vai além: ela mostra que viver o presente com consciência é um
dever espiritual.
O apego excessivo ao passado pode aprisionar o
Espírito na culpa ou na saudade, enquanto a ansiedade em relação ao futuro pode
paralisá-lo. O Espiritismo nos convida ao equilíbrio: aprender com o passado
sem se escravizar a ele, planejar o futuro sem se angustiar, e agir no presente
com lucidez e confiança na Providência Divina.
“Não
vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si
mesmo.”
(Mateus, capítulo 6:34 e O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XXV,
item 6)
Essa exortação evangélica, interpretada sob a ótica
espírita, revela que a serenidade diante do tempo é fruto da fé raciocinada e
da compreensão das leis espirituais. O Espírito consciente sabe que cada
instante presente é uma oportunidade de crescimento, de reconciliação, de
serviço ao próximo e de conexão com Deus.
Construindo
o Futuro no Agora
O Espírito é o artífice do próprio destino. O
presente é a oficina em que ele trabalha com as ferramentas do livre-arbítrio,
da razão, da fé e do amor. Por isso, a Doutrina Espírita insiste tanto na transformação
íntima, na vigilância dos pensamentos, na prática do bem, na valorização das
pequenas ações cotidianas. Tudo isso acontece – e só pode acontecer – no tempo
presente.
“O
momento atual é o mais importante, porque nele podemos modificar o rumo de
nossa existência.” — Emmanuel,
psicografia de Chico Xavier, no livro Fonte
Viva
Conclusão
O tempo presente, sob a luz do Espiritismo, não é
apenas um conceito filosófico ou psicológico. É um dom divino. É no agora que o
Espírito tem a chance de superar as imperfeições do passado e edificar a
felicidade futura. Viver com responsabilidade, consciência e amor no presente é
cumprir a missão da vida: evoluir moral e intelectualmente rumo à perfeição.
O passado serve de lição. O futuro, de esperança. Mas é no presente que reside a ação transformadora do Espírito. É nele que se decide o destino. É nele que, verdadeiramente, se vive.
Referências:KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 86. ed. FEB.
KARDEC, Allan. A Gênese. 41. ed. FEB.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 127. ed. FEB.
XAVIER, Francisco Cândido. Fonte Viva. Pelo Espírito Emmanuel. FEB.
Artigos de apoio: comciencia.org.br, raqueldelmonde.com.br, atricon.org.br, medium.com.
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