SALVE O REI: A ZOMBARIA
E O RESPEITO À LUZ DO EVANGELHO
E DA DOUTRINA ESPÍRITA
- A Era do Espírito -
1. Introdução: O escárnio diante da dignidade
Em Mateus 27:27-31, encontramos uma das cenas mais simbólicas do desprezo humano pela dignidade alheia: soldados zombam de Jesus, coroando-o com espinhos, vestindo-o com um manto de escárnio e dizendo ironicamente: “Salve, rei dos judeus!”. Ali, não havia apenas dor física, mas a humilhação intencional de um inocente — alguém que não buscava glória pessoal, mas a libertação espiritual da humanidade.
Essa passagem, mais do que um relato histórico, é um convite à reflexão sobre como tratamos o erro, o diferente, o imperfeito. Zombar não é corrigir; é violentar com palavras, expor com crueldade, quando o verdadeiro discípulo do Cristo é chamado ao respeito e à caridade — mesmo diante da falha alheia.
2. Zombaria e leviandade: o julgamento precipitado
No prefácio de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec adverte contra a zombaria disfarçada de crítica. Ele escreve:
“Zombar de uma coisa que se não conhece, que se não sondou com o escalpelo do observador consciencioso, não é criticar, é dar prova de leviandade…”
A zombaria nasce, muitas vezes, da ignorância e do orgulho. Ela não edifica nem esclarece. Ao contrário, afasta, fere e desestimula. Kardec aponta que muitos zombam do Espiritismo não por conhecê-lo, mas justamente por desconhecê-lo — tal como zombaram de Jesus, ignorando a profundidade de sua missão.
3. O respeito: base da verdadeira crítica
A Doutrina Espírita nos convida à análise com respeito. A crítica construtiva é útil quando feita com conhecimento e amor. Kardec ainda adverte:
“O que caracteriza um estudo sério é a continuidade... A leviandade e as questões ociosas afastam os Espíritos superiores, como, entre os homens, afastam as pessoas criteriosas.”
Criticar, sim — mas com base, com verdade, com o objetivo de contribuir e não de rebaixar. Isso vale para ideias e, ainda mais, para pessoas.
4. A máscara da zombaria: entre o fingimento e o orgulho
O espírito Calunga, pela mediunidade de Rita Foelker, nos recorda que muitas vezes escondemos a verdade sob máscaras — para agradar, para parecer fortes ou melhores do que somos. Ele afirma:
“Se não tivesse medo da verdade, cada um acharia mais fácil saber o que é melhor pra si mesmo, e teria menos que ver com a vida dos outros.”
Zombar também é esconder-se. É rir do outro para desviar os olhos de si. É projetar a própria insegurança disfarçada de esperteza. Mas a verdade liberta — e para que liberte, precisa ser vivida sem máscaras.
5. O monge e os tijolos: nunca agradaremos a todos
A história do monge que usou tijolos como travesseiro mostra o absurdo de se guiar pela opinião alheia. Se usava os tijolos, era criticado. Se deixava de usá-los, também. Conclusão? “Deixe-me agradar apenas a Deus.” — diz o monge.
O verdadeiro respeito começa quando buscamos a verdade interior, sem nos preocupar em parecer agradáveis a todos. Não zombamos quando nos colocamos na condição do outro.
6. A caridade no julgamento: o ensino dos Espíritos
Nas questões 903 e 904 de O Livro dos Espíritos, os benfeitores espirituais são claros:
“Incorrerá em grande culpa se [o homem] estudar os defeitos alheios para os criticar e divulgar…”
“Se o escritor apenas visa produzir escândalo, não faz mais do que proporcionar a si mesmo um gozo pessoal...”
Ou seja, zombar das falhas dos outros é uma falta contra a caridade. Mesmo quando apontamos erros sociais, o que nos move deve ser o desejo sincero de ajudar e regenerar — não de escarnecer.
7. Os três crivos: verdade, bondade e utilidade
A lição socrática nos oferece uma ferramenta simples e poderosa antes de falar:
1. É verdade?
2. É bom?
3. É útil?
Se a fala não passa por esses três filtros, talvez seja melhor silenciar. A zombaria falha em todos eles: nem sempre é verdadeira, nunca é bondosa, e raramente é útil.
8. Conclusão: A superioridade do respeito
Zombar é fácil. Respeitar exige esforço, empatia e evolução. Jesus foi zombado, mas respondeu com o silêncio da dignidade. Allan Kardec enfrentou o escárnio com a perseverança do trabalho sério.
Diante das imperfeições humanas — inclusive as nossas — é natural que identifiquemos o erro. Mas o que nos eleva não é denunciá-lo com sarcasmo, e sim iluminá-lo com respeito, sem jamais esquecer que todos estamos a caminho.
- A zombaria desumaniza.
- O respeito humaniza.
Que possamos escolher ser ponte, não pedra.
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