segunda-feira, 11 de agosto de 2025

A COMPAIXÃO: CULTIVO DO SENTIMENTO
À VISTA DO INFORTÚNIO ALHEIO
- A Era do Espírito –
 

“Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.” (Mateus 5:7)¹

A lição contida nas bem-aventuranças é um convite permanente ao aprimoramento moral e espiritual do ser humano. No versículo citado, Jesus nos conduz ao entendimento de que a misericórdia é não apenas um sentimento nobre, mas um caminho seguro para a verdadeira felicidade.

Entre as manifestações da misericórdia, a compaixão ocupa papel central. Na visão da Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec² e enriquecida pelos ensinamentos de Espíritos elevados, a compaixão não é mera emoção transitória, mas virtude ativa que impulsiona a prática da caridade, alicerçada no amor ao próximo.

O Olhar Interior: Vendo a Trave no Próprio Olho

No Evangelho Segundo o Espiritismo³, Kardec relembra o ensinamento de Jesus sobre o argueiro e a trave (Mateus 7:3-5)¹. A tendência humana de apontar falhas alheias antes de reconhecer as próprias é expressão clara do orgulho, que impede a vivência plena da caridade.

A verdadeira compaixão requer humildade. Quem se detém em criticar o próximo, fechando-se ao autoexame, cria barreiras à indulgência e ao socorro. Jesus, ao combater o orgulho, nos alerta que este é obstáculo ao progresso moral e espiritual, pois neutraliza a simplicidade e a abnegação que sustentam a misericórdia.

Assim, antes de nos colocarmos na posição de juízes, é essencial retirar a “trave” de nossos olhos, purificando o olhar com que enxergamos o outro.

Chamados para Abençoar, Não para Julgar

No ensinamento do Espírito Emmanuel, psicografado por Francisco Cândido Xavier⁴, encontramos um retrato claro da missão que cada discípulo do Cristo recebe: não fomos chamados para criticar, condenar ou expor as chagas morais de nossos irmãos, mas para abençoar, justificar e socorrer.

A compaixão verdadeira age onde há dor, constrói onde há ruína moral e aquece onde o frio do desânimo ameaça apagar a chama da esperança. Para isso, é preciso abandonar “as exigências do inquisidor” que ainda persistem em nossa intimidade, substituindo-as pelo compromisso de ser sustentáculo da Bondade Divina no mundo.

Piedade e Compaixão: Fontes da Ação Caridosa

Segundo Angel Aguarod⁵, a piedade e a compaixão são virtudes que impulsionam a beneficência e a filantropia. Elas nascem do amor a Deus e, por consequência, do amor ao próximo.

A piedade, em sua expressão mais elevada, é virtude que aproxima a criatura de Deus, levando-a a sentir as dores do outro como próprias e a se esforçar por aliviar-lhe o fardo. Nesse sentido, a compaixão não se limita a um sentimento passivo; ela conduz à ação, motivada pela abnegação e pelo sacrifício, tornando-se caminho seguro para a elevação espiritual.

A humanidade, porém, ainda se mostra carente desse sentimento. Muitas vezes, é diante de grandes catástrofes e infortúnios que o coração humano desperta para a compaixão. Enquanto esta não for cultivada espontaneamente em cada indivíduo, a paz e a felicidade coletivas permanecerão distantes.

O Cultivo da Compaixão no Cotidiano

Desenvolver a compaixão é tarefa que exige esforço consciente. Algumas práticas essenciais nesse cultivo são:

  1. Autoanálise constante – Reconhecer as próprias imperfeições antes de julgar o próximo, evitando a postura condenatória.
  2. Empatia ativa – Procurar compreender as circunstâncias que levam o outro ao erro ou à dor.
  3. Ação concreta – Transformar o sentimento em atos que aliviem a necessidade alheia, seja material ou moral.
  4. Educação do sentimento – Ler, ouvir e meditar sobre ensinamentos que despertem a sensibilidade, fortalecendo a disposição de ajudar.

Cristo: Modelo Supremo de Compaixão

Jesus é o exemplo maior de compaixão. Veio não para os sãos, mas para curar os enfermos; não para os justos, mas para amparar os pecadores (Lucas 5:31-32)¹. Sua vida foi um testemunho de entrega e sacrifício, iluminando com ternura os caminhos sombrios da humanidade.

Seguir Seus passos significa tornar-se, cada qual à sua medida, um “mestre de compaixão”, oferecendo alívio, esperança e compreensão onde reinam a dor, o erro e a solidão.

Conclusão

Ser misericordioso é muito mais que sentir piedade: é agir movido por amor, colocando-se ao lado do que sofre, sem julgamentos, e oferecendo o melhor de si para o seu alívio.

À luz da Doutrina Espírita, a compaixão é virtude que aproxima o homem dos Espíritos superiores e o eleva na escala espiritual. No cultivo diário desse sentimento, purificamos nosso coração, vencemos o orgulho e nos tornamos instrumentos da paz e da bondade que Jesus espera encontrar em cada um de nós.

*“Sigam, pois, as pegadas do Redentor do Mundo, esforçando-se por se converterem em Mestres de Compaixão, personificando-a pela palavra e pelo fato.”*

Referências

  1. BÍBLIA SAGRADA. Mateus 5:7; 7:3-5; Lucas 5:31-32. Tradução de João Ferreira de Almeida. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.
  2. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 84. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2022.
  3. KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 96. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2022.
  4. XAVIER, Francisco Cândido. Pão Nosso. Pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB, 2016.
  5. AGUAROD, Angel. Grandes e Pequenos Problemas. 2. ed. São Paulo: IDE, 1990.

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