segunda-feira, 11 de agosto de 2025


VIVER NO MUNDO SEM SER DO MUNDO:
APRENDIZADO NA DUALIDADE DA VIDA
- A Era do Espírito -

Introdução

A vida na Terra é um campo de contrastes. Desde o átomo ao pensamento, encontramos polaridades: positivo e negativo, luz e sombra, quente e frio, alegria e tristeza, bem e mal. É no embate entre opostos que se forja o progresso do Espírito. A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, nos ensina que esse contraste não é acaso, mas recurso da Lei Divina para o desenvolvimento moral e intelectual.

No Livro dos Espíritos e nas páginas da Revista Espírita, observamos que as experiências humanas, por mais desafiadoras que sejam, são oportunidades de aprimoramento. A fuga ao convívio com as dificuldades e diferenças pode atrasar a evolução; enfrentá-las, com discernimento e perseverança, é caminho seguro para a maturidade espiritual.

1. A lei dos contrastes

Em toda parte, a Criação apresenta pares complementares: o dia e a noite, a semente e a colheita, a infância e a velhice. Como afirma André Luiz em Opinião Espírita, “somos envolvidos por fatos e problemas que exigem a manifestação da nossa vontade em todas as circunstâncias”. É na presença dos contrários que aprendemos a discernir — tarefa essencial do Espírito reencarnado.

Allan Kardec, na questão 467 de O Livro dos Espíritos, pergunta se o homem pode afastar-se da influência dos Espíritos maus. A resposta é clara: sim, pois eles só se ligam aos que os atraem pelos próprios pensamentos e desejos. O contraste, portanto, não é convite ao erro, mas teste à nossa capacidade de escolher o bem.

2. A parábola do trigo e do joio: convivendo com as diferenças

Jesus, na parábola do trigo e do joio, ensina que ambos devem crescer juntos até a colheita, para que não se arranque o bom junto com o mau. Em termos espirituais, a convivência com pessoas de diversos níveis morais é o laboratório em que desenvolvemos paciência, tolerância e compreensão.

A Revista Espírita (julho de 1860) registra que “o contato com as imperfeições alheias é uma das mais eficazes lições para quem deseja conhecer-se e corrigir-se”. O afastamento total do mundo não nos poupa de tentações internas, como mostra a história dos dois irmãos — um que se isolou nas montanhas e outro que permaneceu na cidade, aprendendo no convívio com os necessitados. O que buscou pureza pela fuga descobriu, ao rever o irmão, que o verdadeiro adestramento moral se dá na vida ativa, enfrentando as circunstâncias.

3. O valor da prova e da tentação

Ninguém pode demonstrar resistência moral sem ter enfrentado tentações; ninguém pode testemunhar fé sem ter atravessado águas tormentosas. Emmanuel lembra que “só conseguiremos resolver nossos problemas se não fugirmos deles”.

A experiência terrena é oficina de almas. Os conflitos do mundo, longe de serem acidentes infelizes, constituem cenário planejado para o desenvolvimento do Espírito. É na luta que se lapida a pedra bruta; é no calor do atrito que se molda a forma final.

4. Viver no mundo sem aderir ao mundo

Jesus conhecia profundamente a alma humana. Ao orar ao Pai, pediu: “Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do mal” (João 17:15).

Viver no mundo significa participar de suas relações, contribuir para o bem comum e enfrentar suas provas, sem se deixar arrastar pelas paixões inferiores.

Grandes Espíritos vieram para exemplificar essa vivência: Sócrates, ensinando o “conhece-te a ti mesmo”; Buda, conduzindo à libertação dos desejos inferiores; Francisco de Assis, revelando a humildade; Allan Kardec, oferecendo a chave do mundo espiritual; e, mais recentemente, trabalhadores como Chico Xavier e Divaldo Franco, que permaneceram no convívio humano, mas dedicados ao serviço do bem.

5. A colheita espiritual

Assim como na parábola do trigo e do joio, chegará a “colheita” para todos. Muitos partem da Terra ainda queixosos e desprevenidos; outros, enriquecidos em conquistas morais, já merecem o “grande celeiro” do Pai.

O mundo, com seus desafios, é ambiente ideal para experiências renovadoras. Fugir da convivência humana é perder a chance de aprender, ensinar e servir. A verdadeira pureza não é a ausência de contato com o mal, mas a firmeza em não se deixar contaminar por ele.

Conclusão

A dualidade da vida é recurso divino para a educação do Espírito. O bem e o mal, o fácil e o difícil, o prazer e a dor são estímulos ao discernimento e à superação. A Doutrina Espírita, aliada ao exemplo de Jesus e dos grandes missionários, nos convida a viver plenamente no mundo, aprendendo com cada situação, servindo ao próximo e mantendo-se fiel às leis morais.
A vitória espiritual não é fruto da fuga, mas da participação consciente, serena e perseverante nas lutas que a vida apresenta.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 88. ed. FEB. Questões 467, 646-647.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB. Cap. XXIV.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita. 1858-1869. Diversos artigos sobre provas, tentações e convivência social.
  • XAVIER, Francisco Cândido (Emmanuel). Fonte Viva. FEB.
  • XAVIER, Francisco Cândido (André Luiz). Opinião Espírita. FEB. Cap. 27.
  • BÍBLIA SAGRADA. João 17:15.

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