quinta-feira, 14 de agosto de 2025

A DECISÃO E A CORAGEM MORAL
À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA
- A Era do Espírito -

Introdução

A vida humana é um campo de escolhas permanentes. Muitas vezes, decisões tomadas em instantes de impulso ou de fraqueza podem marcar toda a existência do Espírito encarnado. A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, ensina que cada escolha é uma oportunidade de aprendizado e progresso, mas também pode se tornar motivo de arrependimento se for guiada pela cólera, pelo egoísmo ou pela covardia moral.

Há duas situações especialmente graves: a primeira, quando o homem, dominado pela fúria, fere aqueles a quem mais ama; a segunda, quando, diante da oportunidade de praticar o bem, recua por medo ou fraqueza de ânimo. Ambas revelam o quanto a decisão pode ser um ponto crucial na caminhada evolutiva do Espírito.

A cólera e o perigo da decisão precipitada

Um Espírito Protetor adverte em O Evangelho segundo o Espiritismo (cap. IX, n. 9):

“A cólera não exclui certas qualidades do coração, mas impede que se faça muito bem e pode levar à prática de muito mal.”

Essa reflexão nos mostra que, em momentos de cólera, uma decisão impensada pode trazer arrependimentos profundos e, muitas vezes, irreparáveis. As páginas da Revista Espírita relatam inúmeros casos em que Espíritos arrependidos narram os efeitos desastrosos da cólera na vida encarnada, reconhecendo que uma palavra agressiva ou um ato impensado gerou longas consequências expiatórias.

A coragem moral diante do bem

Por outro lado, existe o risco da desistência diante de um chamado nobre. O homem pode compreender a moral evangélica, admirá-la e até proclamá-la, mas quando chega o momento da prática, vacila diante das dificuldades. Jesus foi claro ao afirmar:

“Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás, é apto para o Reino de Deus.” (Lc 9:62)

Colocar a mão no arado simboliza assumir um compromisso definitivo com o bem, sem retrocessos. A Doutrina Espírita nos mostra que a vida é uma sucessão de provas em que a fidelidade à consciência deve prevalecer sobre o temor das críticas, das perseguições ou das perdas materiais.

O critério do amor ao próximo

Para não deixar dúvidas sobre o caminho a seguir, Jesus legou um critério simples e universal:

“Como quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles.” (Lc 6:31)

“Amar ao próximo como a si mesmo excede a todos os holocaustos e sacrifícios.” (Mc 12:33)

Colocando-nos no lugar do outro, conseguimos avaliar com clareza se nossa decisão traz benefício ou sofrimento. A moral espírita, nesse sentido, não se baseia em rituais exteriores, mas em ações que refletem o amor verdadeiro.

O exemplo de Paulo de Tarso

A conversão de Saulo na estrada de Damasco é um dos maiores exemplos de decisão inabalável. Ao ouvir a voz do Cristo:

“Levanta-te, e entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer.” (At 9:6)

Paulo não mais hesitou. Perseguido, humilhado e apedrejado, manteve-se firme no ideal cristão, demonstrando que a verdadeira decisão não recua diante das adversidades. Ele nos ensina que a coragem moral é sustentada pela fé e pela certeza de servir a Jesus, não aos interesses do mundo.

A lição de Irmão X

Na crônica “Na Frente do Bem”, psicografada por Chico Xavier e publicada no livro (IDEAL, 1984), Irmão X reforça a importância da decisão reta. As escolhas que visam agradar aos homens são frágeis e passageiras; já as que se apoiam na paz de Cristo permanecem firmes. Como o Mestre afirmou:

“A minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.” (Jo 14:27)

O discípulo sincero, uma vez esclarecido pela luz do Evangelho e pelas instruções da Doutrina Espírita, deve instruir-se, amar e seguir em frente, sem temor, após a decisão cristã.

Conclusão

A Doutrina Espírita nos convida a refletir sobre a responsabilidade das nossas decisões. Seja no controle da cólera, seja na coragem de perseverar no bem, cada escolha define os rumos de nossa evolução espiritual. Não basta admirar a moral evangélica — é preciso vivê-la com firmeza. Como Paulo, somos chamados a colocar a mão no arado e seguir adiante, sem olhar para trás.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. IX, n. 9.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita. 1858-1869. Diversos relatos sobre arrependimento e consequências da cólera.
  • KARDEC, Allan. Atos dos Apóstolos (tradução e comentários espíritas sobre Paulo de Tarso).
  • XAVIER, Francisco Cândido. . Pelo Espírito Irmão X. IDEAL, 1984.
  • Bíblia Sagrada. Evangelhos de Lucas 6:31; 9:62; Marcos 12:33; João 14:27; Atos 9:6.

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