Introdução
A vida
humana é um campo de escolhas permanentes. Muitas vezes, decisões tomadas em
instantes de impulso ou de fraqueza podem marcar toda a existência do Espírito encarnado.
A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, ensina que cada escolha é uma
oportunidade de aprendizado e progresso, mas também pode se tornar motivo de
arrependimento se for guiada pela cólera, pelo egoísmo ou pela covardia moral.
Há
duas situações especialmente graves: a primeira, quando o homem, dominado pela
fúria, fere aqueles a quem mais ama; a segunda, quando, diante da oportunidade
de praticar o bem, recua por medo ou fraqueza de ânimo. Ambas revelam o quanto
a decisão pode ser um ponto crucial na caminhada evolutiva do Espírito.
A cólera e o perigo da decisão precipitada
Um
Espírito Protetor adverte em O Evangelho segundo o Espiritismo (cap. IX,
n. 9):
“A cólera não exclui
certas qualidades do coração, mas impede que se faça muito bem e pode levar à
prática de muito mal.”
Essa
reflexão nos mostra que, em momentos de cólera, uma decisão impensada pode
trazer arrependimentos profundos e, muitas vezes, irreparáveis. As páginas da Revista
Espírita relatam inúmeros casos em que Espíritos arrependidos narram os
efeitos desastrosos da cólera na vida encarnada, reconhecendo que uma palavra
agressiva ou um ato impensado gerou longas consequências expiatórias.
A coragem moral diante do bem
Por
outro lado, existe o risco da desistência diante de um chamado nobre. O homem
pode compreender a moral evangélica, admirá-la e até proclamá-la, mas quando
chega o momento da prática, vacila diante das dificuldades. Jesus foi claro ao
afirmar:
“Ninguém que, tendo posto
a mão no arado, olha para trás, é apto para o Reino de Deus.” (Lc 9:62)
Colocar
a mão no arado simboliza assumir um compromisso definitivo com o bem, sem
retrocessos. A Doutrina Espírita nos mostra que a vida é uma sucessão de provas
em que a fidelidade à consciência deve prevalecer sobre o temor das críticas,
das perseguições ou das perdas materiais.
O critério do amor ao próximo
Para
não deixar dúvidas sobre o caminho a seguir, Jesus legou um critério simples e
universal:
“Como quereis que os
homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles.” (Lc 6:31)
“Amar ao próximo como a
si mesmo excede a todos os holocaustos e sacrifícios.” (Mc 12:33)
Colocando-nos
no lugar do outro, conseguimos avaliar com clareza se nossa decisão traz
benefício ou sofrimento. A moral espírita, nesse sentido, não se baseia em
rituais exteriores, mas em ações que refletem o amor verdadeiro.
O exemplo de Paulo de Tarso
A
conversão de Saulo na estrada de Damasco é um dos maiores exemplos de decisão
inabalável. Ao ouvir a voz do Cristo:
“Levanta-te, e entra na
cidade, onde te dirão o que te convém fazer.” (At 9:6)
Paulo
não mais hesitou. Perseguido, humilhado e apedrejado, manteve-se firme no ideal
cristão, demonstrando que a verdadeira decisão não recua diante das
adversidades. Ele nos ensina que a coragem moral é sustentada pela fé e pela
certeza de servir a Jesus, não aos interesses do mundo.
A lição de Irmão X
Na
crônica “Na Frente do Bem”, psicografada por Chico Xavier e publicada no
livro Fé (IDEAL, 1984), Irmão X reforça a importância da decisão reta.
As escolhas que visam agradar aos homens são frágeis e passageiras; já as que
se apoiam na paz de Cristo permanecem firmes. Como o Mestre afirmou:
“A minha paz vos dou;
não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se
atemorize.” (Jo
14:27)
O
discípulo sincero, uma vez esclarecido pela luz do Evangelho e pelas instruções
da Doutrina Espírita, deve instruir-se, amar e seguir em frente, sem temor,
após a decisão cristã.
Conclusão
A
Doutrina Espírita nos convida a refletir sobre a responsabilidade das nossas
decisões. Seja no controle da cólera, seja na coragem de perseverar no bem,
cada escolha define os rumos de nossa evolução espiritual. Não basta admirar a
moral evangélica — é preciso vivê-la com firmeza. Como Paulo, somos chamados a
colocar a mão no arado e seguir adiante, sem olhar para trás.
Referências
- KARDEC, Allan. O
Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. IX, n. 9.
- KARDEC, Allan. Revista
Espírita. 1858-1869. Diversos relatos sobre arrependimento e
consequências da cólera.
- KARDEC, Allan. Atos
dos Apóstolos (tradução e comentários espíritas sobre Paulo de Tarso).
- XAVIER, Francisco
Cândido. Fé. Pelo Espírito Irmão X. IDEAL, 1984.
- Bíblia Sagrada.
Evangelhos de Lucas 6:31; 9:62; Marcos 12:33; João 14:27; Atos 9:6.
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