1. O que
diz a Codificação Espírita de Allan Kardec?
Nas obras fundamentais — O Livro dos Espíritos
(1857), O Livro dos Médiuns (1861), O Céu e o Inferno (1865), A
Gênese (1868) e também na Revista Espírita (1858-1869) — não há
nenhuma menção direta às glândulas pineal ou hipófise.
Quando Kardec trata da relação entre o Espírito e o
corpo, ele usa conceitos como:
- Perispírito: o envoltório semimaterial que liga o
Espírito ao corpo.
- Fluido vital: energia que anima a matéria orgânica.
- Órgãos do corpo físico: meios de manifestação do
Espírito no mundo material.
A Codificação nunca individualiza uma glândula ou
órgão como sendo o "centro da mediunidade" ou o "ponto de
ligação da alma com o corpo". Pelo contrário, Kardec deixa claro que o
Espírito se serve do cérebro como um todo, por meio do perispírito, para
manifestar-se na vida corpórea.
Portanto, na Doutrina Espírita codificada por
Allan Kardec, a pineal e a hipófise não possuem um papel específico nem
são tratadas como "glândulas espirituais".
2. De
onde vêm, então, essas associações?
A relação da pineal com o "centro da
espiritualidade" vem de tradições filosóficas e espiritualistas mais
antigas:
- René Descartes (1596-1650) chamou a pineal de
"sede da alma", por acreditar que seria o ponto de intersecção
entre a mente e o corpo.
- Algumas escolas esotéricas e orientalistas identificaram a
pineal com o "terceiro olho" ou "chakra frontal",
atribuindo-lhe funções psíquicas e espirituais.
- No século XX, no movimento espírita brasileiro,
especialmente a partir de obras subsidiárias, como as de André Luiz
(psicografia de Chico Xavier), surgiram explicações detalhadas sobre a
pineal como "glândula da mediunidade". Em livros como Missionários
da Luz (1945), a pineal aparece como um foco de ligação fluídica entre
Espírito e corpo físico.
Quanto à hipófise (pituitária), sua
associação espiritual é ainda mais recente, ligada ao discurso esotérico sobre
centros energéticos e ao paralelismo com os chakras, não estando presente nem
em Kardec nem em André Luiz de forma destacada.
3.
Análise racional sob o método espírita
O método espírita, estabelecido por Kardec,
é claro:
- Não aceitar revelações isoladas ou especulativas, sem confirmação ampla dos Espíritos sérios (controle universal
do ensino dos Espíritos).
- Subordinar tudo à razão e à ciência.
Sob esse critério, atribuir à pineal ou à hipófise
funções espirituais não faz parte do núcleo da Doutrina Espírita, mas
sim de interpretações complementares ou simbólicas.
Contudo, é fato que:
- A pineal possui importância fisiológica reconhecida pela ciência
(produção de melatonina, regulação dos ciclos de sono, etc.).
- O cérebro, como um todo, é mediador da consciência encarnada. Se o
Espírito se utiliza de estruturas cerebrais, é plausível que certas áreas
ou glândulas tenham papéis específicos na interface com os fenômenos
psíquicos.
Ainda assim, afirmar categoricamente que "a
pineal é a glândula da mediunidade" ou que "a hipófise é o centro
espiritual" vai além do que Kardec estabeleceu e deve ser visto como
hipótese ou contribuição de escolas espiritualistas, não como doutrina
codificada.
4.
Conclusão
- Na Codificação Espírita de Allan Kardec: não há referência à glândula pineal nem à hipófise como centros
espirituais. O Espírito se liga ao corpo por meio do perispírito, e o
cérebro, de forma global, é o instrumento da alma encarnada.
- Nas obras subsidiárias (como André Luiz): a pineal é apresentada como importante na mediação fluídica, mas
sempre em caráter explicativo, não como dogma.
- Em escolas espiritualistas e esotéricas: tanto a pineal quanto a hipófise recebem interpretações
simbólicas ou associadas a chakras.
Assim, do ponto de vista racional e fiel ao método espírita,
pode-se dizer que a Doutrina Espírita não fundamenta a ligação direta entre
a pineal/hipófise e a mediunidade. Essa é uma construção posterior, de
valor interpretativo, mas que não integra o corpo essencial do Espiritismo
codificado.
Referências
Doutrina
Espírita codificada
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Paris, 1857.
- KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Paris, 1861.
- KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Paris, 1865.
- KARDEC, Allan. A Gênese. Paris, 1868.
- KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).
Obras
subsidiárias espíritas
- XAVIER, Francisco Cândido (pelo Espírito André Luiz). Missionários
da Luz. Federação Espírita Brasileira, 1945.
- XAVIER, Francisco Cândido (pelo Espírito André Luiz). Evolução
em Dois Mundos. Federação Espírita Brasileira, 1958.
Filosofia
e espiritualismo
- DESCARTES, René. As Paixões da Alma. 1649.
- LEADBEATER, Charles W. Os Chakras. Teosofia, 1927.
Ciência
- MOORE, R. Y. The Suprachiasmatic Nucleus and the Organization of
a Circadian System. Trends in Neurosciences, 1983.
- KLEIN, D. C.; AUBERSON, Y. The Pineal Gland and Melatonin.
In: Journal of Biological Rhythms, 1995.
Nenhum comentário:
Postar um comentário