terça-feira, 26 de agosto de 2025

A GLÂNDULA PINEAL E A HIPÓFISE:
UMA ANÁLISE À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA
- A Era do Espírito -

1. O que diz a Codificação Espírita de Allan Kardec?

Nas obras fundamentais — O Livro dos Espíritos (1857), O Livro dos Médiuns (1861), O Céu e o Inferno (1865), A Gênese (1868) e também na Revista Espírita (1858-1869) — não há nenhuma menção direta às glândulas pineal ou hipófise.

Quando Kardec trata da relação entre o Espírito e o corpo, ele usa conceitos como:

  • Perispírito: o envoltório semimaterial que liga o Espírito ao corpo.
  • Fluido vital: energia que anima a matéria orgânica.
  • Órgãos do corpo físico: meios de manifestação do Espírito no mundo material.

A Codificação nunca individualiza uma glândula ou órgão como sendo o "centro da mediunidade" ou o "ponto de ligação da alma com o corpo". Pelo contrário, Kardec deixa claro que o Espírito se serve do cérebro como um todo, por meio do perispírito, para manifestar-se na vida corpórea.

Portanto, na Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, a pineal e a hipófise não possuem um papel específico nem são tratadas como "glândulas espirituais".

2. De onde vêm, então, essas associações?

A relação da pineal com o "centro da espiritualidade" vem de tradições filosóficas e espiritualistas mais antigas:

  • René Descartes (1596-1650) chamou a pineal de "sede da alma", por acreditar que seria o ponto de intersecção entre a mente e o corpo.
  • Algumas escolas esotéricas e orientalistas identificaram a pineal com o "terceiro olho" ou "chakra frontal", atribuindo-lhe funções psíquicas e espirituais.
  • No século XX, no movimento espírita brasileiro, especialmente a partir de obras subsidiárias, como as de André Luiz (psicografia de Chico Xavier), surgiram explicações detalhadas sobre a pineal como "glândula da mediunidade". Em livros como Missionários da Luz (1945), a pineal aparece como um foco de ligação fluídica entre Espírito e corpo físico.

Quanto à hipófise (pituitária), sua associação espiritual é ainda mais recente, ligada ao discurso esotérico sobre centros energéticos e ao paralelismo com os chakras, não estando presente nem em Kardec nem em André Luiz de forma destacada.

3. Análise racional sob o método espírita

O método espírita, estabelecido por Kardec, é claro:

  1. Não aceitar revelações isoladas ou especulativas, sem confirmação ampla dos Espíritos sérios (controle universal do ensino dos Espíritos).
  2. Subordinar tudo à razão e à ciência.

Sob esse critério, atribuir à pineal ou à hipófise funções espirituais não faz parte do núcleo da Doutrina Espírita, mas sim de interpretações complementares ou simbólicas.

Contudo, é fato que:

  • A pineal possui importância fisiológica reconhecida pela ciência (produção de melatonina, regulação dos ciclos de sono, etc.).
  • O cérebro, como um todo, é mediador da consciência encarnada. Se o Espírito se utiliza de estruturas cerebrais, é plausível que certas áreas ou glândulas tenham papéis específicos na interface com os fenômenos psíquicos.

Ainda assim, afirmar categoricamente que "a pineal é a glândula da mediunidade" ou que "a hipófise é o centro espiritual" vai além do que Kardec estabeleceu e deve ser visto como hipótese ou contribuição de escolas espiritualistas, não como doutrina codificada.

4. Conclusão

  • Na Codificação Espírita de Allan Kardec: não há referência à glândula pineal nem à hipófise como centros espirituais. O Espírito se liga ao corpo por meio do perispírito, e o cérebro, de forma global, é o instrumento da alma encarnada.
  • Nas obras subsidiárias (como André Luiz): a pineal é apresentada como importante na mediação fluídica, mas sempre em caráter explicativo, não como dogma.
  • Em escolas espiritualistas e esotéricas: tanto a pineal quanto a hipófise recebem interpretações simbólicas ou associadas a chakras.

Assim, do ponto de vista racional e fiel ao método espírita, pode-se dizer que a Doutrina Espírita não fundamenta a ligação direta entre a pineal/hipófise e a mediunidade. Essa é uma construção posterior, de valor interpretativo, mas que não integra o corpo essencial do Espiritismo codificado.

Referências

Doutrina Espírita codificada

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Paris, 1857.
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Paris, 1861.
  • KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Paris, 1865.
  • KARDEC, Allan. A Gênese. Paris, 1868.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).

Obras subsidiárias espíritas

  • XAVIER, Francisco Cândido (pelo Espírito André Luiz). Missionários da Luz. Federação Espírita Brasileira, 1945.
  • XAVIER, Francisco Cândido (pelo Espírito André Luiz). Evolução em Dois Mundos. Federação Espírita Brasileira, 1958.

Filosofia e espiritualismo

  • DESCARTES, René. As Paixões da Alma. 1649.
  • LEADBEATER, Charles W. Os Chakras. Teosofia, 1927.

Ciência

  • MOORE, R. Y. The Suprachiasmatic Nucleus and the Organization of a Circadian System. Trends in Neurosciences, 1983.
  • KLEIN, D. C.; AUBERSON, Y. The Pineal Gland and Melatonin. In: Journal of Biological Rhythms, 1995.

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