terça-feira, 26 de agosto de 2025

O ESTATUTO DO AMOR:
A REGRA DE OURO À LUZ DO ESPIRITISMO
- A Era do Espírito -

Introdução

O Evangelho de Jesus, quando analisado à luz da Doutrina Espírita, revela-se não apenas como um conjunto de lições morais, mas como o código universal da vida futura. Entre os ensinamentos mais desafiadores e revolucionários do Cristo está o “amai os vossos inimigos”, núcleo de uma lei nova que se sobrepõe às concepções exclusivistas e legalistas da Antiga Aliança.

Os primeiros discípulos eram homens simples e frágeis, mas profundamente tocados por uma mensagem que ultrapassava as fronteiras da lógica imediata. Eles, como nós, vacilavam diante de uma proposta que exigia mudança radical de paradigma: não mais a supremacia política ou a revanche histórica, mas a construção de um Reino fundado no amor incondicional.

O Espiritismo, restaurando o Cristianismo em sua pureza original, oferece-nos as chaves racionais para compreender a grandeza desse mandamento e para aplicá-lo em nossa vivência cotidiana.

1. O Reino não é deste mundo

Os discípulos aguardavam um Messias que libertasse Israel do jugo estrangeiro. A expectativa era de supremacia política e restauração nacional. No entanto, como esclarece Jesus em diálogo com Pilatos — “O meu reino não é deste mundo” (Jo 18:36) —, o que se inaugurava era uma nova ordem de valores.

Kardec, em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo II, ensina que o Reino de Deus não é construído sobre a violência ou o domínio dos povos, mas sobre a transformação moral do ser humano. Daí a razão pela qual o Cristo insiste em substituir a lei de talião pelo amor universal: somente este é capaz de regenerar as consciências.

2. O amor como fundamento da lei

O mandamento “amai os vossos inimigos” parecia impossível aos ouvidos daqueles homens acostumados às tradições mosaicas. No entanto, Jesus eleva a lei natural ao seu ponto mais alto: o amor é a condição da perfeição.

Em O Livro dos Espíritos, questão 886, os Espíritos definem a caridade como: “benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas”. Não se trata de resignação passiva, mas de uma atividade moral, que busca no bem a vitória sobre o mal.

Na Revista Espírita de abril de 1862, Kardec comenta que o amor é a “força magnética que atrai os Espíritos uns aos outros e os une para o bem”. Essa visão amplia a compreensão do ensino de Jesus: amar é participar da harmonia universal, é trabalhar pela unidade e pela fraternidade que caracterizam a lei divina.

3. O testemunho dos primeiros apóstolos

O destino dos apóstolos, quase todos martirizados, constitui um testemunho eloquente da fidelidade ao Estatuto do Amor. Longe de significar derrota, o sacrifício foi a prova suprema de que compreenderam não resistir ao mal com o mal, mas vencê-lo com o bem, mesmo ao preço da própria vida.

Na Revista Espírita de dezembro de 1866, Kardec observa que o martírio cristão não foi vaidade de sofrimento, mas uma sementeira do futuro, que germinou no sangue dos que preferiram morrer a negar o Evangelho. Assim também, no presente, cada gesto de perdão e cada renúncia em favor do bem são sementes que fecundam a Terra para a regeneração.

4. A Regra de Ouro e a regeneração da humanidade

O programa de Jesus — amar até os inimigos — não é apenas moral sublime, mas também lei de progresso. Em A Gênese, capítulo XVIII, Kardec explica que o Espiritismo vem cumprir a promessa do Cristo Consolador, recordando à humanidade que a verdadeira evolução não está no poder material, mas no desenvolvimento do amor e da fraternidade.

A Regra de Ouro — “não fazer ao outro o que não queremos que nos façam” e, em grau superior, “fazer ao outro o bem que desejaríamos receber” — constitui a base da sociedade futura. É sobre esse princípio que se erguerá o mundo de regeneração, no qual a violência será substituída pela solidariedade e a vingança pela compreensão.

Conclusão

A narrativa evoca os primeiros instantes de formação do colégio apostólico, homens frágeis chamados a uma missão grandiosa. O que os sustentou não foi o poder militar nem a supremacia política, mas a convicção de que o Reino de Deus é construído pelo amor que transforma corações.

O Espiritismo, como Cristianismo redivivo, nos recorda que a perfeição não está na força, na riqueza ou no domínio, mas na capacidade de amar sem condições. Seguir Jesus é aceitar o desafio ousado de amar inclusive os que nos ferem, colaborando assim para a instalação do Reino de Deus na Terra.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1864.
  • KARDEC, Allan. A Gênese. 1868.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).
  • FRANCO, Divaldo Pereira. A Regra de Ouro. Salvador: Luz do Mundo, 2000.

 

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