“Tudo
se encadeia, tudo é solidário na Natureza.” — Allan Kardec, O Livro dos
Espíritos, questão 132
A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec,
nos apresenta uma visão profundamente harmoniosa e interligada da criação. Em
suas obras, encontramos inúmeras afirmações que reafirmam a unidade e a
solidariedade que regem o universo. Nada existe isolado ou por acaso; cada
elemento da natureza, visível ou invisível, cumpre uma função dentro de um
plano maior. Tudo serve, tudo progride, tudo colabora — mesmo que, à primeira
vista, não compreendamos esse encadeamento.
Ação
Universal e Progresso Constante
No Livro dos Espíritos, os Espíritos
Superiores afirmam que “a ação dos seres
corpóreos é necessária à marcha do Universo” (LE, q. 132). Esse movimento
constante não é aleatório. Cada ser, desde o mais simples até o mais
desenvolvido, cumpre uma missão dentro das leis divinas. Até mesmo os Espíritos
em estágio inicial, ainda inconscientes de seus atos, colaboram com o
funcionamento da natureza, sendo instrumentos da Providência sem o saber (LE,
q. 540). Mais tarde, com o progresso intelectual e moral, esses mesmos
Espíritos atuarão de forma consciente, ordenando e dirigindo aspectos da
criação — primeiro no mundo material, depois no mundo moral.
Da
Matéria Bruta ao Arcanjo
“O
arcanjo começou pelo átomo”, diz um Espírito na codificação
(LE, q. 540). Essa frase resume a grandiosidade da lei de evolução espiritual e
universal proposta pelo Espiritismo. Tudo no universo é progresso, desde as
partículas elementares da matéria até os Espíritos puros. É por isso que, em A
Gênese, Kardec nos lembra que “tudo
se liga, tudo se encadeia no Universo; tudo é submisso à grande e harmoniosa
lei de unidade” (AG, cap. XIV). Nada foge à ordem e ao progresso, pois o
movimento é a lei da vida.
Assim, compreendemos que o Espírito não alcança a
perfeição em uma única existência. A reencarnação permite que ele, pouco a
pouco, conquiste sua elevação moral e intelectual, em conformidade com a lei de
justiça e amor.
A
Solidariedade Cósmica: Lei Universal
Mais do que interligação, o Espiritismo fala em
solidariedade universal. Cada criatura está entrelaçada ao seu semelhante por
laços invisíveis de cooperação mútua. Espíritos superiores nos orientam;
inferiores nos desafiam a exercer a caridade e a tolerância. Como ensina São
Vicente de Paulo (LE, q. 888a), devemos ser benevolentes inclusive para com os
mais ínfimos seres da criação, pois todos são obra do mesmo Pai.
Kardec, na Revista Espírita, observa que
essa solidariedade não é invenção utópica, mas “uma das leis da natureza” (RE, fev. 1861). E sendo lei natural,
ela se impõe gradualmente, influenciando a organização social, o progresso
moral e os laços entre o mundo material e espiritual.
Nada Está
Estacionado: Tudo é Transição
A natureza está em permanente transformação. “Tudo passa, nesse sentido de que tudo
caminha e segue seu curso... tudo na criação está em movimento e sempre em
progresso” (RE, jan. 1861). Mesmo os fenômenos aparentemente destrutivos —
como cataclismos ou doenças — obedecem a leis de periodicidade e finalidade
educativa. O sofrimento é passageiro; o progresso, inevitável.
Ao compreender essa dinâmica, a vida ganha novo
sentido: somos todos trabalhadores da criação, contribuindo com nossos esforços
— conscientes ou inconscientes — para a harmonia do conjunto.
O Papel
do Ser Humano na Obra Divina
O homem é também instrumento de Deus. Como ensina a
codificação, “tudo se deve fazer para
chegar à perfeição” e “o próprio
homem é um instrumento de que Deus se serve para atingir os seus fins” (LE,
q. 692). Cumprimos esse papel ao trabalhar, ao amar, ao servir, ao educar e ao
lutar contra nossas imperfeições. Nenhum esforço é perdido. Cada gesto
construtivo fortalece o edifício universal.
Conclusão:
Harmonia na Diversidade
A Doutrina Espírita nos convida a enxergar o
universo não como um caos desconexo, mas como um organismo vivo, inteligente e
solidário. Desde o grão de areia que canta a glória de Deus (LE, q. 969) até os
Espíritos puros que irradiam sabedoria, tudo se liga, tudo serve, tudo se
encadeia. Somos parte dessa grandiosa sinfonia — ora aprendizes, ora
instrumentos, sempre em marcha para a perfeição.
“Tudo
se encadeia na natureza por laços que ainda não percebeis...” —
O Livro dos Espíritos, q. 604
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