quarta-feira, 20 de agosto de 2025

A REENCARNAÇÃO: LEI NATURAL DA VIDA
- A Era do Espírito -

Introdução

Desde a antiguidade, a humanidade intui que a vida não se limita ao breve intervalo entre o berço e o túmulo. Textos egípcios de mais de 5.000 anos já afirmavam: “Antes de nascer, a criança já viveu e a morte não é o fim; a vida é um evento que passa como o dia solar que renasce”. Essa visão perene da existência encontra confirmação e aprofundamento na Doutrina Espírita, que esclarece: a reencarnação é lei natural, expressão da justiça e da bondade divinas.

O Espiritismo não inventou a reencarnação, mas a explica de maneira racional, lógica e experimental, oferecendo fundamentos morais, filosóficos e científicos que a tornam compreensível a todos os que desejam estudá-la com seriedade.

A reencarnação na história das ideias humanas

Ao longo da história, a crença na pluralidade das existências esteve presente nas mais diversas culturas. O papiro de Anana (1320 a.C.) já ensinava que “o homem retorna à vida várias vezes, mas não se recorda de suas pretéritas existências, exceto algumas vezes em sonho”.

Na Grécia clássica, Pitágoras e Platão defendiam o renascimento das almas como processo de aprendizagem. Sócrates, no Fédon, afirma categoricamente: “É certo que há um retorno à vida, que os vivos nascem dos mortos”.

Entre os povos do Oriente, o Hinduísmo e o Budismo consolidaram essa visão como princípio essencial de sua filosofia religiosa. Para os druidas, a imortalidade da alma e a sua volta à vida terrena eram crenças naturais.

No cristianismo, embora mais tarde sufocada por dogmas e interpretações restritivas, a reencarnação encontra testemunhos claros: em Jeremias (1:4-5), a preexistência da alma é afirmada; em Mateus (17:12-13), Jesus identifica Elias na figura de João Batista; e no diálogo com Nicodemos (João 3:3), ensina: “Não pode ver o Reino de Deus senão aquele que nascer de novo”.

A contribuição da Doutrina Espírita

Foi com Allan Kardec que a reencarnação deixou de ser mera tradição ou crença para assumir caráter de lei explicada e fundamentada. Em O Livro dos Espíritos (questões 166 a 170), os Espíritos Superiores ensinam que a reencarnação tem por objetivo a expiação, o progresso moral e intelectual e a realização das tarefas que nos competem.

Kardec destaca que só a reencarnação pode justificar as desigualdades aparentes da vida: por que uns nascem em condições de abundância e outros na miséria? Por que uns trazem limitações físicas desde a infância e outros usufruem plena saúde? Seria justo atribuir tais diferenças ao acaso ou a privilégios arbitrários? A resposta é clara: se Deus é justo, a reencarnação é a única explicação compatível com a Sua justiça.

Na Revista Espírita (fevereiro de 1862), Kardec escreve: “A reencarnação é a chave que abre a solução de todos os problemas morais e sociais; sem ela, a vida seria um enigma, a justiça divina uma impossibilidade.”

Ciência e reencarnação

Muitos objetam: “Se a reencarnação é verdadeira, por que a ciência não a comprova?” A resposta é que o conhecimento humano é progressivo. O que hoje parece improvável, amanhã poderá ser natural. Foi assim com o movimento da Terra, com a existência dos átomos, com a descoberta da energia elétrica.

Diversos cientistas respeitados estudaram seriamente a hipótese reencarnacionista. William Crookes, físico e químico de renome, realizou investigações mediúnicas que confirmaram a sobrevivência da alma. Charles Richet, prêmio Nobel de Medicina, defendeu a realidade dos fenômenos anímicos. Thomas Edison admitiu a continuidade da vida em outros planos.

Hoje, universidades em várias partes do mundo, inclusive no Brasil, investigam relatos de lembranças espontâneas de vidas passadas, registradas em crianças. O pesquisador Ian Stevenson, da Universidade de Virginia, documentou centenas de casos, constituindo forte evidência da reencarnação.

A função moral da reencarnação

Mais do que teoria, a reencarnação é chave de compreensão e de responsabilidade. Se vivemos muitas existências, cada ato presente repercute no futuro, e cada dificuldade atual é degrau de aprendizado.

A sensação de déjà vu (*), os vínculos imediatos de simpatia ou antipatia, as aptidões precoces e os talentos inatos encontram explicação natural na reencarnação. Nada se perde: o Espírito guarda em si todas as conquistas do passado.

Kardec, em O Evangelho segundo o Espiritismo (cap. V, item 7), afirma: “Se a causa de certos sofrimentos não se encontra na vida atual, é preciso procurá-la em vidas anteriores.” Assim, a reencarnação não é castigo, mas oportunidade de reparação e progresso.

(*) Em português do Brasil, "déjà vu" significa "já visto". É uma expressão francesa usada para descrever a sensação de já ter vivenciado uma situação ou estado de coisas, mesmo que a pessoa saiba que essa experiência é nova.

Conclusão

A reencarnação não é dogma, mas lei natural, perceptível tanto pela razão quanto pela observação dos fatos. Está inscrita na consciência humana desde os tempos mais remotos e encontra na Doutrina Espírita sua explicação clara, lógica e consoladora.

Graças a ela, a vida adquire sentido, a justiça divina se manifesta plenamente e o futuro se revela como campo infinito de esperança e crescimento.

Se a ciência ainda hesita, é apenas questão de tempo: como tantas outras verdades, a reencarnação será, um dia, reconhecida como lei universal da vida.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1864.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita. 1858–1869.
  • KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 1890.
  • RORIZ, Maurício. Reencarnar é uma lei natural.
  • STEVENSON, Ian. Twenty Cases Suggestive of Reincarnation. University of Virginia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A GAVETA DA IDENTIDADE REFLEXÕES ESPÍRITAS SOBRE MEMÓRIA, VELHICE E RESPEITO - A Era do Espírito - Introdução A cena simples de uma idosa ...