Introdução
Desde a antiguidade, a humanidade intui que a vida
não se limita ao breve intervalo entre o berço e o túmulo. Textos egípcios de
mais de 5.000 anos já afirmavam: “Antes de nascer, a criança já viveu e a
morte não é o fim; a vida é um evento que passa como o dia solar que renasce”.
Essa visão perene da existência encontra confirmação e aprofundamento na
Doutrina Espírita, que esclarece: a reencarnação é lei natural, expressão da
justiça e da bondade divinas.
O Espiritismo não inventou a reencarnação, mas a
explica de maneira racional, lógica e experimental, oferecendo fundamentos
morais, filosóficos e científicos que a tornam compreensível a todos os que
desejam estudá-la com seriedade.
A
reencarnação na história das ideias humanas
Ao longo da história, a crença na pluralidade das
existências esteve presente nas mais diversas culturas. O papiro de Anana (1320
a.C.) já ensinava que “o homem retorna à vida várias vezes, mas não se
recorda de suas pretéritas existências, exceto algumas vezes em sonho”.
Na Grécia clássica, Pitágoras e Platão defendiam o
renascimento das almas como processo de aprendizagem. Sócrates, no Fédon,
afirma categoricamente: “É certo que há um retorno à vida, que os vivos
nascem dos mortos”.
Entre os povos do Oriente, o Hinduísmo e o Budismo
consolidaram essa visão como princípio essencial de sua filosofia religiosa.
Para os druidas, a imortalidade da alma e a sua volta à vida terrena eram
crenças naturais.
No cristianismo, embora mais tarde sufocada por
dogmas e interpretações restritivas, a reencarnação encontra testemunhos
claros: em Jeremias (1:4-5), a preexistência da alma é afirmada; em Mateus
(17:12-13), Jesus identifica Elias na figura de João Batista; e no diálogo com
Nicodemos (João 3:3), ensina: “Não pode ver o Reino de Deus senão aquele que
nascer de novo”.
A
contribuição da Doutrina Espírita
Foi com Allan Kardec que a reencarnação deixou de
ser mera tradição ou crença para assumir caráter de lei explicada e
fundamentada. Em O Livro dos Espíritos (questões 166 a 170), os
Espíritos Superiores ensinam que a reencarnação tem por objetivo a expiação, o
progresso moral e intelectual e a realização das tarefas que nos competem.
Kardec destaca que só a reencarnação pode
justificar as desigualdades aparentes da vida: por que uns nascem em condições
de abundância e outros na miséria? Por que uns trazem limitações físicas desde
a infância e outros usufruem plena saúde? Seria justo atribuir tais diferenças
ao acaso ou a privilégios arbitrários? A resposta é clara: se Deus é justo, a
reencarnação é a única explicação compatível com a Sua justiça.
Na Revista Espírita (fevereiro de 1862),
Kardec escreve: “A reencarnação é a chave que abre a solução de todos os
problemas morais e sociais; sem ela, a vida seria um enigma, a justiça divina
uma impossibilidade.”
Ciência e
reencarnação
Muitos objetam: “Se a reencarnação é verdadeira,
por que a ciência não a comprova?” A resposta é que o conhecimento humano é
progressivo. O que hoje parece improvável, amanhã poderá ser natural. Foi assim
com o movimento da Terra, com a existência dos átomos, com a descoberta da
energia elétrica.
Diversos cientistas respeitados estudaram seriamente
a hipótese reencarnacionista. William Crookes, físico e químico de renome,
realizou investigações mediúnicas que confirmaram a sobrevivência da alma.
Charles Richet, prêmio Nobel de Medicina, defendeu a realidade dos fenômenos
anímicos. Thomas Edison admitiu a continuidade da vida em outros planos.
Hoje, universidades em várias partes do mundo,
inclusive no Brasil, investigam relatos de lembranças espontâneas de vidas
passadas, registradas em crianças. O pesquisador Ian Stevenson, da Universidade
de Virginia, documentou centenas de casos, constituindo forte evidência da
reencarnação.
A função
moral da reencarnação
Mais do que teoria, a reencarnação é chave de
compreensão e de responsabilidade. Se vivemos muitas existências, cada ato
presente repercute no futuro, e cada dificuldade atual é degrau de aprendizado.
A sensação de déjà vu (*), os vínculos imediatos de simpatia
ou antipatia, as aptidões precoces e os talentos inatos encontram explicação
natural na reencarnação. Nada se perde: o Espírito guarda em si todas as
conquistas do passado.
Kardec, em O Evangelho segundo o Espiritismo
(cap. V, item 7), afirma: “Se a causa de certos sofrimentos não se encontra
na vida atual, é preciso procurá-la em vidas anteriores.” Assim, a
reencarnação não é castigo, mas oportunidade de reparação e progresso.
(*)
Em português do Brasil, "déjà vu" significa "já visto". É
uma expressão francesa usada para descrever a sensação de já ter vivenciado uma
situação ou estado de coisas, mesmo que a pessoa saiba que essa experiência é
nova.
Conclusão
A reencarnação não é dogma, mas lei natural,
perceptível tanto pela razão quanto pela observação dos fatos. Está inscrita na
consciência humana desde os tempos mais remotos e encontra na Doutrina Espírita
sua explicação clara, lógica e consoladora.
Graças a ela, a vida adquire sentido, a justiça
divina se manifesta plenamente e o futuro se revela como campo infinito de
esperança e crescimento.
Se a ciência ainda hesita, é apenas questão de
tempo: como tantas outras verdades, a reencarnação será, um dia, reconhecida
como lei universal da vida.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
- KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1864.
- KARDEC, Allan. Revista Espírita. 1858–1869.
- KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 1890.
- RORIZ, Maurício. Reencarnar é uma lei natural.
- STEVENSON, Ian. Twenty Cases Suggestive of Reincarnation.
University of Virginia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário