segunda-feira, 11 de agosto de 2025


ABORTO EUGÊNICO: UMA ANÁLISE 
À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA
- A Era do Espírito -

Introdução

O debate sobre o aborto eugênico — a interrupção da gestação motivada por diagnóstico de anomalias físicas ou mentais no feto — é um tema que, mais do que médico e jurídico, envolve questões éticas, espirituais e morais de grande profundidade.

Na perspectiva espírita, a vida é um bem sagrado desde a concepção, e a encarnação é oportunidade única para o progresso espiritual, seja para o Espírito que retorna à carne, seja para os que o acolhem na Terra.

Neste artigo, inspirado na palestra do Dr. Isaias Claro e fundamentado na Codificação Espírita e em obras complementares, refletiremos sobre o significado espiritual das deficiências, o papel do corpo físico na evolução da alma e as implicações morais das propostas de aborto com fins eugênicos.

1. O enquadramento legal e a visão espírita

O Código Penal Brasileiro (art. 128) prevê a não punição do aborto em dois casos:

  1. Aborto necessário — quando a vida da mãe está em risco;
  2. Aborto sentimental — quando a gravidez decorre de estupro.

A Doutrina Espírita, consultando-se O Livro dos Espíritos, questão 359, considera moralmente aceitável o aborto necessário, pois preserva-se a vida da mãe sem impedir o Espírito destinado à reencarnação de tentar novamente em outra oportunidade.

Entretanto, a mesma obra não encontra amparo moral para o aborto sentimental, uma vez que a vida, independentemente das circunstâncias de concepção, é oportunidade divina de crescimento para todos os envolvidos.

2. O avanço da eugenia e seus riscos morais

O aborto eugênico insere-se numa lógica de “seleção” que, historicamente, já justificou práticas desumanas — desde o extermínio de crianças com deficiência na Roma Antiga até as atrocidades do regime nazista, que buscava padronizar a raça humana.

O conceito de eugenia, cunhado por Francis Galton no século XIX, inicialmente propunha o “aprimoramento” físico e mental da população, mas, levado ao extremo, transforma-se em justificativa para descartar vidas consideradas “imperfeitas” segundo critérios arbitrários.

A prática contradiz não apenas princípios éticos universais, mas também a própria missão da Medicina, cuja essência é preservar e restaurar a vida, não eliminá-la.

3. O corpo como instrumento de evolução

Para o Espiritismo, o corpo físico é o instrumento de manifestação do Espírito na matéria, possibilitando-lhe experiências e aprendizados indispensáveis ao seu progresso moral.
Deficiências físicas ou mentais podem ser:

  • Provas ou expiações — consequências de vidas passadas, oferecendo oportunidades de reparação;
  • Missões voluntárias — quando Espíritos elevados se oferecem para auxiliar outros ou exemplificar coragem, fé e superação;
  • Recursos educativos — limitando tendências inferiores para favorecer o desenvolvimento moral.

A limitação física não define a grandeza espiritual. Personalidades como Jerônimo Mendonça, Hellen Keller e tantos outros provaram que, apesar das barreiras do corpo, a alma pode realizar obras notáveis de amor e serviço.

4. Avanços científicos que preservam a vida

A terapia gênica e a medicina fetal já oferecem alternativas para corrigir anomalias antes ou logo após o nascimento, reduzindo a justificativa médica para o aborto eugênico.

Na questão 692 de O Livro dos Espíritos, os Espíritos Superiores incentivam o homem a utilizar a Ciência para aperfeiçoar a natureza, desde que em conformidade com as leis morais — o que inclui preservar a vida sempre que possível.

5. Reflexões finais

A eliminação de um feto por apresentar anomalias é, sob o prisma espírita, impedir um Espírito de vivenciar provas necessárias ou cumprir missões planejadas antes da reencarnação.

Mais grave ainda, perpetua valores baseados na aparência, na utilidade material e na estética, esquecendo que a verdadeira medida do ser humano está em sua essência espiritual.

O exemplo pessoal narrado pelo Dr. Isaias Claro, sobre sua filha Morgana, evidencia que um filho “excepcional” é, antes de tudo, um filho excepcional — capaz de transformar, educar e iluminar o lar e o coração de todos ao redor.

Conclusão

O aborto eugênico, ainda que travestido de avanço social ou médico, fere as leis morais e ignora a realidade espiritual da vida. O Espiritismo convida à superação do orgulho e do egoísmo — as verdadeiras causas do desprezo pela vida — e ao cultivo do amor, que reconhece no ser humano, perfeito ou deficiente aos olhos do mundo, um Espírito imortal em jornada evolutiva.

Como ensinou Jerônimo Mendonça, “a doença do corpo trabalha a saúde da alma”. E como ensinou Jesus, cada vida é sagrada, fruto da vontade divina, com um propósito que transcende a compreensão imediata.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 68. ed. FEB. Questões 359 e 692.
  • KARDEC, Allan. A Gênese. FEB.
  • XAVIER, Francisco Cândido. Boa Nova (Irmão X). FEB.
  • XAVIER, Francisco Cândido. No Mundo Maior (André Luiz). FEB.
  • DI GIROLAMO, Nancy Puhlmann. O Castelo das Aves Feridas.
  • Palestra do Dr. Isaias Claro na Escola de Pais Eurípedes Barsanulfo, março de 1994 (texto base).

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