Por
estes milênios afora,
de reencarnação em reencarnação,
juntos estivemos,
vivendo com muita agitação.
Fomos adversários ferrenhos,
competindo em muitas ocasiões.
Mas, como tudo deve ao bem se encaminhar,
juntos tivemos de caminhar
em muitas outras situações.
Já vivemos como pai e filho,
irmãos, e até unidos pelo coração,
como marido e mulher.
Outras vezes,
trocamos de posição,
para que o amor nos envolvesse
em doce emoção.
Quando conseguimos o afeto atingir,
nossas almas puderam se fundir.
Mas, por força da evolução,
outros objetivos tivemos de perseguir,
e apenas em pequenos encontros
pudemos usufruir.
Nos caminhos da vida,
com oportunidades de encontros a surgir,
de um abraço rápido pudemos fruir.
Como ao mesmo Senhor estamos a trabalhar,
a saudade não foi capaz
de a dor provocar.
Temos a paciência como companheira,
que nos ampara nos fracassos;
a esperança como fonte de energia;
e a fé como força a nos alçar,
para que ao objetivo possamos chegar.
E, por mais espinhosa que seja a tarefa,
o amparo do Alto nos chega em abundância,
para que a vitória nos alcance sem falta.
Sigamos sempre de fronte erguida,
em trabalho confiante,
pois, se Deus está por nós,
quem poderá barrar nossa caminhada adiante!?
Com o amor sempre a nos unir,
caminhemos progressivamente, avante,
pois temos a vida
constantemente a nos servir.
E, de mãos entrelaçadas,
sob um céu em festim,
é certeza que avançaremos
para além de tudo o que dizem ser fim.
Introdução
O poema acima intitulado “Amigo” apresenta, em versos
simples e profundos, um panorama da trajetória das almas através dos séculos.
Nele, encontramos a essência de uma das mais consoladoras verdades reveladas
pela Doutrina Espírita: a continuidade dos laços afetivos pela lei da
reencarnação e pela lei do progresso moral.
Ao falar de encontros e desencontros, de rivalidade
e reconciliação, de afeto e evolução, os versos se alinham de modo notável com
os ensinamentos de Allan Kardec e dos Espíritos Superiores, que explicaram o
destino das almas e o valor eterno do amor.
Rivalidade
e Reconciliação
O poema lembra que já fomos “adversários ferrenhos,
competindo em muitas ocasiões”. Este trecho evoca a lei de causa e efeito, que
regula as relações humanas. Em O Evangelho segundo o Espiritismo (cap.
IV, item 18), Kardec ensina que os Espíritos, ao reencarnarem, reencontram
aqueles com quem tiveram desavenças, a fim de reparar faltas e aprender a amar
onde antes houve discórdia.
Na Revista Espírita (setembro de 1861), há
diversos relatos de Espíritos que retornaram ao convívio terreno com antigos
desafetos para experimentar, sob novos papéis, a transformação do ódio em
amizade. Assim, a rivalidade não é um fim, mas uma oportunidade pedagógica.
A
Dinâmica dos Papéis na Reencarnação
O poema também ressalta que já vivemos como “pai e
filho, irmãos, marido e mulher” e até em posições trocadas. Essa observação
está em plena sintonia com o que Kardec expõe em O Livro dos Espíritos
(questões 197 a 199), quando trata da multiplicidade de existências e da
diversidade de provas. A reencarnação permite que Espíritos experimentem
diferentes condições, aprendendo ora na posição de autoridade, ora na de
subordinação, ora no afeto conjugal, ora nos laços de sangue.
Essas trocas não são aleatórias: correspondem a um
planejamento espiritual, em que cada papel desempenhado contribui para o
amadurecimento da alma.
O Valor
da Paciência, da Esperança e da Fé
Nos versos finais, o poema destaca três virtudes
que sustentam a caminhada: paciência, esperança e fé. Em O Céu e o
Inferno (2ª parte, cap. VIII), encontramos depoimentos de Espíritos
sofredores que, em meio às provas, reconhecem que a paciência suaviza as dores,
a esperança alimenta o ânimo e a fé orienta os passos rumo ao bem.
Essas virtudes não apenas amparam os indivíduos,
mas também solidificam os laços de amizade espiritual, pois os companheiros de
jornada aprendem a se apoiar mutuamente em meio às lutas da vida.
O Amor
como Força de União
O poema conclui com a afirmação: “Com o amor sempre
a nos unir, caminhemos progressivamente adiante.” Essa síntese coincide com a
própria finalidade da lei de progresso. Kardec afirma, em A Gênese (cap.
XI, item 36), que o amor é o motor que impulsiona a humanidade rumo ao
aperfeiçoamento.
Mesmo quando a vida nos impõe separações
temporárias, a afinidade espiritual garante que os reencontros sejam
inevitáveis. Como ensina a Revista Espírita (fevereiro de 1859), o
verdadeiro amor não se dissolve com a morte, apenas se purifica, tornando-se
mais livre e mais duradouro.
Conclusão
O poema “Amigo” traduz, em linguagem poética, uma
verdade essencial do Espiritismo: a vida é uma escola milenar, na qual os
Espíritos se reencontram sucessivamente para aprender a amar e a evoluir juntos.
De adversários a companheiros, de irmãos a
cônjuges, de amigos a colaboradores de uma mesma obra, cada experiência
representa um degrau na longa escada evolutiva. A certeza da continuidade dos
laços, fortalecida pela fé, esperança e paciência, sustenta a caminhada,
mostrando que o amor é, de fato, indestrutível e eterno.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
- KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1864.
- KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 1865.
- KARDEC, Allan. A Gênese. 1868.
- KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858–1869).
- MOLLO, Elio. Amigo (poema, 02/03/2007).
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