Introdução
Vivemos em uma era de urgências, em que o tempo
parece insuficiente para atender às múltiplas demandas da vida moderna. Tarefas
acumulam-se, os compromissos se sobrepõem e, no esforço de acompanhar o ritmo
frenético da sociedade, adoecemos. A ansiedade, um dos males mais recorrentes
da atualidade, revela não apenas um desequilíbrio emocional, mas também uma
desconexão entre os valores do Espírito e os apelos excessivos do mundo
material. Como encontrar serenidade em meio a tanto ruído? A Doutrina Espírita,
codificada por Allan Kardec, oferece luz e consolo ao entendimento das causas
espirituais dos transtornos emocionais, convidando-nos a reencontrar o eixo
interior por meio do autoconhecimento, da fé raciocinada e da vivência das leis
morais.
Ansiedade: o desequilíbrio entre o ser e o ter
O corpo manifesta os sinais do que a alma não
consegue calar: suor nas mãos, coração acelerado, insônia, irritabilidade,
angústia constante. A ansiedade, nesse contexto, é reflexo de um desalinho
profundo entre os propósitos superiores da existência e os excessos de
exigência que impomos a nós mesmos. Na questão 909 de O Livro dos Espíritos,
os Espíritos afirmam que o ser humano pode vencer suas más inclinações com o
esforço pessoal, e que o problema está na falta de vontade — ou seja, na falta
de decisão íntima de retomar o controle da própria vida.
A Doutrina Espírita nos ensina que o Espírito é o
ser pensante e imortal que sobrevive à morte do corpo e que traz, em si, as
marcas de suas experiências anteriores. Reencarnamos para aprender, evoluir e
purificar-nos moralmente. Quando, porém, deixamos que os valores transitórios —
como aparência, status, competição e consumismo — se sobreponham aos valores da
alma, o sofrimento torna-se inevitável.
A ilusão do acúmulo e o esquecimento de si
A Era da Informação trouxe facilidades, mas também
sobrecargas. Nunca tivemos acesso a tantos dados e, paradoxalmente, nunca
estivemos tão desorientados. Muitos de nós, sob pressão constante para
produzir, informar-se e melhorar, mergulham em jornadas exaustivas sem espaço
para repouso, silêncio ou reflexão. O Espírito, sufocado pelas preocupações do
mundo, perde o contato com sua essência.
A questão 685 de O Livro dos Espíritos
revela que o trabalho é uma lei natural, mas a ele deve se associar o repouso,
igualmente necessário para manter o equilíbrio. A ausência de limites e o
esquecimento do verdadeiro propósito da vida — o progresso moral — transformam
o trabalho em fonte de ansiedade ao invés de dignificação.
O caminho do equilíbrio espiritual
O Espiritismo nos convida à busca do equilíbrio por
meio da razão esclarecida e da fé lúcida. Reconhece o valor do progresso
material, mas ressalta que este não deve eclipsar a construção interior. A paz
começa quando aceitamos o ritmo da própria vida, respeitando nossos limites e
compreendendo que não estamos aqui para atender expectativas alheias, mas para
desenvolver virtudes como a paciência, a humildade e a resignação ativa.
No capítulo 25 de O Evangelho segundo o
Espiritismo, ao comentar as palavras de Jesus — “Não vos inquieteis pela
posse do ouro, nem pelo cuidado com a vossa vida” — os Espíritos ensinam que o
homem prudente é aquele que age com equilíbrio, sem angústia e sem oprimir sua
consciência.
Conclusão: A serenidade nasce da confiança em Deus
A ansiedade se dissolve na alma quando despertamos
para o amparo constante das Leis Divinas. Deus, em Sua misericórdia, não nos
abandona em momento algum. Quando confiamos que a vida segue um plano de
sabedoria e justiça, a pressa cede lugar à paciência, o medo se transforma em
coragem, e o sofrimento em aprendizado.
Cabe a cada um de nós a vigilância constante sobre
nossas escolhas, prioridades e desejos. Perguntar-se sinceramente “para que
quero isso?” é um exercício de lucidez espiritual. Separar o supérfluo do
necessário é um gesto de autoconhecimento e liberdade.
A serenidade não será fruto de conquistas externas,
mas da construção de uma vida interior sólida, voltada ao bem, à simplicidade e
à conexão com Deus. E quando essa paz se estabelece, mesmo em meio ao caos, o
Espírito se ergue, seguro e confiante, acima das tempestades da vida.
Referências:
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon
Ribeiro. FEB.
- KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução
de Guillon Ribeiro. FEB.
- Momento Espírita. Ansiedade. Disponível em: https://www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=1522&let=A&stat=0
- DENIS, Léon. O Problema do Ser, do Destino e da Dor. FEB.
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