quinta-feira, 7 de agosto de 2025

ANSIEDADE E O DESCOMPASSO DA ALMA: UMA REFLEXÃO À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA
- A Era do Espírito –

Introdução

Vivemos em uma era de urgências, em que o tempo parece insuficiente para atender às múltiplas demandas da vida moderna. Tarefas acumulam-se, os compromissos se sobrepõem e, no esforço de acompanhar o ritmo frenético da sociedade, adoecemos. A ansiedade, um dos males mais recorrentes da atualidade, revela não apenas um desequilíbrio emocional, mas também uma desconexão entre os valores do Espírito e os apelos excessivos do mundo material. Como encontrar serenidade em meio a tanto ruído? A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, oferece luz e consolo ao entendimento das causas espirituais dos transtornos emocionais, convidando-nos a reencontrar o eixo interior por meio do autoconhecimento, da fé raciocinada e da vivência das leis morais.

Ansiedade: o desequilíbrio entre o ser e o ter

O corpo manifesta os sinais do que a alma não consegue calar: suor nas mãos, coração acelerado, insônia, irritabilidade, angústia constante. A ansiedade, nesse contexto, é reflexo de um desalinho profundo entre os propósitos superiores da existência e os excessos de exigência que impomos a nós mesmos. Na questão 909 de O Livro dos Espíritos, os Espíritos afirmam que o ser humano pode vencer suas más inclinações com o esforço pessoal, e que o problema está na falta de vontade — ou seja, na falta de decisão íntima de retomar o controle da própria vida.

A Doutrina Espírita nos ensina que o Espírito é o ser pensante e imortal que sobrevive à morte do corpo e que traz, em si, as marcas de suas experiências anteriores. Reencarnamos para aprender, evoluir e purificar-nos moralmente. Quando, porém, deixamos que os valores transitórios — como aparência, status, competição e consumismo — se sobreponham aos valores da alma, o sofrimento torna-se inevitável.

A ilusão do acúmulo e o esquecimento de si

A Era da Informação trouxe facilidades, mas também sobrecargas. Nunca tivemos acesso a tantos dados e, paradoxalmente, nunca estivemos tão desorientados. Muitos de nós, sob pressão constante para produzir, informar-se e melhorar, mergulham em jornadas exaustivas sem espaço para repouso, silêncio ou reflexão. O Espírito, sufocado pelas preocupações do mundo, perde o contato com sua essência.

A questão 685 de O Livro dos Espíritos revela que o trabalho é uma lei natural, mas a ele deve se associar o repouso, igualmente necessário para manter o equilíbrio. A ausência de limites e o esquecimento do verdadeiro propósito da vida — o progresso moral — transformam o trabalho em fonte de ansiedade ao invés de dignificação.

O caminho do equilíbrio espiritual

O Espiritismo nos convida à busca do equilíbrio por meio da razão esclarecida e da fé lúcida. Reconhece o valor do progresso material, mas ressalta que este não deve eclipsar a construção interior. A paz começa quando aceitamos o ritmo da própria vida, respeitando nossos limites e compreendendo que não estamos aqui para atender expectativas alheias, mas para desenvolver virtudes como a paciência, a humildade e a resignação ativa.

No capítulo 25 de O Evangelho segundo o Espiritismo, ao comentar as palavras de Jesus — “Não vos inquieteis pela posse do ouro, nem pelo cuidado com a vossa vida” — os Espíritos ensinam que o homem prudente é aquele que age com equilíbrio, sem angústia e sem oprimir sua consciência.

Conclusão: A serenidade nasce da confiança em Deus

A ansiedade se dissolve na alma quando despertamos para o amparo constante das Leis Divinas. Deus, em Sua misericórdia, não nos abandona em momento algum. Quando confiamos que a vida segue um plano de sabedoria e justiça, a pressa cede lugar à paciência, o medo se transforma em coragem, e o sofrimento em aprendizado.

Cabe a cada um de nós a vigilância constante sobre nossas escolhas, prioridades e desejos. Perguntar-se sinceramente “para que quero isso?” é um exercício de lucidez espiritual. Separar o supérfluo do necessário é um gesto de autoconhecimento e liberdade.

A serenidade não será fruto de conquistas externas, mas da construção de uma vida interior sólida, voltada ao bem, à simplicidade e à conexão com Deus. E quando essa paz se estabelece, mesmo em meio ao caos, o Espírito se ergue, seguro e confiante, acima das tempestades da vida.

Referências:

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB.
  • Momento Espírita. Ansiedade. Disponível em: https://www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=1522&let=A&stat=0
  • DENIS, Léon. O Problema do Ser, do Destino e da Dor. FEB.

 

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