Introdução
Nas Casas Espíritas, a assistência espiritual
representa uma das frentes mais visíveis e acolhedoras do trabalho doutrinário.
Ela se concretiza por meio das reuniões públicas com fluidoterapia (passes e
água fluidificada), palestras evangélico-doutrinárias e, em muitos casos,
atendimentos fraternos e reuniões de desobsessão. O perfil do público atendido
nesses encontros é vasto e complexo, refletindo as múltiplas necessidades do
Espírito reencarnado em seu processo de busca por sentido, equilíbrio e paz.
À luz da Doutrina Espírita codificada por Allan
Kardec, a assistência espiritual não é mero ritual ou paliativo emocional, mas
um recurso educativo e terapêutico de base científica, filosófica e moral. Este
artigo propõe uma leitura explicativa e atualizada sobre a clientela atendida
nessas reuniões, seus objetivos e as orientações doutrinárias para os
expositores, em consonância com o ensino dos Espíritos Superiores.
A
Diversidade da Clientela: Enfermidades e Conflitos da Alma
A clientela das reuniões de assistência espiritual
nas Casas Espíritas é composta por pessoas em diversos níveis de sofrimento
físico, emocional, psicológico e espiritual. São buscadores de alívio,
entendimento, consolo ou transformação. Dentre as condições mais recorrentes,
destacam-se:
1. Enfermidades Físicas
Conforme ensina O Livro dos
Espíritos (questões 369 a 373), o corpo é instrumento do Espírito. As
enfermidades físicas, muitas vezes, guardam relação com causas espirituais —
sejam consequências de provas escolhidas antes da reencarnação, desequilíbrios
energéticos ou reflexos de estados mentais e morais negativos.
2. Desequilíbrios Psíquicos e
Emocionais
Estados como angústia, ansiedade, desespero, culpa,
depressão, tristeza por perdas, e traumas psicológicos são desequilíbrios da
alma que repercutem no corpo e na mente. A Doutrina Espírita os interpreta como
desarmonias do Espírito encarnado, que podem ser tratadas com esclarecimento,
prece, fluidoterapia e renovação interior.
3. Envolvimento Espiritual e
Obsessões
A obsessão — definida por Allan Kardec como a influência
persistente de um Espírito inferior sobre outro (encarnado ou desencarnado) —
pode se manifestar de forma sutil (obsessão simples), emocional (fascinação),
ou grave (subjugação moral ou física). Também há a auto-obsessão, quando o
indivíduo se fixa em padrões mentais doentios, e os casos de absorção fluídica
decorrente da sintonia mental com entidades espirituais inferiores. Esses
processos exigem assistência espiritual, estudo doutrinário e vigilância moral
(cf. O
Livro dos Médiuns, cap. XXIII).
4. Públicos Diversificados e
Temporários
As reuniões também acolhem:
- pessoas sem credo religioso;
- de religiões diversas;
- público flutuante, em busca de experiências momentâneas;
- indivíduos refratários, resistentes a mensagens moralizantes.
A Casa Espírita, como hospital, escola e templo,
oferece espaço para todos, sem distinção, com base na caridade e no
universalismo do Evangelho de Jesus.
Finalidades
das Palestras de Assistência Espiritual
As palestras que antecedem os passes não têm função
apenas instrutiva: elas são profundamente terapêuticas.
Objetivos Imediatos
- Preparar espiritualmente os presentes para a fluidoterapia (passe);
- Promover consolo, esperança e reerguimento moral;
- Estimular o contato com os valores do Evangelho, criando um campo
mental de receptividade ao amparo espiritual.
Objetivos Mediatos
- Estimular a reflexão sobre o comportamento humano;
- Despertar a consciência moral;
- Provocar o desejo de autotransformação, conforme propõe o
Espiritismo em seu tríplice aspecto (ciência, filosofia e moral).
Esses objetivos são coerentes com a resposta dos Espíritos à questão 919 de O Livro dos Espíritos, quando recomendam o “conhece-te a ti mesmo” como chave do progresso moral.
O
Expositor e a Responsabilidade Evangelizadora
O expositor, na assistência espiritual, não é
palestrante comum. Ele é instrumento de mediação entre a espiritualidade
superior e os corações necessitados. Por isso, deve:
- Respeitar o repertório do público, utilizando linguagem
acessível, sem jargões técnicos ou discursos teológicos distantes da
realidade;
- Evitar ilustrações deprimentes, que agravam o sofrimento
ou geram medo;
- Evitar maniqueísmos e preconceitos, optando por abordagens que respeitem o livre-arbítrio e a
complexidade humana;
- Apresentar o conflito humano seguido da possibilidade de superação, destacando o papel da vontade, da fé e do esforço próprio na cura
espiritual.
Como orienta Kardec, é pela clareza, bom senso e
objetividade que se faz a verdadeira divulgação doutrinária (Obras Póstumas,
"Instruções aos Espíritas").
Considerações
Finais
As reuniões de assistência espiritual são, para
muitos, o primeiro contato com a Doutrina Espírita. Nelas, o sofrimento humano
encontra escuta, acolhimento e direção. Com base no método espírita codificado
por Allan Kardec, o Espiritismo oferece não apenas consolo, mas também
ferramentas de autoconhecimento e transformação íntima.
A clientela variada que busca essas reuniões
reflete o drama da alma em processo de amadurecimento espiritual. A Casa
Espírita, ao reconhecer essas necessidades, cumpre seu papel de hospital para
as dores da alma e escola para o despertar da consciência.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB.
- KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. FEB.
- KARDEC, Allan. Obras Póstumas. FEB.
- KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. FEB.
- PIRES, J. Herculano. Ciência Espírita e suas Implicações
Terapêuticas. Paidéia.
- XAVIER, Francisco Cândido. Nos Domínios da Mediunidade. Pelo
Espírito André Luiz. FEB.
- DENIS, Léon. O Problema do Ser, do Destino e da Dor. FEB.
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