quinta-feira, 21 de agosto de 2025

 

ARTE E ESPIRITISMO: DAS PREMONIÇÕES DE KARDEC
À LINGUAGEM ARTÍSTICA DE NOSSO TEMPO
- A Era do Espírito -

Introdução

A arte sempre foi expressão da alma humana em sua busca pelo belo, pelo verdadeiro e pelo eterno. Em “Obras Póstumas”, Allan Kardec, o codificador do Espiritismo, dedicou um capítulo à “Influência perniciosa das ideias materialistas sobre as artes em geral; a regeneração delas por meio do Espiritismo”, onde anteviu que a renovação da sensibilidade artística dependeria da superação do materialismo e da abertura da consciência para a realidade espiritual.

Mais de um século após essas reflexões, testemunhamos como certas manifestações artísticas, seja no cinema, no teatro ou na literatura, caminham na direção daquilo que Kardec vislumbrou: a arte inspirada pelas ideias espirituais, capaz de emocionar, consolar e educar.

A visão de Kardec sobre a arte regenerada

Para Kardec, a arte materialista se limitava a retratar o corpo e a vida terrena, em suas paixões e dramas passageiros. Já a arte iluminada pelo Espiritismo abriria “um campo inteiramente novo, imenso e ainda inexplorado”, capaz de traduzir em cores, sons e imagens a vida do Espírito, sua imortalidade, seus reencontros e provas.

O mestre lionês escreveu que, em vez de personagens reduzidos à morte física, o artista do futuro mostraria a continuidade da vida, a presença de entes queridos em formas etéreas, o remorso dos Espíritos culpados e a beleza radiosa das almas regeneradas. Trata-se de uma nova estética, na qual o invisível se torna matéria-prima da criação.

O cinema e a difusão da espiritualidade

No século XX, algumas obras cinematográficas alcançaram projeção mundial justamente por abordarem temas espirituais. O filme “Ghost – Do Outro Lado da Vida” (1990), ainda que sem intenção doutrinária, apresentou a milhões de espectadores uma representação próxima de certas verdades espíritas: a continuidade da vida, a influência dos Espíritos sobre os encarnados, a comunicação mediúnica e a lei moral de causa e efeito.

Outro exemplo é o épico “Gandhi” (1982), que, embora biográfico, ressaltou a dimensão espiritual da vida de um líder que pregava a não violência e a fraternidade universal. Ainda no Brasil, destacam-se produções como a novela “A Viagem” (1994), baseada em ideias espíritas, e filmes como “Nosso Lar” (2010), inspirado na obra mediúnica de André Luiz por Francisco Cândido Xavier, que levou milhões de pessoas aos cinemas.

Essas manifestações artísticas cumprem, em parte, o que Kardec previa: ao mesmo tempo em que entretêm, abrem horizontes de reflexão espiritual e alcançam públicos que dificilmente seriam tocados apenas pelo estudo filosófico ou moral.

Arte espírita e desafios atuais

Se a arte materialista tende a explorar o sensacionalismo e a exaltação de paixões inferiores, a arte espírita – ou inspirada pela espiritualidade – deve se orientar pela elevação moral, pela beleza educativa e pela fidelidade às leis divinas. A questão não é restringir a liberdade criativa, mas ampliar seus horizontes, permitindo que a arte cumpra também uma função regeneradora.

Na Revista Espírita de fevereiro de 1868, Kardec afirma que o Espiritismo deve contribuir para a regeneração da humanidade em todos os campos da cultura. Isso inclui a literatura, a música, o teatro, a pintura e, em nossa época, o cinema e as artes digitais.

Em um mundo marcado pela tecnologia e pela velocidade da informação, cresce a necessidade de conteúdos que, além de entreter, elevem e inspirem. Nesse sentido, a estética espírita encontra terreno fértil: há um público aberto a narrativas sobre reencarnação, comunicação com os mortos, provas e expiações, e sobretudo sobre a vitória do amor sobre a morte.

Conclusão

Allan Kardec, em sua análise sobre a arte, não apenas diagnosticou o empobrecimento causado pelo materialismo, mas anteviu uma verdadeira revolução estética e espiritual. Mais de 150 anos depois, a realidade confirma sua visão: a arte que aborda o espiritual encontra receptividade e emoção profunda nos corações, porque responde à sede de transcendência que a humanidade traz em si.

Cabe aos artistas e pensadores de hoje aprofundar esse caminho, não como imposição doutrinária, mas como uma contribuição à elevação da cultura e ao despertar das consciências. Assim, a arte será, como desejava Kardec, um veículo da beleza eterna e da verdade espiritual, ajudando a humanidade a compreender que “a vida não termina com a morte” e que o futuro do homem é o progresso moral e intelectual rumo a Deus.

Referências

  • KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 1890.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858–1869).
  • KARDEC, Allan. A Gênese. 1868.
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
  • XAVIER, Francisco Cândido (pelo Espírito André Luiz). Nosso Lar. 1944.
  • ZUCKER, Jerry. Ghost – Do Outro Lado da Vida. Paramount Pictures, 1990.
  • ATTENBOROUGH, Richard. Gandhi. Columbia Pictures, 1982.
  • REDE GLOBO. A Viagem. Novela, 1994.

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