quinta-feira, 21 de agosto de 2025

A BÍBLIA, O ESPIRITISMO E A RAZÃO:
UMA REFUTAÇÃO PARA OS DIAS ATUAIS
- A Era do Espírito -

Introdução

Frequentemente escutamos objeções contra o Espiritismo, fundadas em passagens bíblicas interpretadas de forma literal. Muitos acreditam que basta citar versículos isolados para condenar os Espíritas a penas eternas, como se o Criador tivesse instituído a perdição irreversível para parte de seus filhos. É necessário, portanto, examinar essas objeções com serenidade, à luz da razão e do ensino universal dos Espíritos.

O Espiritismo não veio para destruir a fé, mas para esclarecê-la. E não poderia ser de outra forma, pois a fé verdadeira é sempre racional e jamais teme o exame.

A contradição das leituras literais

Os que se apegam ao texto bíblico como única norma absoluta, esquecem que a Bíblia foi escrita por homens, em épocas e culturas diversas, sob inspiração espiritual relativa ao grau de compreensão do tempo. Não se trata, pois, de um livro ditado palavra por palavra por Deus, mas de um repositório de tradições, símbolos e narrativas que, embora contenham verdades sublimes, também trazem marcas da limitação humana.

Assim, encontramos no mesmo livro o mandamento “Não matarás” (Êxodo 20:13) e, logo adiante, a ordem de passar ao fio da espada irmãos, amigos e vizinhos (Êxodo 32:27). É razoável atribuir a Deus, Pai de amor e justiça, tal contradição? Não seria mais lógico compreender que certos textos expressam a visão tribal e guerreira de um povo, em vez da vontade eterna e imutável do Criador?

Do mesmo modo, não podemos tomar ao pé da letra passagens em que o Senhor parece associar-se a um espírito mentiroso (1 Reis 22:23), ou que descrevem um Cristo espancando vendedores no templo, como se seu ensinamento fosse de violência e não de mansidão.

O Deus do Espiritismo

O Espiritismo não rejeita a Bíblia; antes, procura compreendê-la de maneira mais profunda. Ele nos mostra que Deus é soberanamente justo e bom, que não decreta penas eternas, porque a eternidade da punição seria a negação de sua misericórdia infinita.

Enquanto a leitura literal faz de Deus um legislador contraditório e punitivo, o Espiritismo revela o Pai amoroso, que educa seus filhos por meio da reencarnação, dando sempre novas oportunidades de aprendizado. O Inferno, tal como pregado pelas seitas mais rígidas, é uma invenção humana; as dores do Espírito após a morte não são eternas, mas transitórias e proporcionais ao mal praticado, cessando quando o arrependimento e a reparação se realizam.

Fé cega ou fé raciocinada?

Muitos dizem: “É preciso crer para depois compreender.” Ora, essa é a fé cega, que se impõe pela autoridade e que exige a submissão sem exame. O Espiritismo, ao contrário, convida à fé raciocinada: primeiro compreender, depois crer.

Se uma doutrina exige que o homem abdique da razão para aceitá-la, não é divina, pois Deus nos deu a razão para que a utilizássemos. O Cristo mesmo recomendou: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32). Não disse: “Crede sem compreender.”

A liberdade de consciência

Ainda hoje, alguns buscam, na Bíblia, justificativas para excluir, condenar ou calar os que pensam diferente. Contudo, observamos que até mesmo aqueles que acusam o Espiritismo não seguem integralmente as prescrições bíblicas: não apedrejam adúlteros, não expulsam leprosos, não matam quem trabalha no sábado, e tampouco impedem as mulheres de falar em público, como ordenava Paulo.

Isso demonstra que a consciência humana evoluiu e já não aceita cegamente certos mandamentos, por considerá-los incompatíveis com o progresso moral. Não seria então justo estender esse mesmo raciocínio ao entendimento da vida espiritual?

O Espiritismo respeita a liberdade de cada um escolher sua fé, sem impor, sem ameaçar. Se alguns desejam permanecer na crença do Inferno eterno, estão no direito; mas não têm o direito de impor a outros esse mesmo jugo.

Conclusão

Não vemos na Bíblia a condenação definitiva do Espiritismo, mas sim o testemunho de uma revelação progressiva, que agora encontra complemento e explicação na Doutrina dos Espíritos.

Cristo nos ensinou que o verdadeiro culto a Deus está em amar e servir ao próximo. É por isso que preferimos um Deus de amor ao Deus vingativo das leituras literais; é por isso que preferimos a fé raciocinada à fé cega; é por isso que preferimos a liberdade de consciência à imposição do medo.

Se o Espiritismo for condenado, será condenado apenas porque prega a fraternidade, a justiça e a esperança. E se assim for, perguntamos: não foi também Cristo condenado pelos doutores da lei, quando trouxe ao mundo o mesmo convite ao amor?

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1864.
  • KARDEC, Allan. O que é o Espiritismo. 1859.
  • KARDEC, Allan. A Gênese. 1868.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858–1869).
  • Bíblia Sagrada.

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