domingo, 24 de agosto de 2025

CHARLES ROBERT RICHET E A DOUTRINA ESPÍRITA
- A Era do Espírito -

Quem foi Richet?

Charles Robert Richet (1850–1935) foi médico, fisiologista e professor da Faculdade de Medicina de Paris, tendo recebido o Prêmio Nobel de Fisiologia em 1913 por suas pesquisas sobre a anafilaxia. Mas, além de seus estudos médicos, ele se dedicou profundamente ao exame dos chamados “fenômenos metapsíquicos” — termo que ele próprio criou, em 1905, para designar os fenômenos que ultrapassavam a explicação da psicologia e da fisiologia conhecidas.

A “Metapsíquica”

Em sua obra fundamental Traité de Métapsychique (1922), Richet sistematizou pesquisas sobre fenômenos como:

  • telepatia,
  • clarividência,
  • psicometria,
  • escrita automática,
  • materializações,
  • efeitos físicos (movimento de objetos, ruídos, etc.).

A palavra “metapsíquica” foi, em sua época, uma tentativa de dar à pesquisa desses fenômenos uma roupagem científica, sem os preconceitos associados ao “espiritismo” — que era visto com desconfiança pela comunidade acadêmica.

Convergência com o Espiritismo de Kardec

Richet não era espírita e declarava-se agnóstico quanto à sobrevivência da alma. Ele buscava compreender os fenômenos como fatos naturais ainda inexplicados, sem recorrer imediatamente à hipótese da intervenção de Espíritos. Contudo, a importância de suas contribuições para o Espiritismo é inegável:

  1. Validação científica dos fenômenos – Richet não negava os fatos. Pelo contrário, afirmava que os fenômenos metapsíquicos existiam, devendo ser estudados com rigor científico. Isso converge com Kardec, que, em O Livro dos Médiuns e na Revista Espírita, sempre defendeu a observação, a repetição e a análise crítica como método de estudo.
  2. Separação entre fato e interpretação – Kardec também havia ensinado que a realidade dos fenômenos era uma coisa e sua interpretação filosófica era outra. Richet, embora sem aderir à explicação espírita, corroborou a realidade objetiva de manifestações que Kardec já havia catalogado e estudado.
  3. Prolongamento da pesquisa iniciada no século XIX – Enquanto Kardec abriu o caminho no campo da filosofia espiritualista e da sistematização moral, Richet ofereceu continuidade científica, aproximando os fenômenos mediúnicos do campo de estudo da psicologia e da biologia.

Diferença fundamental em relação a Kardec

  • Kardec: Interpretou os fenômenos à luz da intervenção dos Espíritos desencarnados, integrando ciência, filosofia e moral (cristã), com finalidade moral e evolutiva.
  • Richet: Apesar de testemunhar fenômenos impressionantes de materialização e clarividência, permanecia agnóstico quanto à sobrevivência da alma, atribuindo-os a uma “força desconhecida da mente humana” (hipótese animista).

Impacto na história do Espiritismo

A contribuição de Richet, mesmo sem aceitar a explicação espírita, foi significativa porque:

  • fortaleceu a credibilidade científica dos fenômenos estudados por Kardec;
  • abriu espaço para que outros cientistas (como Gabriel Delanne, Ernesto Bozzano e Gustave Geley) desenvolvessem pesquisas que se aproximaram mais diretamente da hipótese espírita;
  • mostrou que o campo dos fenômenos psíquicos poderia ser investigado com a mesma seriedade aplicada às ciências naturais.

Em síntese

Charles Richet contribuiu para a Doutrina Espírita ao confirmar a realidade dos fenômenos mediúnicos estudados por Allan Kardec, ainda que tenha se recusado a adotar a explicação espiritualista. Sua obra deu respaldo científico e impulsionou o diálogo entre ciência e espiritualidade, servindo como ponte entre o materialismo científico e as investigações do Espiritismo.

Referências

  • RICHET, Charles. Traité de Métapsychique. Paris, 1922.
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 1861.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858–1869).
  • DELANNE, Gabriel. O Espiritismo perante a Ciência. 1897.
  • BOZZANO, Ernesto. Fenômenos de Bilocação. 1926.
  • GELEY, Gustave. Do Inconsciente ao Consciente. 1919.

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