Quem foi
Richet?
Charles Robert Richet (1850–1935) foi médico,
fisiologista e professor da Faculdade de Medicina de Paris, tendo recebido o Prêmio
Nobel de Fisiologia em 1913 por suas pesquisas sobre a anafilaxia.
Mas, além de seus estudos médicos, ele se dedicou profundamente ao exame dos
chamados “fenômenos metapsíquicos” — termo que ele próprio criou, em 1905, para
designar os fenômenos que ultrapassavam a explicação da psicologia e da
fisiologia conhecidas.
A
“Metapsíquica”
Em sua obra fundamental Traité de Métapsychique
(1922), Richet sistematizou pesquisas sobre fenômenos como:
- telepatia,
- clarividência,
- psicometria,
- escrita automática,
- materializações,
- efeitos físicos (movimento de objetos, ruídos, etc.).
A palavra “metapsíquica” foi, em sua época, uma
tentativa de dar à pesquisa desses fenômenos uma roupagem científica, sem os
preconceitos associados ao “espiritismo” — que era visto com desconfiança pela
comunidade acadêmica.
Convergência
com o Espiritismo de Kardec
Richet não era espírita e declarava-se
agnóstico quanto à sobrevivência da alma. Ele buscava compreender os fenômenos
como fatos naturais ainda inexplicados, sem recorrer imediatamente à hipótese
da intervenção de Espíritos. Contudo, a importância de suas contribuições para
o Espiritismo é inegável:
- Validação científica dos fenômenos – Richet não negava os fatos. Pelo contrário, afirmava que os
fenômenos metapsíquicos existiam, devendo ser estudados com rigor
científico. Isso converge com Kardec, que, em O Livro dos Médiuns e
na Revista Espírita, sempre defendeu a observação, a repetição e a
análise crítica como método de estudo.
- Separação entre fato e interpretação – Kardec também havia ensinado que a realidade dos fenômenos era
uma coisa e sua interpretação filosófica era outra. Richet, embora sem
aderir à explicação espírita, corroborou a realidade objetiva de
manifestações que Kardec já havia catalogado e estudado.
- Prolongamento da pesquisa iniciada no século XIX – Enquanto Kardec abriu o caminho no campo da filosofia
espiritualista e da sistematização moral, Richet ofereceu continuidade
científica, aproximando os fenômenos mediúnicos do campo de estudo da
psicologia e da biologia.
Diferença
fundamental em relação a Kardec
- Kardec: Interpretou os fenômenos à luz da intervenção
dos Espíritos desencarnados, integrando ciência, filosofia e moral
(cristã), com finalidade moral e evolutiva.
- Richet: Apesar de testemunhar fenômenos
impressionantes de materialização e clarividência, permanecia agnóstico
quanto à sobrevivência da alma, atribuindo-os a uma “força
desconhecida da mente humana” (hipótese animista).
Impacto
na história do Espiritismo
A contribuição de Richet, mesmo sem aceitar a
explicação espírita, foi significativa porque:
- fortaleceu a credibilidade científica dos fenômenos
estudados por Kardec;
- abriu espaço para que outros cientistas (como Gabriel Delanne,
Ernesto Bozzano e Gustave Geley) desenvolvessem pesquisas que se
aproximaram mais diretamente da hipótese espírita;
- mostrou que o campo dos fenômenos psíquicos poderia ser investigado
com a mesma seriedade aplicada às ciências naturais.
Em
síntese
Charles Richet contribuiu para a Doutrina Espírita
ao confirmar a realidade dos fenômenos mediúnicos estudados por Allan
Kardec, ainda que tenha se recusado a adotar a explicação espiritualista. Sua
obra deu respaldo científico e impulsionou o diálogo entre ciência e
espiritualidade, servindo como ponte entre o materialismo científico e as
investigações do Espiritismo.
Referências
- RICHET, Charles. Traité de Métapsychique. Paris, 1922.
- KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 1861.
- KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858–1869).
- DELANNE, Gabriel. O Espiritismo perante a Ciência. 1897.
- BOZZANO, Ernesto. Fenômenos de Bilocação. 1926.
- GELEY, Gustave. Do Inconsciente ao Consciente. 1919.
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