Introdução
A vida cotidiana, em suas pequenas situações,
muitas vezes nos apresenta lições profundas. Um simples atraso para um jantar,
uma divergência sobre o caminho a seguir, ou até mesmo a insistência em
defender um ponto de vista, podem revelar o quanto ainda colocamos o orgulho
acima da paz e da harmonia.
A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec,
oferece uma chave de leitura para essas situações, ensinando-nos que a
verdadeira vitória não está em impor razões, mas em cultivar a paz íntima e a
caridade nas relações.
O episódio relatado — em que uma esposa abre mão de
insistir para evitar um conflito — é um exemplo prático do que Jesus já nos
ensinava: a importância da mansidão, da renúncia e do amor acima das vaidades
pessoais.
O orgulho
como raiz dos conflitos
Em O Livro dos Espíritos, questão 785, os
Espíritos afirmam que o orgulho e o egoísmo são as maiores chagas da
humanidade, responsáveis por inúmeros males sociais e pessoais. Muitas
vezes, ao querermos “ter razão” a qualquer custo, é o orgulho que nos domina,
conduzindo-nos a discussões estéreis e a rupturas dolorosas.
Na Revista Espírita de abril de 1864, Kardec
observa que a obstinação em defender pontos de vista pode levar a choques de
vaidades, enquanto o verdadeiro espírita deve aprender a “ceder sem humilhação”
e a “discordar sem romper laços de afeto”. Isso mostra que a convivência
fraterna exige mais do que lógica — exige humildade e sensibilidade.
A razão
com sensibilidade
A razão é um dom precioso, mas, como toda faculdade
humana, precisa ser temperada pelo sentimento. Kardec, em O Evangelho
segundo o Espiritismo, capítulo XVII, ensina que a verdadeira
superioridade moral não está em vencer debates, mas em praticar a
paciência, a indulgência e a benevolência.
Assim, a atitude da esposa que prefere manter a
paz, em vez de impor sua razão, ilustra perfeitamente esse equilíbrio. Ela não
renunciou à razão por fraqueza, mas por amor, por compreender que a felicidade
do casal estava acima da necessidade de provar que estava certa.
O exemplo
de Jesus
Jesus, o Modelo e Guia da humanidade (O Livro
dos Espíritos, questão 625), nunca impôs sua razão, embora a possuísse em
plenitude. Ele convidava, aconselhava, orientava — sempre respeitando o
livre-arbítrio. Seu chamado: “Vinde a mim, vós que estais aflitos e
sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mateus 11:28), é o convite do amor,
jamais da imposição.
Segui-lo significa compreender que há momentos em
que calar, ceder ou esperar é a expressão mais elevada de sabedoria. Isso não
significa omissão, mas o discernimento de quando falar e de quando preservar a
harmonia.
Conclusão
Na jornada evolutiva, todos nós teremos incontáveis
oportunidades de escolher entre ter razão ou ser feliz. A Doutrina Espírita nos
lembra que a paz íntima é um patrimônio espiritual que só se perde
quando permitimos que o orgulho a roube de nós.
Por isso, é sempre válido refletir: vale a pena
abrir mão da serenidade para provar algo irrelevante? Ou será melhor, como
ensina o Espiritismo, cultivar a caridade e a paciência, preservando a harmonia
que nos aproxima do Cristo?
Optar pela paz, sem negligenciar a verdade, é
caminhar de acordo com o Evangelho de Jesus e com a proposta espírita de
autotransformação.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
- KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1864.
- KARDEC, Allan. Revista Espírita. (1858–1869).
- Caco de Paula. Artigo publicado na revista Vida Simples,
17.6.2004, Ed. Abril.
- Momento Espírita. Razão e Sensibilidade. Disponível em:
momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=1164&stat=0.
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