domingo, 24 de agosto de 2025

TER RAZÃO OU SER FELIZ?
UMA REFLEXÃO À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA
- A Era do Espírito -

Introdução

A vida cotidiana, em suas pequenas situações, muitas vezes nos apresenta lições profundas. Um simples atraso para um jantar, uma divergência sobre o caminho a seguir, ou até mesmo a insistência em defender um ponto de vista, podem revelar o quanto ainda colocamos o orgulho acima da paz e da harmonia.

A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, oferece uma chave de leitura para essas situações, ensinando-nos que a verdadeira vitória não está em impor razões, mas em cultivar a paz íntima e a caridade nas relações.

O episódio relatado — em que uma esposa abre mão de insistir para evitar um conflito — é um exemplo prático do que Jesus já nos ensinava: a importância da mansidão, da renúncia e do amor acima das vaidades pessoais.

O orgulho como raiz dos conflitos

Em O Livro dos Espíritos, questão 785, os Espíritos afirmam que o orgulho e o egoísmo são as maiores chagas da humanidade, responsáveis por inúmeros males sociais e pessoais. Muitas vezes, ao querermos “ter razão” a qualquer custo, é o orgulho que nos domina, conduzindo-nos a discussões estéreis e a rupturas dolorosas.

Na Revista Espírita de abril de 1864, Kardec observa que a obstinação em defender pontos de vista pode levar a choques de vaidades, enquanto o verdadeiro espírita deve aprender a “ceder sem humilhação” e a “discordar sem romper laços de afeto”. Isso mostra que a convivência fraterna exige mais do que lógica — exige humildade e sensibilidade.

A razão com sensibilidade

A razão é um dom precioso, mas, como toda faculdade humana, precisa ser temperada pelo sentimento. Kardec, em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XVII, ensina que a verdadeira superioridade moral não está em vencer debates, mas em praticar a paciência, a indulgência e a benevolência.

Assim, a atitude da esposa que prefere manter a paz, em vez de impor sua razão, ilustra perfeitamente esse equilíbrio. Ela não renunciou à razão por fraqueza, mas por amor, por compreender que a felicidade do casal estava acima da necessidade de provar que estava certa.

O exemplo de Jesus

Jesus, o Modelo e Guia da humanidade (O Livro dos Espíritos, questão 625), nunca impôs sua razão, embora a possuísse em plenitude. Ele convidava, aconselhava, orientava — sempre respeitando o livre-arbítrio. Seu chamado: “Vinde a mim, vós que estais aflitos e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mateus 11:28), é o convite do amor, jamais da imposição.

Segui-lo significa compreender que há momentos em que calar, ceder ou esperar é a expressão mais elevada de sabedoria. Isso não significa omissão, mas o discernimento de quando falar e de quando preservar a harmonia.

Conclusão

Na jornada evolutiva, todos nós teremos incontáveis oportunidades de escolher entre ter razão ou ser feliz. A Doutrina Espírita nos lembra que a paz íntima é um patrimônio espiritual que só se perde quando permitimos que o orgulho a roube de nós.

Por isso, é sempre válido refletir: vale a pena abrir mão da serenidade para provar algo irrelevante? Ou será melhor, como ensina o Espiritismo, cultivar a caridade e a paciência, preservando a harmonia que nos aproxima do Cristo?

Optar pela paz, sem negligenciar a verdade, é caminhar de acordo com o Evangelho de Jesus e com a proposta espírita de autotransformação.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1864.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita. (1858–1869).
  • Caco de Paula. Artigo publicado na revista Vida Simples, 17.6.2004, Ed. Abril.
  • Momento Espírita. Razão e Sensibilidade. Disponível em: momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=1164&stat=0.

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