Introdução
O
avanço científico e tecnológico, sobretudo nas áreas da biologia, da genética e
da medicina, oferece ao ser humano recursos antes inimagináveis. A clonagem, os
estudos do DNA e as perspectivas de manipulação genética suscitam debates
profundos sobre os limites da ciência, os direitos da vida e as implicações
morais das descobertas modernas.
A
Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec e enriquecida pelos estudos da Revista
Espírita e pelas obras complementares, oferece luz para o entendimento
desses fenômenos. Nela encontramos a chave para compreender que o progresso
material e intelectual deve caminhar em sintonia com o progresso moral, sob a
égide das Leis Naturais, que são expressão da Lei Divina.
A evolução do corpo e do Espírito
Kardec,
em O Livro dos Espíritos (questões 776 a 785), mostra que a humanidade
progride simultaneamente no campo material e moral, mas nem sempre de forma
equilibrada. O corpo físico, por sua vez, acompanha as transformações
espirituais, pois a matéria é moldada pela energia espiritual que lhe serve de
sustentáculo.
Como
lembra a Revista Espírita (dezembro de 1863), “o Espírito é o arquiteto do corpo”. Dessa forma, as modificações
morfológicas e biológicas da humanidade, ao longo do tempo, não são obra
exclusiva do acaso ou da seleção natural, mas refletem a atuação dos Espíritos
e dos planos de Deus para o progresso do orbe.
Assim,
não é a manipulação humana que garante a perfeição da forma, mas a ascensão
moral e intelectual do Espírito que, em reencarnações sucessivas, plasma corpos
cada vez mais aptos às suas necessidades evolutivas.
Clonagem, genética e os limites da ciência
A
ciência material, ao tentar manipular a vida, muitas vezes esquece-se de que o espírito
(LE, q. 23) é o princípio inteligente do
Universo (O Livro dos Espíritos, q. 23). Sem ele, não há consciência,
nem sentimentos, nem destino.
Na Revista
Espírita (abril de 1862), Kardec comenta que o espírito (LE, q. 23) não
pode ser fabricado em laboratório, pois sua origem é divina, independente dos
processos humanos. Dessa forma, a clonagem de corpos humanos, ainda que um dia
se concretize tecnicamente, não será capaz de gerar seres conscientes, pois
faltará o elemento essencial: o Espírito (LE, q. 76) reencarnante.
Os
experimentos que visam à produção de corpos sem alma, programados para funções
utilitárias, representam um desvio da finalidade sublime da ciência. Kardec
advertia em A Gênese (cap. XI, item 15) que a ciência sem moral pode
tornar-se instrumento de destruição, mas quando aliada à ética e ao amor,
torna-se força libertadora.
O risco da eugenia e a ilusão da perfeição material
A
história recente mostra os perigos da eugenia, como no nazismo, que tentou
impor uma raça pura através da violência e da eliminação dos considerados
“imperfeitos”. A Doutrina Espírita ensina, entretanto, que as aparentes
limitações físicas e mentais são oportunidades de aprendizado, escolhidas
muitas vezes pelos próprios Espíritos, como meio de progresso e reparação.
Na Revista
Espírita (janeiro de 1864), encontramos a explicação de que “as doenças e as deformidades são,
frequentemente, provas aceitas pelo Espírito antes de renascer”. Assim, ao
buscar eliminar tais experiências, a ciência corre o risco de atentar contra a
pedagogia divina que conduz cada ser ao seu aperfeiçoamento.
A ética espiritual da ciência
Kardec
estabelece, em O Livro dos Espíritos (q. 780), que o progresso moral é o
freio do progresso intelectual. Enquanto o homem não subordinar suas
descobertas ao bem coletivo e à lei de amor, a ciência poderá ser instrumento
de sofrimento.
Por
outro lado, a Doutrina Espírita não condena o avanço científico. Ao contrário,
reconhece-o como parte essencial da evolução humana. As conquistas da medicina,
ao prolongar a vida e aliviar dores, são instrumentos divinos quando colocados
a serviço do bem.
A
clonagem de órgãos para transplantes, a correção de anomalias genéticas e as
pesquisas para curar doenças encontram respaldo no Evangelho quando buscam o
amparo ao próximo. Mas a produção de clones humanos ou a manipulação voltada ao
prazer e ao poder são desvios que cedo ou tarde serão corrigidos pelas Leis
Naturais.
Conclusão
O
futuro reserva à humanidade um equilíbrio entre ciência e espiritualidade. A
clonagem e as manipulações genéticas, sem a compreensão do papel do Espírito,
permanecerão limitadas e arriscadas. Mas quando a ética evangélica iluminar o
laboratório, o cientista será também servidor da Lei Divina, contribuindo para
uma sociedade mais justa, fraterna e feliz.
Jesus,
o modelo e guia da humanidade, já nos advertia que apenas o amor edifica e
liberta. O progresso verdadeiro será aquele que respeite a vida, em todas as
suas expressões, e reconheça no Espírito imortal o verdadeiro centro da
criação.
Referências
- KARDEC, Allan. O
Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB.
- KARDEC, Allan. A
Gênese. FEB.
- KARDEC, Allan. Revista
Espírita (1858-1869). Diversos volumes.
- KARDEC, Allan. O
Céu e o Inferno. FEB.
- KARDEC, Allan. O
Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB.
- XAVIER, Francisco
Cândido (pelo Espírito Emmanuel). A Caminho da Luz. FEB.
- FRANCO, Divaldo
Pereira (pelo Espírito Joanna de Ângelis). O Homem Integral. LEAL.
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