segunda-feira, 25 de agosto de 2025

DA ESCRAVIDÃO À TERRA PROMETIDA:
REFLEXÕES ESPÍRITAS
SOBRE O ÊXODO E OS JAREDISTAS
- A Era do Espírito -

Introdução

A narrativa da libertação do povo hebreu da escravidão no Egito, descrita no Êxodo bíblico, é um dos relatos mais conhecidos da história religiosa da humanidade. A saga de Moisés e de seu povo no deserto rumo à Terra Prometida simboliza não apenas a libertação física da opressão, mas também um processo de amadurecimento espiritual.

Menos conhecida, porém sugestiva, é a versão registrada no Livro de Mórmon, que descreve a jornada dos jaredistas, conduzidos em embarcações frágeis, guiados pela luz de pedras tocadas por Deus, em busca de uma terra de liberdade. Embora não pertença ao corpo doutrinário espírita, essa narrativa pode ser lida de forma simbólica, à luz da Doutrina codificada por Allan Kardec, que nos convida sempre à análise racional e ao confronto com a revelação progressiva dos Espíritos.

A simbologia da libertação e da travessia

Tanto o Êxodo hebreu quanto a saga dos jaredistas expressam o mesmo arquétipo espiritual: o da travessia. Libertar-se da escravidão ou deixar a torre de Babel são metáforas de um mesmo movimento — abandonar a estagnação moral e avançar, sob desafios, rumo a novas conquistas.

Na visão espírita, essa travessia é comparável às múltiplas existências do Espírito. Segundo O Livro dos Espíritos (questões 167-170), a reencarnação é o meio pelo qual a alma progride, depurando-se das imperfeições. Cada existência pode ser vista como uma etapa de travessia, em que enfrentamos "desertos" de provas ou "mares bravios" de expiações.

Assim como os hebreus guiados por Moisés, ou os jaredistas guiados pela luz das pedras, também nós recebemos recursos divinos para superar as dificuldades: a lei de Deus inscrita na consciência (q. 621, OLE), os Espíritos protetores (q. 489-495, OLE) e, sobretudo, a razão e o livre-arbítrio para escolher nossos caminhos.

As "pedras de luz" e a fé raciocinada

A imagem das pedras que brilham após o toque divino é particularmente sugestiva. No Espiritismo, a luz é símbolo do esclarecimento da razão e da fé raciocinada, que, segundo Kardec, é a única inabalável, porque pode encarar a razão em todas as épocas da humanidade (ESE, cap. XIX, item 7).

Enquanto na narrativa jaredista a luz é exterior, proveniente de um milagre, na Doutrina Espírita aprendemos que a luz está em nós mesmos, em potencial, aguardando apenas ser despertada pelo esforço do conhecimento e da prática do bem. Assim, cada ato de estudo, cada exercício de caridade e cada momento de reflexão sobre nossas imperfeições é como se fosse uma "pedra de luz" acesa em nossa consciência.

O vento que sopra rumo à Terra Prometida

Outro símbolo poderoso é o vento que, apesar das tempestades, sempre conduz as embarcações para a Terra Prometida. No Espiritismo, esse vento é a lei do progresso, que impele a humanidade, ainda que lentamente, para destinos mais elevados.

Kardec, na Revista Espírita (fev. 1863), afirma que "o progresso é lei da natureza; tudo nele se encadeia, e o homem, por mais que resista, é arrastado pela força irresistível da lei". Assim, ainda que nos sintamos, em certos momentos, virados pelas ondas da dor ou do desespero, a direção final é sempre para a frente e para o alto.

Essa ideia também se conecta ao papel das crises e das revoluções sociais. Em A Gênese (cap. XVIII), Kardec explica que os tempos de transformações são necessários para que novas fases da humanidade surjam, abrindo horizontes de renovação moral.

Conclusão

As histórias do Êxodo e dos jaredistas, interpretadas à luz da Doutrina Espírita, convidam-nos a perceber que todos estamos em constante travessia. Nossa "terra prometida" não é um território físico, mas sim o estado de maior pureza e felicidade espiritual, conquistado pelo trabalho perseverante na lei de amor e justiça.

As "pedras de luz" podem ser entendidas como o conhecimento espiritual que nos ilumina no meio da escuridão das incertezas. O "vento que sopra" é a lei do progresso, que nunca nos abandona e nos impele sempre à frente.

Confiemos, pois, na providência divina que guia nossos destinos, e lembremos que também podemos ser esse vento favorável na vida de nossos semelhantes, ajudando-os a avançar em suas próprias travessias.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. FEB.
  • KARDEC, Allan. A Gênese. FEB.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869). FEB.
  • MOMENTO ESPÍRITA. Pedras de Luz, Vento a Favor. Disponível em: <momento.com.br>.
  • REMEN, Rachel Naomi. As bênçãos do meu avô. Sextante.

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