segunda-feira, 25 de agosto de 2025

A QUESTÃO SOCIAL, O LIVRE-ARBÍTRIO
E A EVOLUÇÃO ESPIRITUAL
À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA
- A Era do Espírito -

Introdução

A sociedade contemporânea vive sob o predomínio do materialismo, estruturada em torno da lógica do mercado, do consumo e da concentração de riquezas. O homem, reduzido muitas vezes a mero instrumento de produção, perde de vista sua essência espiritual, alienando-se de si mesmo e do próximo. A luta incessante pelo poder e pela posse gera desigualdades, crises e sofrimentos, pois, como já advertia Allan Kardec, "o egoísmo é a chaga da humanidade" (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XI).

O texto em análise nos convida a refletir sobre o papel do livre-arbítrio e da responsabilidade moral na construção de uma sociedade mais justa e solidária. A Doutrina Espírita, em sua visão ampla e racional, ilumina os dilemas sociais e éticos do presente, apontando que o progresso material, embora necessário, deve estar subordinado ao progresso moral, para que o homem encontre sua verdadeira finalidade: o aperfeiçoamento do Espírito imortal.

O Materialismo e a Alienação do Ser Humano

A atual estrutura econômica, baseada no hedonismo e no consumismo, transforma o trabalho humano em mercadoria e coloca a riqueza acima da dignidade da vida. Este quadro se aproxima das análises feitas por Kardec na Revista Espírita (abril de 1866), quando advertiu que a sociedade colhe os frutos de suas próprias paixões desordenadas, e que os abusos das instituições humanas só podem gerar sofrimentos e crises, como lições corretivas da Lei Divina.

O materialismo, ao negar a vida espiritual, cria um vazio moral. O homem passa a buscar apenas o prazer imediato, como afirmado na filosofia hedonista, esquecendo-se de que a vida é apenas um capítulo da longa jornada evolutiva do Espírito. Kardec, em O Livro dos Espíritos, questão 943, ensina que “a causa do desgosto da vida, mesmo no seio da abundância, é a saciedade. Aquele que se baseia apenas nos bens materiais está condenado à eterna insatisfação.”

Livre-Arbítrio, Lei de Causa e Efeito e Responsabilidade Social

Apesar das influências sociais e externas, o Espírito conserva sempre a faculdade de discernir entre o bem e o mal. Na questão 544 de O Livro dos Espíritos, os Espíritos superiores afirmam que o homem pode sofrer sugestões exteriores, mas é livre para escolher o rumo de sua conduta, respondendo por suas ações perante a Lei de Causalidade.

Essa liberdade, contudo, não é absoluta, mas relativa ao grau de progresso espiritual de cada um. Assim, governantes, empresários, legisladores e dirigentes, ao utilizarem seu poder em favor do egoísmo, assumem graves responsabilidades espirituais, pois suas escolhas afetam a coletividade. Como diz a questão 780 da mesma obra, o progresso intelectual aumenta a responsabilidade do homem por seus atos, e se não for acompanhado do progresso moral, torna-se fonte de desigualdades e injustiças.

A Doutrina Espírita deixa claro que o livre-arbítrio não é apenas uma concessão individual, mas também um dever coletivo: nossas escolhas repercutem no equilíbrio social, e a solidariedade deve ser o princípio norteador da vida em sociedade.

O Orgulho e o Egoísmo: Obstáculos à Regeneração

Os Espíritos superiores identificam o orgulho e o egoísmo como as duas maiores chagas da humanidade (O Livro dos Espíritos, questão 785). Estes sentimentos, exacerbados pela cultura materialista, geram indiferença ao sofrimento alheio, desigualdade social e corrupção.

A sociedade hedonista e consumista, que privilegia a aparência e o poder, distancia-se da fraternidade, levando os homens a glorificar os vencedores, mesmo que desonestos, e a desprezar os vencidos, ainda que justos. Tal postura revela o quanto ainda nos encontramos na infância espiritual, guiados mais pelo instinto do que pela razão iluminada pela moralidade.

O Papel do Espiritismo na Transformação Social

O Espiritismo surge como luz a esclarecer a razão e o coração, relembrando ao homem sua condição de Espírito imortal e sua responsabilidade perante as leis divinas. Kardec, na Revista Espírita (dezembro de 1868), destaca que a transformação da sociedade só pode ser duradoura quando se fundamenta na regeneração moral do indivíduo.

A Doutrina Espírita propõe, portanto, uma ética racional e universal, baseada na lei de amor, como chave para superar o egoísmo e construir uma sociedade mais justa. Como ensina a questão 888-a de O Livro dos Espíritos: “Amai-vos uns aos outros, eis toda a lei. O amor é a lei de atração para os seres vivos e organizados, e a atração é a lei de amor para a matéria inorgânica.”

Conclusão

Vivemos tempos de transição, em que as estruturas sociais baseadas no egoísmo mostram sinais de falência. As dores e crises que testemunhamos são convites à renovação moral, ao despertar da consciência e à vivência do amor e da fraternidade.

O livre-arbítrio, exercido com responsabilidade, permite-nos optar entre a continuidade da alienação materialista ou a construção de uma nova civilização, fundada nos valores do Espírito. Como ensinou Jesus: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados” (Mateus 5:6).

A tarefa é árdua, mas é também o caminho para que a humanidade adentre, enfim, a era da regeneração.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).
  • MEIRA, Rubens. A questão social e o livre-arbítrio.
  • Obras subsidiárias e complementares da Doutrina Espírita.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

OS TRÊS CRIVOS DE SÓCRATES E A MORAL ESPÍRITA DA PALAVRA - A Era do Espírito –   Um homem procurou Sócrates para contar-lhe algo grave sob...