Introdução
Delphine
de Girardin, nascida Delphine Gay em 26 de janeiro de 1804, em Aix-La-Chapelle,
e desencarnada em 29 de junho de 1855 em Paris, foi uma figura marcante da
literatura e do jornalismo francês do século XIX. Poetisa, romancista,
dramaturga e jornalista, destacou-se pela sua presença nos salões literários da
época e pelo papel pioneiro como mulher de letras e cronista social, usando o
pseudônimo de Visconde de Launay.
Sua
vida e obra a colocaram em contato com nomes de grande influência cultural,
como Juliette Récamier e Victor Hugo. Do mesmo modo, não lhe foi estranho o
ambiente dos fenômenos das mesas girantes, que inquietavam e despertavam a
curiosidade dos intelectuais franceses da época. Neste contexto, teve contato
direto com Hippolyte Léon Denizard Rivail — o futuro Allan Kardec — e,
posteriormente, desempenhou papel importante ao estimular Victor Hugo a
participar de reuniões mediúnicas durante o seu exílio em Jersey.
Delphine de Girardin: vida e obra
Delphine
Gay iniciou sua carreira literária como poetisa, alcançando reconhecimento
ainda jovem e frequentando os célebres salões de Mme. Récamier. Em 1831,
casou-se com Émile de Girardin, jornalista e político francês, passando a
adotar o nome pelo qual se tornou mais conhecida.
Após o
casamento, estreou no jornalismo, escrevendo no La Presse entre 1836 e
1848, onde assinava sob o pseudônimo de Visconde de Launay as famosas Cartas
Parisienses, crônicas cheias de observações espirituosas sobre a sociedade
parisiense do reinado de Luís Filipe. Além disso, publicou romances, tragédias
e comédias, sendo reconhecida também por sua veia poética e pela inspiração que
muitos consideram de origem mediúnica.
O encontro com o professor Rivail
No
auge das manifestações das mesas girantes em Paris, Delphine de Girardin foi
uma das primeiras intelectuais a se convencer da realidade desses fenômenos. Inserida
no meio literário e espiritualista da época, é natural que tenha se encontrado
com Hippolyte Léon Denizard Rivail, o professor que investigava com rigor
científico tais manifestações e que mais tarde adotaria o pseudônimo de Allan
Kardec.
Embora
não se saiba em qual circunstância específica esse encontro ocorreu, tudo
indica que se deu em uma das reuniões que Rivail frequentava em suas pesquisas
iniciais. Delphine demonstrava não apenas curiosidade, mas sincera convicção
quanto à veracidade das manifestações, o que a aproximava das reflexões que
desembocariam na codificação da Doutrina Espírita.
Amizade com Victor Hugo e a experiência em Jersey
A
amizade entre Delphine de Girardin e Victor Hugo foi marcada pela fidelidade.
Quando, em 1851, o grande poeta francês foi obrigado ao exílio político após o
golpe de Luís Napoleão Bonaparte, Delphine manteve-se solidária. Mesmo doente,
acometida por um câncer, tomou a decisão de visitar os amigos em Jersey, onde
Hugo e sua família estavam refugiados.
Chegando
à ilha em setembro de 1853, ela trouxe notícias da França e relatou, com
entusiasmo, as experiências parisienses com as mesas girantes. Apesar das
tentativas anteriores sem resultado, Delphine incentivou e organizou novas
sessões na residência dos exilados. Após alguns dias de insistência, no dia 11
de setembro ocorreu a célebre comunicação de Léopoldine Hugo, filha do poeta,
falecida tragicamente em 1843.
Esse
episódio foi decisivo para que Victor Hugo passasse a se interessar, ainda que
inicialmente de forma cética, pelos fenômenos espirituais, vindo depois a
participar de diversas sessões de evocação em Jersey.
Delphine de Girardin no Espiritismo
Embora
tenha desencarnado em 1855, antes da publicação de O Livro dos Espíritos
(1857), o nome de Delphine de Girardin permaneceria ligado ao Espiritismo. No
capítulo V de O Evangelho Segundo o Espiritismo, item 24, encontra-se
uma mensagem assinada por seu Espírito, intitulada “A desgraça real”, na
qual demonstra a lucidez e a sensibilidade moral que já marcavam sua vida
terrena.
Conclusão
Delphine
de Girardin foi uma personalidade multifacetada, cuja influência ultrapassou os
limites da literatura e do jornalismo. Seu contato com o professor Rivail (Allan
Kardec) e sua amizade com Victor Hugo a colocam em posição relevante na
história do pensamento espiritualista do século XIX. Através de sua vida e de
sua palavra — tanto encarnada quanto desencarnada — deixou registros que
atravessam a literatura, o jornalismo e a própria história do Espiritismo
nascente.
Referências
- Mutigny, Jean de. Victor Hugo et le spiritisme.
- Enciclopédia Mirador Internacional, v. 11.
- Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB, várias edições.
- Dictionnaire de Biographie Française.
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