Introdução
A educação é um dos pilares fundamentais do
progresso espiritual da humanidade. Mais do que um simples processo de
transmissão de conhecimentos, ela é, à luz da Doutrina Espírita codificada por
Allan Kardec, um meio de transformação moral e de preparação do Espírito para
os desafios da vida em sociedade. No entanto, o ambiente escolar não está
isento das influências sociais, culturais e ideológicas que moldam a visão de
mundo dos indivíduos e das instituições.
Neste estudo, propõe-se uma reflexão doutrinária
sobre a relação entre ética educacional e ideologia política nas escolas,
considerando os princípios espíritas do livre-arbítrio, da liberdade de
consciência, da responsabilidade moral e da missão educativa. Parte-se do
entendimento de que a escola é um espaço de formação integral do ser, e que o
respeito à pluralidade de ideias e à autonomia intelectual é condição essencial
para uma educação eticamente comprometida com o progresso do Espírito.
1. Ética
educacional como instrumento de progresso moral
Segundo a Doutrina Espírita, o objetivo principal
da encarnação é o aperfeiçoamento moral do Espírito (LE, questão 132). A
educação, nesse sentido, vai além da instrução intelectual: ela deve promover
valores como justiça, respeito e solidariedade, condizentes com as leis
morais reveladas pelos Espíritos Superiores (LE, Livro III). Assim, a ética
educacional que visa formar cidadãos críticos e responsáveis está em
consonância com a educação moral do Espírito imortal.
“A educação, se bem compreendida, é a chave do
progresso moral.”
— Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, questão 685a.
2.
Ideologia política e sua influência nas escolhas humanas
A ideologia, no campo espírita, pode ser
compreendida como um reflexo das crenças e valores do Espírito encarnado,
influenciado por seu meio, suas experiências e o grau de adiantamento moral e
intelectual. Toda ideologia expressa uma visão de mundo, e por isso carrega
certo potencial de influenciar a educação — o que é natural e inevitável, desde
que não viole o princípio da liberdade de consciência (LE, questão 837).
O Espírito é livre para formar opiniões e adotar
princípios, mas essa liberdade deve ser respeitada e cultivada de maneira não-impositiva,
especialmente na educação, que deve abrir caminhos para o discernimento e não
moldar consciências em torno de um pensamento único.
3. A
educação como meio de emancipação moral e intelectual
A escola, sendo um espaço de formação do Espírito
encarnado, não deve doutrinar, mas despertar a consciência crítica.
O Espiritismo defende que o ser humano progride pela experiência, razão e
exercício da liberdade — e que o diálogo e o confronto respeitoso de ideias
são fundamentais nesse processo (O que é o Espiritismo, 2ª parte).
Assim, a educação deve estimular a reflexão, o
raciocínio moral, o desenvolvimento do livre-arbítrio e o senso de
responsabilidade — o que se harmoniza com a ideia de “educação ética e politicamente responsável”.
4.
Pluralidade de ideias e livre-arbítrio
Kardec foi enfático quanto ao valor da pluralidade
de opiniões e do exame racional das ideias. Ele propõe que tudo seja
submetido ao crivo da razão e da consciência. A imposição ideológica, seja de
qual tipo for, contraria os princípios da liberdade de pensamento e da educação
da consciência. O Espírito progride por meio de sua própria reflexão e
escolhas — por isso, ambientes educativos devem respeitar a diversidade de
visões e incentivar o livre pensar.
“Fé inabalável só o é a que pode encarar a razão
face a face, em todas as épocas da humanidade.”
— Allan Kardec, O Evangelho segundo o
Espiritismo, cap. XIX, item 7.
5.
Responsabilidade dos educadores e ética profissional
A Doutrina Espírita reconhece a missão nobre dos
educadores, especialmente como agentes do progresso coletivo. Os
professores, sob a perspectiva espírita, são instrumentos do progresso moral
e intelectual, e por isso, têm o dever de agir com imparcialidade, ética
e dedicação. Devem evitar o proselitismo ideológico, respeitando a autonomia
dos educandos e o direito das famílias.
“Todo aquele que contribui para o desenvolvimento
do bem, por palavras ou por atos, cumpre uma missão; e pode ter certeza de que
os seus esforços não ficarão esquecidos.”
— Revista Espírita, fevereiro de 1862.
6. A
formação para a cidadania e a lei de sociedade
O Espiritismo ensina que o ser humano é um ser
social por natureza (LE, questão 766), e que viver em sociedade é
condição para o seu desenvolvimento. A educação, portanto, deve preparar o Espírito
para o exercício da cidadania ativa, da convivência respeitosa e da responsabilidade
moral diante do bem comum.
Essa visão sustenta que a escola deve, sim, tratar
de temas sociais, políticos e éticos, mas com isenção ideológica,
promovendo o diálogo, a empatia, a análise crítica e o respeito às
diferentes crenças e culturas.
7.
Conclusão: Educação como campo de aprimoramento espiritual
A Doutrina Espírita vê a educação como um dos
pilares do progresso humano. Ela deve libertar o Espírito da
ignorância, despertando nele a consciência de sua dignidade, de sua
responsabilidade diante do próximo e do mundo.
Por isso, a relação entre ética educacional e
ideologia política só será saudável se orientada pelos princípios da liberdade,
do respeito mútuo, do pensamento crítico e da formação moral
— todos amplamente valorizados pela Doutrina Espírita.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon
Ribeiro. FEB – Federação Espírita Brasileira, 2023.
- KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. FEB, 2023.
- KARDEC, Allan. O que é o Espiritismo. FEB, 2022.
- KARDEC, Allan. Revista Espírita – Jornal de Estudos Psicológicos.
Fevereiro de 1862.
- DENIS, Léon. O Problema do Ser, do Destino e da Dor. FEB,
2021.
- PIRES, J. Herculano. Educação e Vivência Espírita. Edicel,
1992.
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