Introdução:
O Despertar de 2025 e a Urgência do Autoconhecimento
Vivemos num momento de intensas transformações
sociais, climáticas, tecnológicas e espirituais. Em meio a tantas incertezas e
rupturas de valores, o ser humano sente-se chamado a voltar-se para dentro de
si, em busca de um sentido mais profundo da existência. É nesse contexto que os
ensinos de Jesus ganham nova relevância — não como dogmas imutáveis, mas como
guias vivos para a renovação espiritual, tal como propõe a Doutrina Espírita
codificada por Allan Kardec.
Neste artigo, exploramos a famosa passagem evangélica
— “Ninguém vem ao Pai senão por mim”
(João 14:6) — sob a ótica espírita, compreendendo que a autoridade com que
Jesus se expressa não se trata de arrogância, mas da firmeza de um Espírito
puro que, por sua superioridade moral, nos aponta com clareza o único caminho
eficaz à evolução: a vivência integral do amor e da caridade.
1. A
Linguagem de Jesus e o Mal-Entendido do “Eu”
As palavras de Jesus, ao longo dos Evangelhos,
muitas vezes soam autorreferenciais. “Eu
sou o caminho...”, “Ninguém vem ao
Pai senão por mim...”. À primeira vista, tais expressões podem parecer
exclusivistas ou mesmo egocêntricas. Mas, como nos ensina a Doutrina Espírita,
devemos buscar o sentido profundo e moral das palavras, e não nos
deter apenas na sua forma literal.
A comunicação humana, em mundos como o nosso (ainda
marcados pelo ego), depende da linguagem articulada e dos pronomes pessoais. O
“eu” que Jesus emprega não é um “ego inflado”, mas sim a manifestação da
identidade espiritual pura e consciente de seu papel no plano divino. Ele
sabia quem era e para que viera. A transparência de sua alma permite
compreender que ali falava o amor em sua expressão mais elevada — e não o
orgulho.
2. Jesus:
Guia e Modelo da Humanidade
Kardec afirma n'O Evangelho Segundo o
Espiritismo (cap. XVII, item 2): “Jesus é para o homem o modelo da
perfeição moral que a Humanidade pode pretender sobre a Terra.” Quando
Jesus afirma que ninguém chega ao Pai senão por Ele, está afirmando, com
propriedade, que somente pela vivência dos seus ensinos — amor,
humildade, perdão, caridade, justiça — o ser humano conseguirá atingir sua meta
evolutiva.
A autoridade com que ele fala vem do mérito
moral e da consciência de sua missão. Em mundos onde a comunicação se dá
telepaticamente, como nos planos superiores, a verdade do ser é sentida, e não
há espaço para dissimulação. O Espírito puro é transparente. No entanto, aqui
na Terra, as palavras ainda geram interpretações equivocadas. Por isso, o
Espiritismo nos convida a ir além da letra e buscar a essência dos
ensinos evangélicos.
3. O Amor
como Força Universal e a Caridade como Ação do Amor
A Doutrina Espírita aprofunda a compreensão do amor
como força cósmica. Em O Livro dos Espíritos, questão 886, aprendemos
que a caridade é o amor em ação, e não apenas um sentimento. A
verdadeira caridade não se restringe à esmola material, mas é a manifestação
ativa do bem — na compreensão, no perdão, na escuta, no auxílio desinteressado.
Ao ensinar que fora da caridade não há salvação,
o Espiritismo aponta para a hierarquia universal do auxílio, destacada
por São Vicente de Paulo na questão 888a de O Livro dos Espíritos: todos
estamos posicionados entre um superior, que nos inspira e guia, e um inferior,
que aguarda nossa mão estendida. Essa rede de solidariedade é a malha viva
do progresso espiritual.
4. O Amor
que Organiza o Universo: Da Partícula ao Arcanjo
Kardec nos diz na questão 540 de O Livro dos
Espíritos que “tudo se encadeia no Universo”, desde a partícula mais
simples ao Espírito mais elevado. Essa cadeia é movida pelo amor como lei de
harmonia, que atrai os semelhantes e impulsiona os desiguais a progredirem
por meio da convivência, do aprendizado e da responsabilidade mútua.
O ensino de Jesus é universal, transcende
raças, culturas, religiões e épocas. Ele é o caminho porque viveu o que
ensinou, e nos mostrou que a verdadeira elevação espiritual exige renúncia
ao egoísmo e entrega consciente ao bem coletivo.
5.
Livre-Arbítrio, Sofrimento e o Caminho do Meio
A parábola do filho pródigo (Lucas 15) nos mostra
que até o erro pode ser um mestre, desde que dele se extraia aprendizado.
Porém, a Doutrina Espírita alerta que o sofrimento maior é o daquele que sabe
o bem que deve fazer e não o faz (questão 642 de O Livro dos Espíritos).
É o que Jesus denuncia na parábola dos talentos (Mateus 25): a omissão, o
comodismo, a neutralidade diante do mal, são obstáculos sérios à evolução.
O progresso é inevitável, mas o caminho depende da
nossa escolha: avançar com consciência, pela prática do bem, ou por meio da dor
e das consequências do egoísmo.
6. Fé
Raciocinada e Esperança Ativa
No início do capítulo 14 do Evangelho de João,
Jesus acalma os corações: “Não se turbe o vosso coração. Crede em Deus,
crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas.” Esta mensagem,
profundamente consoladora, encontra ressonância no princípio reencarnacionista
da Doutrina Espírita.
As múltiplas existências permitem que, a cada
novo renascimento, possamos refazer nossos caminhos, nos aproximando cada
vez mais da perfeição relativa que Jesus nos propôs: “Sede vós, pois,
perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial.” (Mateus 5:48).
O Espiritismo, ao nos oferecer uma fé raciocinada,
não exige crença cega, mas convicção construída pelo estudo, reflexão e
vivência ética.
Conclusão:
Caminhar com Jesus é Tornar-se um com a Lei de Amor
Dizer que “ninguém
vem ao Pai senão por mim” é declarar que somente pela vivência do amor
verdadeiro, em sua forma ativa — a caridade — é que nos aproximamos de Deus.
Jesus é o caminho porque viveu perfeitamente essa Lei, e por isso pode
indicar com segurança aos que ainda tateiam na escuridão.
Seja qual for a crença, a cultura ou o tempo
histórico, todo Espírito que desejar elevar-se há de passar pela vivência da
lei de amor e de justiça, pois é isso que nos aproxima do Criador.
A tarefa que se nos impõe hoje, em pleno século
XXI, é a da conversão consciente do ego em serviço, da teoria em
prática, do amor em ação. Somente assim, ao final de nossa longa jornada,
também poderemos repetir com humildade e firmeza: “Eu sou o caminho…”, pois seremos o reflexo fiel da luz que um dia
nos guiou.
Referências:
- Allan Kardec – O Livro dos Espíritos
- Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo
- Allan Kardec – A Gênese
- Bíblia Sagrada – Evangelhos de Mateus, João, Lucas e Epístolas
- São Vicente de Paulo – Comentário na questão 888a, O Livro dos
Espíritos
- Parábolas de Jesus – Evangelhos Sinópticos
- Capítulo XIV do Evangelho de João – leitura completa recomendada
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