segunda-feira, 11 de agosto de 2025

O EQUILÍBRIO ENTRE SEVERIDADE E PACIÊNCIA PERSEVERANTE À LUZ DO ESPIRITISMO
- A Era do Espírito -
 

“Sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito.”
(Mateus 5:48)

O chamado de Jesus à perfeição não é uma exigência imediata de impecabilidade, mas um convite à constante evolução moral. Trata-se de um norte seguro, que nos impulsiona ao aprimoramento diário, onde cada gesto, palavra e pensamento se alinham com a Lei de Amor, Justiça e Caridade.

Um dos desafios mais sutis desse caminho é compreender o ponto de equilíbrio entre a severidade que corrige e a paciência perseverante que educa. Allan Kardec, ao tratar do homem de bem, apresenta um retrato desse equilíbrio: firme na justiça, mas sempre guiado pela caridade; vigilante contra o mal, mas indulgente para com as fraquezas humanas.

A lição da porcelana do rei

A narrativa de Malba Tahan, A Porcelana do Rei, ilustra com simplicidade oriental essa verdade:

Confúcio ensina que a alma do povo é como um delicado vaso de porcelana, e a justiça do governante é como a água. Água fervente (severidade extrema) ou água gelada (benevolência excessiva) quebrariam a porcelana. A mistura equilibrada preserva o vaso e cumpre sua função.

Assim também no trato humano: a rigidez sem amor fere; a tolerância sem firmeza corrompe. O educador, o magistrado, o pai de família e o discípulo do Evangelho devem saber dosar disciplina e compreensão.

Severidade: quando é necessária?

A severidade, no sentido evangélico, não é dureza de coração nem prazer em punir. É a firmeza que se alicerça na verdade e no dever. Jesus foi severo ao denunciar a hipocrisia dos fariseus e ao expulsar os vendilhões do templo — mas essa severidade não brotava do ódio, e sim do zelo pelo bem coletivo.

Emmanuel, no livro Religião dos Espíritos, alerta que censurar de modo impensado é como misturar fel à comida destinada a quem se quer servir. A correção justa exige intenção pura, visando o benefício real do outro.

Paciência perseverante: a constância que constrói

A paciência perseverante é a capacidade de suportar com firmeza as imperfeições alheias, sem desistir do bem. É paciência com objetivo: não passividade, mas persistência na educação e no auxílio. Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, destaca que o homem de bem é indulgente porque sabe que também necessita de indulgência. Ele não se compraz em expor defeitos; se a necessidade o obriga, procura sempre atenuar o mal com o bem.

O apóstolo Paulo, em sua carta aos Gálatas, lembra: “Se alguém for surpreendido em alguma falta, vós que sois espirituais, corrigi-o com espírito de mansidão” (Gl 6,1). Essa paciência perseverante corrige sem humilhar e educa sem destruir.

A falsa oposição

Severidade e paciência perseverante não são forças contrárias, mas complementares. Kardec, em O Livro dos Espíritos (q. 903), orienta que antes de censurar defeitos alheios devemos cultivar as qualidades opostas em nós mesmos. Assim, evitamos o risco da crítica hipócrita e fortalecemos nossa autoridade moral.

O discípulo maduro sabe quando ser firme e quando ser paciente — e muitas vezes a verdadeira firmeza se manifesta na paciência que não desiste.

O caminho da perfeição cristã

Alcançar o ideal de Mateus 5:48 - sede perfeitos - implica desenvolver essa arte de equilibrar a justiça que corrige e o amor que compreende. Não é tarefa que se cumpra de um dia para o outro; é um exercício constante de vigilância sobre si mesmo, como ensina Kardec: perguntar diariamente se não violamos a lei de amor e se aproveitamos todas as ocasiões de fazer o bem.

A perfeição de que fala Jesus não é fria exatidão legalista, mas harmonia plena de atributos divinos refletidos na criatura. Deus é ao mesmo tempo justo e misericordioso; cabe a nós espelharmos, em nossas medidas humanas, esse equilíbrio.

Conclusão

A severidade sem amor é tirania; a paciência perseverante sem justiça é conivência.

A perfeição a que somos chamados requer que severidade e paciência perseverante se fundam em um só movimento de amor responsável. É o “misturar as águas” de Confúcio: corrigir o mal sem esmagar, e educar o bem sem enfraquecer.

Quando nossas ações forem pautadas por essa medida — como vasos que recebem a água na temperatura certa —, estaremos mais próximos do modelo de perfeição que o Cristo nos propôs.

Referências

  • Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB, 2003. Capítulo “O Homem de Bem”.
  • Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB, 2003. Questão 903.
  • Emmanuel / Francisco Cândido Xavier. Religião dos Espíritos. FEB, 2010.
  • Tahan, Malba. Pérolas Literárias: A Porcelana do Rei. Editora Melhoramentos.
  • Bíblia Sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida / Bíblia de Jerusalém. Carta aos Gálatas 6:1.
  • Bíblia Sagrada. Evangelho segundo Mateus 5:48.

 

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